Advogada de Flávio sobre presença de Bolsonaro na reunião gravada: “Não sabia”
Bierrenbach, que representava o senador Flávio Bolsonaro no caso das rachadinhas, se disse "espantada" quando entrou na sala
A advogada Juliana Bierrenbach, que participou da reunião de agosto de 2020 com Jair Bolsonaro gravada pelo então-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandro Ramagem, afirmou nesta quarta-feira, 17 de julho, que não esperava a presença de nenhum dos dois naquele dia.
Em entrevista ao Estado de S. Paulo, Bierrenbach, que representava o senador Flávio Bolsonaro no caso das rachadinhas, se disse “espantada” quando entrou na sala do Palácio do Planalto para a reunião.
“Era o presidente, eu não tinha a menor ideia. Na verdade eu fiquei surpresa tanto com a presença do presidente quanto do Ramagem. Eu achei que fosse o general Heleno. Eu achei que fosse com o general e com o assessor dele. Não tinha ideia que haveria mais gente”, disse a advogada.
Ela esperava se reunir apenas com o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela guarda presidencial, general Augusto Heleno, porque o argumento que a defesa de Flávio preparava era de que o senador, como filho do presidente, também deveria ser protegido pelo órgão.
“Eu fiquei espantada quando eu vi [Bolsonaro]. É claro, eu estou indo encontrar um ministro [general Heleno] e aí acabo encontrando o presidente da República e o chefe da Abin. Eu fiquei espantada quando eu os vi. Agora, eu não sei o que eles estavam fazendo lá. Eles trabalhavam muito próximos. Eu percebi isso bem depois, por conta das gravações do 8 de Janeiro. Aí eu percebi o quão próxima é a sala do presidente da sala do GSI. Eles trabalhavam muito próximos, então, não consigo ver isso como uma ilegalidade”, disse Bierrenbach
“O que pode ser questionado é: por que o GSI? Por que foi determinado que se protocolaria no GSI? Eu acho que deveria ter sido na Receita, inicialmente, mas por que a reunião foi no GSI? Por que o pedido de outras pessoas, de modo geral, não poderiam ser protocolados no GSI? O GSI prevê uma espécie de proteção para a família do presidente da República, para qualquer presidente da República, o GSI cuida da segurança institucional. A fundamentação da peça que eu levei para lá falava sobre isso, o fato de ele (Flávio) ser filho do presidente e estar sendo atacado”, acrescentou.
Tráfico de influência
O então-presidente Jair Bolsonaro (PL; foto) relativizou o crime de tráfico de influência em reunião com advogados sobre blindar seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), de denúncias sobre rachadinha.
Segundo a PF, a gravação foi feita pelo hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), então diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
O material foi liberado ao público nesta segunda-feira, 15 de julho, pelo ministro Alexandre de Moraes (foto), do Supremo Tribunal Federal (STF), como parte dos autos do inquérito da Abin paralela.
“Ninguém gosta de tráfico de influência. A gente quer fazer justiça”, disse Bolsonaro às advogadas Luciana Pires e Juliana Bierrenbach, representantes de Flávio.
Embora o relatório tenha colocado a última palavra da frase do ex-presidente como “inaudível”, a palavra “justiça” é audível no arquivo de áudio.
Também participaram da reunião Ramagem e o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
Leia também: “Havia conhecimento de Bolsonaro”, diz Ramagem sobre gravação
O que mais disse Bolsonaro?
Bolsonaro também se ofereceu para conversar com o as autoridades da Receita Federal e da Previdência responsáveis pelas investigações sobre o 01.
Durante a conversa, são citados os nomes de José Tostes, ex-secretário da Receita e então chefe da estatal de processamento de dados do governo, Serpro, e de Gustavo Canuto, ex-ministro de Bolsonaro e que foi transferido para a Dataprev, estatal de processamento de dados da Previdência.
Após Pires sugerir que “em tese, com um clique você consegue saber se um funcionário da Receita [inaudivel] esses acessos lá”, Heleno disse que “ele [provavelmente Gustavo Canuto, ex-ministro de Bolsonaro e que cuidava da Dataprev, de processamento de dados] tem que manter esse troço fechadíssimo” e que a operação deveria “pegar de gente de confiança dele. Se vazar [inaudível].”
É quando Bolsonaro assevera. “Tá certo. E, deixar bem claro, a gente nunca sabe se alguém tá gravando alguma coisa. Que não estamos procurando favorecimento de ninguém.“
Ele não falava daquele momento presente — mas era justamente ali que ele estava sendo gravado pelo presidente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. O áudio, descoberto por policiais federais, teve seu sigilo levantado há pouco pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente e seu núcleo mais próximo de atuação virtual —chamado de “Gabinete do Ódio”— são acusados pela Polícia Federal de ter utilizado a máquina estatal de inteligência em benefício próprio, criando uma espécie de “Abin Paralela” dentro da máquina pública. A denúncia já existia desde o início do governo, (o ex-secretário Gustavo Bebbiano, próximo a Bolsonaro, indicou essa possibilidade em uma entrevista ao Roda Viva, em 2020), mas agora ganha provas robustas, como a gravação que coloca Jair Bolsonaro como alguém interessado em usar da Receita Federal e da Abin para defender as acusações do seu filho.
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