A fake news de Luiz Marinho
Ministro do Trabalho briga com os fatos para transformar o presidente do Banco Central em inimigo do povo
Luiz Marinho (com o microfone, na foto) costuma ser chamado de “polêmico“, mas essa é uma palavra muito amena para descrever o ministro do Trabalho do governo Lula.
Para começar, Marinho é um reacionário. Quer ressuscitar à força o mundo dos sindicatos todo-poderosos em que construiu sua carreira política, nos anos 1990.
Pouco importa para ele que trabalhadores mais jovens, que enxergam vantagens nas relações de emprego flexíveis surgidas com os aplicativos do mundo digital, não queiram viver sob a tutela de uma elite sindical. O ministro acredita que é preciso enquadrar o século 21 na lógica da década de 1940, quando a CLT foi criada.
Desinformação
O ministro também tem o péssimo hábito de propagar desinformação, tentando transformar aqueles de quem discorda em inimigos do povo. Um de seus alvos preferidos é o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Nesta quarta-feira, 1, Marinho participou do evento do Dia do Trabalho do governo. No palanque, diante de uma plateia de sindicalistas, ele criticou uma declaração de Campos Neto, que relacionou inflação e pleno emprego.
“Eles vêm com a balela de que geração de empregos, crescimento de empregos e crescimento de salário é bom, mas tem problemas porque pode gerar inflação”, disse.
Segundo o ministro, é preciso “acabar com a visão equivocada dos especialistas do mercado”.
Pleno emprego e inflação
Marinho cultiva um estilo bronco e rude, mas com certeza está ciente que o raciocínio de Campos Neto não tem nada a ver com os “especialistas do mercado” ou seus interesses. E nem sequer com a ideia de que geração de empregos e crescimento de salários são causadores de inflação em quaisquer circunstâncias.
O presidente do BC fez referência a algo que vem sendo estudado desde a década de 1950 e integra o senso comum dos economistas, inclusive os de esquerda: quando todos aqueles que procuram trabalho o encontram com facilidade – configurando uma situação de pleno emprego –, surge o risco de um aumento da inflação.
É só isso. Mencionar a existência dessa correlação não significa rezar pelo aumento do desemprego, mas chamar atenção para um fenômeno verificado ao longo da história. É melhor conhecê-lo que fechar o olhos.
Espalhando ignorância
Aliás, as próprias declarações de Campos Neto não deixam margem para a interpretação enviesada de Marinho.
“O BC adora quando temos um regime de emprego pleno, quando todo mundo que está procurando trabalho encontra, que é nossa situação atual, que melhorou muito e foi uma grande surpresa”, disse o presidente do BC numa entrevista nesta terça, 30. “A preocupação vem quando as empresas não conseguem contratar e você tem que começar a subir o salário. Se você sobe o salário para o mesmo nível de produção, isso significa que você está iniciando um processo inflacionário.”
Marinho está querendo espalhar ignorância. Nada de bom vem daí.
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