Washington Post chama de “extrema esquerda” partido de Mélenchon
“A Nova Frente Popular foi uma aliança de última hora nascida da necessidade percebida, reunindo dois partidos moderados de esquerda - o centro-esquerdista Partido Socialista e o Partido Verde - e dois movimentos de extrema-esquerda - A França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon e o Partido Comunista”, diz o jornal americano
A imprensa brasileira, que reproduz os vícios da ala da imprensa americana alinhada ao Partido Democrata, assim como das agências internacionais de notícias pautadas pela esquerda global, deveria considerar o uso da expressão “extrema-esquerda” em referência ao partido de Jean-Luc Mélenchon, A França Insubmissa, já que até o Washington Post o considera como tal.
Se toda direita no mundo virou “extrema-direita” ou “ultradireita” para a imprensa brasileira, distinguir ao menos dois movimentos extremistas dentro da Nova Frente Popular, a vitoriosa aliança esquerdista na França, como faz o Washington Post, seria o mínimo.
“A Nova Frente Popular foi uma aliança de décima primeira hora [expressão de origem bíblica que indica o último momento possível antes de ser tarde demais; equivalente aos ‘45 minutos do segundo tempo’], nascida da necessidade percebida, reunindo dois partidos moderados de esquerda – o centro-esquerdista Partido Socialista e o Partido Verde – e dois movimentos de extrema-esquerda – A França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon e o Partido Comunista”, diz o jornal americano, em matéria assinada por Rick Noack and Annabelle Timsit.
A matéria traz ainda algumas informações sobre o que esperar dessa coligação de esquerda que emergiu como a surpreendente vencedora após o segundo e decisivo turno de votação nas eleições legislativas na França que ocorreram neste domingo, 7 de julho.
“A aliança quer reduzir a idade da aposentadoria, que Macron aumentou no ano passado, e expandir enormemente os gastos do governo em assistência social, proteção ambiental e cuidados de saúde”, diz o jornal.
Macron subestimou a esquerda?
O presente francês Emmanuel Macron convocou eleições antecipadas no mês passado, depois que a sua coligação foi derrotada pelo Rassemblement Nacional (RN) nas eleições parlamentares europeias. A aposta de Macron era que a possibilidade de um governo considerado de extrema-direita pressionaria os eleitores franceses a reafirmarem o seu apoio ao agrupamento centrista liderado por ele.
Segundo o Washington Post, embora Macron pareça ter acertado que os franceses rejeitariam por fim, o partido de Marine Le Pen, “ele aparentemente subestimou o apelo da esquerda”.
O jornal aponta ainda que, embora tenha dito, em diversas ocasiões durante o começo da campanha, que a extrema esquerda é tão perigosa quanto a extrema direita, especialmente a França Insubmissa, e, embora tenha alegado, no mês passado, que a aliança inclui de esquerda incluia partidos que propagam o antissemitismo, “alguns eleitores disseram ao Washington Post antes do segundo turno que foi a retórica alarmista de Macron sobre a esquerda que os reuniu para apoiar a Nova Frente Popular”.
“Nos distritos onde os candidatos de Le Pen obtiveram uma vitória estreita, a aliança esquerdista e a coligação centrista de Macron combinaram esforços, encorajando os candidatos mais fracos a desistirem das urnas”. Foi essa movimentação política que fez com que o RN passasse da primeira colocação no primeiro turno, para a terceira colocação no segundo.
Impasse político na França
Embora a Nova Frente Popular tenha saído vencedora, não garantiu uma maioria parlamentar. Sem nenhuma coligação com maioria absoluta, “a França poderá caminhar para um impasse político faltando apenas algumas semanas para que Paris seja a sede dos Jogos Olímpicos”.
Após as primeiras projeções no domingo, Mélenchon, a lidernaça mais conhecida e radical da aliança de esquerda, instou a Macron para convidar o seu bloco a formar um governo:
“O presidente deve curvar-se e admitir esta derrota sem tentar contorná-la”, disse Mélenchon. “Nenhum subterfúgio, acordo ou combinação seria aceitável”, acrescentou.
Até mesmo na coligação de esquerda, alguns consideram Mélenchon demasiado radical. Formado com a intenção expressa de derrotar Le Pen, resta saber se os membros da aliança esquerdista conseguirão encobrir as suas diferenças e apresentar uma frente unida, sem o radical considerado por uns como “obstáculo” e por outros como a liderança natural da esquerda.
Quem é Jean-Luc Mélenchon ?
Jean-Luc Mélenchon nasceu em Tânger, Marrocos, em 1951. Seu pai era carteiro e sua mãe trabalhava como professora. Aos 11 anos, mudou-se para França após o divórcio dos pais. Em 1969 (período de agitação estudantil), mudou-se para Besançon para estudar Filosofia. Durante estes anos, distinguiu-se como ativista da esquerda revolucionária universitária, juntando-se à Unef, sindicato estudantil protagonista de Maio de 68, e posteriormente à Oci (Organização Comunista Internacionalista), grupo trotskista.
Mélenchon foi revisor de textos, frentista, professor de francês e jornalista. Na política, iniciou sua carreira no Partido Socialista em 1976. Estava ligado ao Presidente da República François Mitterrand.
Em 1986, aos 37 anos, tornou-se senador. Por suas posições radicais, ele entrou em confronto com os mais moderados François Hollande e Ségolène Royal. A separação dos socialistas ocorreu em 2009, quando Mélenchon fundou o Partido de Esquerda. Em 2012, concorreu às eleições presidenciais, obtendo 11% dos votos e ficando em quarto lugar na corrida ao Eliseu. Cinco anos depois, ele tentou a sorte novamente. Com o movimento La France insoumise, fundado especialmente para apoiar sua candidatura, alcançou o quarto lugar com 19,5%.
Em 2018, durante uma busca policial na sede do La France insoumise, Mélenchon reagiu veementemente contra os agentes, gritando “La République, c’est moi!”. A situação beirava uma briga e o seu acesso de raiva valeu-lhe uma pena de três meses de prisão e uma multa de 8.000 euros.
Graças ao grande apoio dos jovens com menos de 35 anos, atraídos pelas suas propostas sobre pensões, salário mínimo e impostos, Mélenchon ficou perto de um segundo turno em 2022, obtendo 21,9%, ou pouco mais de um ponto percentual a menos que Marine Le Pen, que atingiu 23,4%.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)