PCC retoma hábito de matar às segundas
O retorno da "segunda sem lei" nas penitenciárias paulistas reaviva a era de medo e violência, com execuções sumárias ordenadas pelo PCC
Durante os anos 2000, a segunda-feira foi um dia temido nas prisões de São Paulo. O Primeiro Comando da Capital (PCC) instituía o que ficou conhecido como “segunda sem lei”, uma data destinada à execução de rivais. A violência extrema marcou esse período, com presos sendo brutalmente assassinados com dezenas de facadas.
A liderança do PCC organizava esses ataques durante o fim de semana, realizando cobranças e julgamentos internos, culminando na execução na segunda-feira. Os mandantes raramente eram identificados, pois outros detentos, conhecidos como “soldados” do PCC, assumiam a responsabilidade em troca de proteção e prestígio dentro da organização criminosa.
Em 2003, após a expulsão dos fundadores José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, a prática foi suspensa. Os dois líderes foram acusados de traição e transferidos para prisões de segurança máxima, destinadas a condenados por crimes sexuais, escapando assim da morte.
Novo ciclo de terror do PCC
De acordo com veteranos do sistema prisional, o isolamento dos líderes do PCC em presídios federais deixou as cadeias de São Paulo superlotadas e sem comando claro. Essa situação criou um ambiente volátil, e a facção criminosa vem reavivando a prática da “segunda sem lei”, informou reportagem do portal Uol.
Agentes penitenciários, sob condição de anonimato, relataram que Janeferson Aparecido Mariano Gomes, o Nefo, e Reginaldo Oliveira de Sousa, o Ré, ambos de 48 anos, foram assassinados sob ordens da cúpula do PCC.
Os homicídios ocorreram na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, um dos principais redutos da facção, em 17 de junho deste ano, uma segunda-feira. As execuções foram realizadas durante o banho de sol no pavilhão 1 da unidade, com as vítimas recebendo múltiplas facadas no pescoço e abdômen.
Acusados de planejar sequestro de Sergio Moro
Nefo e Ré estavam presos desde março de 2023, acusados de planejar os sequestros do senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) e do promotor de Justiça Lincoln Gakiya, de Presidente Prudente (SP). As autoridades acreditam que as execuções foram ordenadas pelo PCC como represália.
Os agentes penitenciários acreditam que o “salve”, ou recado para matar os dois detentos, chegou ao presídio durante o fim de semana anterior às mortes, possivelmente através de visitas. Contudo, as investigações da Polícia Civil ainda não identificaram os responsáveis por dar a ordem.
O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) denunciou quatro presos pelo duplo homicídio: Luís Fernando Baron Versalli, 53, o Barão; Ronaldo Arquimedes Marinho, 53, o Saponga; Jaime Paulino de Oliveira, 46, o Japonês; e Elidan Silva Ceu, 45, o Taliban.
Enquanto três detentos rezavam no pátio do pavilhão 1, os quatro acusados atraíram as vítimas para a morte. A Polícia Civil apreendeu dois vídeos das câmeras de segurança que registraram os assassinatos.
Ecos do passado nas prisões paulistas
Essas cenas de violência são remanescentes do que ocorria na antiga Casa de Detenção e Penitenciária do Estado, no Carandiru, zona norte de São Paulo.
Esses presídios foram palco de centenas de assassinatos durante a “segunda sem lei”, marcando uma era de brutalidade que parecia ter sido superada, mas que agora ameaça retornar com força.
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