Páscoa católica e as raízes judaicas da celebração Páscoa católica e as raízes judaicas da celebração
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Páscoa católica e as raízes judaicas da celebração

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Alexandre Borges
5 minutos de leitura 31.03.2024 06:00 comentários
Cultura

Páscoa católica e as raízes judaicas da celebração

Como a herança judaica dos primeiros cristãos moldou a compreensão da Eucaristia como presença real de Cristo

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Páscoa católica e as raízes judaicas da celebração
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A Páscoa, celebrada pela comunidade católica brasileira, convida a uma reflexão profunda sobre suas origens e significados, abraçando as raízes judaicas desta festividade e a sua transformação e cumprimento na fé cristã.

O escritor e apologista americano Brant Pitre, em seu livro “Jesus e as raízes judaicas da Eucaristia”, oferece um olhar enriquecedor sobre como essa transição histórica e espiritual não apenas conecta, mas também cumpre as promessas divinas, trazendo um novo entendimento sobre a celebração pascal.

Historicamente, a Páscoa judaica celebra a libertação dos israelitas da escravidão no Egito, marcada pelo sacrifício do cordeiro pascal, cujo sangue servia de sinal para suas casas serem poupadas pelo anjo que levaria os filhos dos egípcios. Essa prática não só prefigurava, mas antecipava a vinda de Cristo, o Cordeiro de Deus, cujo sacrifício na cruz oferece a verdadeira libertação do pecado e da morte.

A conexão entre a fé judaica dos primeiros cristãos e sua crença na presença real de Cristo na Eucaristia é um tema da reflexão de Brant Pitre. Ele destaca como a compreensão da Eucaristia como cumprimento das promessas messiânicas está intrinsecamente ligada às tradições judaicas.

O enigma histórico proposto por Pitre questiona como os primeiros cristãos, oriundos do judaísmo, aceitaram rapidamente a ideia da presença real de Cristo na Eucaristia, apesar das proibições do Antigo Testamento contra o consumo de sangue, conforme estipulado em Levítico. A resposta, segundo ele, reside na própria fé judaica que antecipava o Messias e nas práticas que prefiguravam a Eucaristia.

Pitre elucida essa transição destacando três imagens chave do judaísmo: a Páscoa judaica, o maná do céu e o pão da Presença no Tabernáculo. Cada uma dessas tradições, segundo ele, não só antecipa mas também prepara o caminho para a compreensão cristã da Eucaristia.

A Páscoa, com seu cordeiro sacrificado e o sangue que salva os primogênitos israelitas, prenuncia diretamente a morte de Cristo, o Cordeiro de Deus. A forma como os primeiros cristãos viam a Última Ceia como uma nova Páscoa evidencia a continuidade do pensamento judaico na prática cristã.

O maná, por sua vez, oferecido por Deus aos israelitas no deserto como pão do céu, serve de analogia para o pão eucarístico, que Pitre descreve como o verdadeiro “pão do céu” trazido por Cristo. Este pão não somente nutre espiritualmente os fiéis, mas também os conecta diretamente ao milagre da provisão divina no deserto.

Por fim, o pão da Presença, mantido continuamente diante de Deus no Tabernáculo, simboliza a presença constante de Deus com seu povo. A adoção desse conceito no cristianismo, com Cristo se oferecendo como o “pão da Presença” definitivo na Eucaristia, reforça a continuidade entre as duas tradições.

Pitre argumenta que, ao compreender essas conexões, os primeiros cristãos viram na Eucaristia não apenas o cumprimento das Escrituras Judaicas, mas também a realização das promessas messiânicas de um novo Êxodo, liderado por Cristo, o novo Moisés. Esse novo Êxodo não conduziria o povo de Deus para fora do Egito, mas da escravidão do pecado para a liberdade da vida eterna em Cristo.

A análise de Pitre não apenas ilumina as raízes judaicas da fé cristã, mas também realça a Eucaristia como um ponto de encontro profundo entre o judaísmo e o cristianismo, mostrando que a transição dos primeiros cristãos para a crença na presença real de Cristo na Eucaristia foi, de fato, uma evolução natural de sua própria fé judaica.

A Páscoa no Brasil

No Brasil, as missas e as procissões refletem a união da comunidade em torno da memória da Última Ceia, onde Jesus instituiu a Eucaristia, oferecendo-se como o pão que dá vida eterna. A expressão “fazei isto em memória de mim” ganha um significado renovado, convocando os fiéis à uma vivência mais plena da presença de Cristo ressuscitado em suas vidas.

As celebrações em todo o país, desde as grandes catedrais nas metrópoles até as modestas capelas nas comunidades rurais, são marcadas por uma profunda reverência e alegria. A liturgia pascal, com seus ricos símbolos – o fogo novo, a água batismal, o círio pascal – fala ao coração dos fiéis, lembrando-os das promessas de renovação e esperança que a ressurreição de Cristo traz.

Dr. Pitre, ao destacar a conexão intrínseca entre a Páscoa judaica e a cristã, nos lembra que a celebração da Páscoa não é apenas uma recordação histórica, mas uma vivência atual da presença salvífica de Deus na história humana. No Brasil, essa celebração transcende as barreiras da tradição, tornando-se um momento de profunda comunhão espiritual e reafirmação da fé.

Em 2024, a Páscoa no Brasil é um testemunho vibrante da fé, entrelaçada com as raízes judaicas que a fundamentam. Essa celebração une os fiéis na esperança compartilhada de redenção e na alegria da ressurreição, reafirmando a mensagem eterna de amor, sacrifício e vitória sobre a morte que está no coração do Cristianismo.

A Páscoa, em sua essência, é um convite à renovação da fé e ao reconhecimento de que, em Cristo, as promessas de Deus se cumprem de maneira plena e definitiva. É um tempo de reflexão, gratidão e, acima de tudo, de celebração da vida nova que nos é oferecida na ressurreição do Senhor.

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