A política rasteira de Guilherme Boulos
Se o deputado mentiu e fez vista grossa ao erro no Conselho de Ética da Câmara, por que faria melhor na prefeitura de São Paulo?
Se algum paulistano ainda precisava de motivos para não votar em Guilherme Boulos (Psol-SP) na eleição para prefeito da cidade, ganhou-os nesta quarta-feira, 5.
Boulos foi relator do processo de seu colega esquerdista André Janones (Avante-MG) na Comissão da Enganação da Câmara – os deputados a chamam de Comissão de Ética, numa afronta ao sentido das palavras.
Janones foi gravado comunicando ao pessoal recém-contratado de seu gabinete que teriam de lhe entregar uma parte de seus salários, para ajudá-lo a “recompor o patrimônio”.
Em outras palavras, ele avisava sua turma que pretendia implementar um esquema de rachadinha.
Escarro na ética
Boulos recorreu a uma mentira para salvar Janones. Disse que ele ainda não havia tomado posse no cargo quando a conversa aconteceu. Na própria gravação, contudo, Janones menciona o fato de que, enquanto aquela conversa imoral acontecia, outros deputados já estavam protocolando projetos na Câmara. A legislatura, portanto, já estava em andamento.
O episódio não é grave apenas porque Boulos falsificou a verdade para ajudar um parceiro. É grave em dobro porque ele liderava o processo naquela comissão. Como ninguém trabalha para ser derrotado de maneira acachapante na hora da votação, é preciso concluir que ele articulou com seus colegas para que aprovassem o seu parecer. E assim foi: placar final com 12 votos favoráveis a Janones, conforme o relatório de Boulos, e apenas 5 contrários.
Se Boulos escarrou na ética com tanta sem-cerimônia na sua primeira experiência de maior relevo na Câmara – ele está em seu primeiro mandato –, por que imaginar que seus padrões de conduta serão melhores à frente da prefeitura de São Paulo, caso se eleja?
Por que supor que ele não vá fazer vista grossa aos “desvios” da companheirada, que não vá ser cooptado pelos esquemas mais rasteiros?
Neste episódio, ele deu um sinal claro: mostrou que não está nem aí para a coisa pública.
Rachadinha não é coisa pouca
Antes de encerrar, cabe dizer que rachadinha não é coisa pouca, ao contrário do que afirmam Janones e a família Bolsonaro – opostos na ideologia, coincidentes na picaretagem.
Janones queria o dinheiro da sua trupe de assessores por ter financiado o seu projeto político com a venda de bens próprios, segundo alegou. Com a vitória nas eleições para a Câmara dos Deputados, havia chegado o momento de reequilibrar as contas. Nada mais justo que os contratados, que de outra forma não estariam ali, o ajudassem com fatias do salário.
O raciocínio é de uma indigência moral absoluta. A excelência entrou para a política porque quis. Arriscou seu patrimônio porque quis nessa empreitada. Foram escolhas pessoais.
Assessores parlamentares servem – ou deveriam servir – ao deputado federal e não ao indivíduo Fulano de Tal. Eles estão lá para ajudá-lo a redigir leis, atuar em comissões, discursar e votar no plenário. É para isso que os cidadãos arcam com os seus salários – de forma nenhuma para ajudar o deputado que os contratou a enriquecer.
É preciso lembrar
A gravação de Janones mostra que ele entende perfeitamente bem essa lógica. Ele diz que se tivesse selecionado ajudantes experientes, poderia estar apresentando projetos desde a primeira hora, como faziam outros colegas. Mas ele havia contratado gente próxima e sem as competências necessárias – não para fazer da melhor forma o trabalho de deputado federal, mas para poder embolsar uma parte dos vencimentos.
Janones é uma vergonha. Boulos é uma vergonha por ter liderado mais esse espetáculo na Comissão da Enganação da Câmara dos Deputados. Que o episódio seja lembrado na sua campanha em São Paulo.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)