Tribunal de Paris anula boicote anti-Israel em feira mundial de defesa
Medidas contra empresas israelenses na Eurasatory 2024 foram consideradas discriminatórias, graves e criminalmente condenáveis
O Tribunal de Comércio de Paris ordenou à Coges Events nesta terça-feira, 18 de junho, “que suspenda a execução das medidas adotadas contra empresas israelenses cujos stands foram proibidos na exposição EUROSATORY 2024”, realizada entre os dias 17 e 21 no centro de exposições Paris Nord Villepinte, na França.
Subsidiária da GICAT (Associação Francesa da Indústria de Defesa e Segurança) e membro do CIDEF (Conselho Francês de Indústrias de Defesa), a Coges é a responsável pela feira mundial de defesa e segurança, que reúne a cada dois anos mais de 100.000 profissionais atuantes no gerenciamento de crises: empresas, governos, militares, instituições e órgãos privados, além de organizações supranacionais.
O Brasil comparece à edição deste ano com 14 empresas, sendo três em espaços individuais (Mac Jee, Taurus e CBC) e 11 reunidas em espaço organizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE), junto com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), com o apoio do Ministério da Defesa e do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
O que diz o tribunal francês?
Segundo a decisão assinada pelo presidente do tribunal parisiense, Patrick Sayer, “as medidas implementadas pela COGES a partir de 31 de maio de 2004 constituem discriminação, conforme definido no artigo 225-1 do Código Penal” francês, sendo, portanto, “graves e criminalmente condenáveis”.
“Além disso, estas medidas consistem em recusar a prestação de um serviço a pessoas discriminadas e em dificultar o exercício normal da sua atividade econômica.”
Yonathan Arfi, presidente do CRIF (Conselho Representativo das Instituições Judaicas na França), apontou na segunda-feira, 17, “o papel da vergonha”:
“Desde a abertura da exposição Eurosatory nesta manhã, os únicos visitantes israelenses, ou que representam uma empresa israelense, são obrigados a assinar uma declaração para entrar, afirmando que não trabalham para uma empresa de defesa israelense.
Já não se trata apenas de proibir a participação de empresas israelenses, uma decisão de boicote já escandalosa, mas de estigmatizar e colocar os próprios israelenses numa lista negra! Discriminação obscena.
Duas decisões judiciais deverão ser proferidas amanhã [hoje, 18] de manhã. A Justiça deve ter a coragem e a clarividência para condenar estas práticas vergonhosas e indignas da França!”
Pedido de desculpas
A conta oficial da Eurosatory pediu desculpas, ao comentar a postagem de Yonathan Arfi:
“Este formulário é uma iniciativa muito infeliz, decidida com urgência devido à decisão judicial de 14 de junho.
A COGES pede desculpas e lembra que recorreu da decisão do tribunal de Bobigny.”
Em nota divulgada no final de maio, o Ministério das Forças Armadas da França alegou que “as condições não estão mais reunidas para receber empresas israelenses no salão francês, em um contexto em que o presidente da República [Emmanuel Macron] faz apelos para que as operações israelenses cessem em Rafah”.
Na sexta-feira, 14, um grupo de ONGs obteve decisão do tribunal de Bobigny, na periferia de Paris, proibindo a entrada de todos os representantes e intermediários de Israel, além dos expositores do país já excluídos. Um total de 74 empresas israelenses deveriam participar.
CRIF comemora anulação do boicote
A conta oficial do CRIF, entre tantas outras que combatem o antissemitismo, comemorou a anulação do boicote anti-Israel nesta terça, 18.
“Vitória contra a exclusão de Israel da Eurosatory!
O CRIF saúda a decisão do Tribunal Comercial de Paris que anula a proibição de exposição para empresas israelenses.
A razão recupera seus direitos.”
A edição de 2024 da Eurosatory registra um recorde de participação, com mais de 2.000 expositores e 270 delegações oficiais.
Desde a invasão da Ucrânia pelas tropas russas de Vladmir Putin em fevereiro de 2022, muitos países, sobretudo na Europa, notaram a importância de aprimorar seu estoque de armas para lidar com uma eventual situação de guerra.
A Rússia segue banida do evento.
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