Guilherme Boulos está num momento desafiador em sua pré-candidatura à prefeitura de São Paulo. Pode decolar ou pode virar uma espécie de Celso Russomanno, aquele que começa bem e vai minguando à medida em que abre a boca. O prefeito Ricardo Nunes, com a máquina na mão, já ameaça o favoritismo.
O deputado precisa virar o jogo, expandir o eleitorado. Eis que, o movimento que o fez conhecido, o MTST, resolve dar uma “ajuda”. Postam uma charge com Jesus crucificado em plena Sexta-Feira da Paixão.
Era uma postagem daquelas infantilóides. Os algozes de Jesus diziam “bandido bom é bandido morto”. Para os inteligentinhos, deve ser uma sacada sensacional. Eles têm, afinal, a complexidade intelectual de uma propaganda do Dollynho. É óbvio que os religiosos iriam implicar, afinal foi usado um símbolo religioso num dia sagrado para fazer intriga política. Ainda por cima malfeita.
Estivéssemos lidando com pessoas que já ouviram um “não” na vida, compreenderiam nos primeiros minutos que isso não ajuda a campanha de Boulos. Mas resolveram dobrar a meta. O perfil do MTST começou a postar versículos do Evangelho como se estivesse explicando a quem não gostou.
Arrogância é bicho que come o dono. O social media não cogitou que ele é quem não entendeu a profundidade da data, claro. Afinal, ele é muito esperto. O resto do mundo é que é burro. Chegaram a postar um vídeo de um padre falando da condenação de Jesus, para explicar aos crentes porque a piada meia boca era legal.
Obviamente os rivais deitaram e rolaram em cima do impulso suicida da candidatura. Poderiam ter reconhecido que a postagem foi infeliz? Claro, mas não fizeram. Guilherme Boulos resolveu entrar em cena com uma linguagem carregada acusando o atual prefeito de promover pânico moral e fake news.
Foi a senha para que a militância mais agressiva dele resolvesse partir para cima de tudo quanto é cristão em plena Semana Santa, a data mais sagrada para os religiosos. Eu, por exemplo, fiz um post que dizia apenas “Feliz Páscoa”. Um perfil que promove a candidatura Boulos respondeu: “Que nunca mais aconteça uma ditadura onde um Ulstra enfie ratos vazios na tua vagina ou anus na frente de teu filho” (sic).
Influencers que apóiam o candidato se reuniram para ridicularizar cristãos, distorcer análises e provocar os próprios seguidores a fazer bullying com quem criticou. Não é novidade na campanha de Boulos esse tipo de ação, mas é algo que funciona para o proporcional, não para o majoritário.
Muitos deputados, inclusive ele, se elegeram na contraposição de fandoms inflamados. É uma prática comum de vários parlamentares eleitos incendiar seus seguidores e depois fingir que não estão vendo a perseguição que eles promovem na redes e até fora delas. São grupos coesos e agressivos, como fã-clubes de pop e kpop, por exemplo.
Ocorre que agora Boulos disputa uma eleição majoritária e com chances de ganhar. Está insistindo numa pauta e em práticas que agradam apenas o público que ele já tem, a esquerda identitária que odeia pobre, mas não pode dizer isso, então esculhamba crente.
Este grupo é uma kriptonita política, enfraquece qualquer candidato. Eles podem parecer majoritários nas redes sociais e na cena cultural, mas são os maiores causadores de ranço na população que paga boletos. Ganhou algum voto a ideia de irritar a maioria cristã, insistir com uma piada medíocre e ainda ser arrogante ou até violento com quem critica? Pois é. O candidato precisa desses votos. A persistir na estratégia de esculhambar quem já não vota em Boulos, não vai ter café com bolo no mundo capaz de viabilizar a prefeitura.