Secom ataca jornal e dá lição torta de jornalismo
Secretaria de Imprensa da Presidência da República divulga nota para reclamar de entrevista publicada pelo Estadão e dar uma aula furada aos jornalistas sobre como fazer seu trabalho
A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República divulgou nesta quinta-feira, 14, uma nota para reclamar de uma entrevista publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo. O texto, assinado por José Chrispiniano, secretário de Imprensa da Secom, pretende ensinar os jornalistas do Estadão a fazerem seu trabalho, e falha miseravelmente, na forma e no conteúdo.
A Secom não gostou do que disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que foi um dos protagonistas da força-tarefa da Operação Lava Jato, na entrevista intitulada “‘Lula tinha que estar na cadeia’, afirma decano da Lava Jato”.
Chrispiniano diz na nota que “o jornal Estado de S. Paulo deveria fazer jornalismo e apresentar aos seus leitores, e dentro do contexto de uma entrevista, perguntas válidas ao ex-procurador, sobre os seguintes fatos”, antes de enumerar a teia de narrativas usada para justificar a derrubada dos processos da operação pelos tribunais superiores brasileiros.
Aula torta
Para além de repetir mentiras, como mencionar a existência de “várias evidências de que a denúncia [contra Lula] não se sustentava nem para os próprios procuradores” e falar na “ocorrência de depoimentos forjados, delações encomendadas, vazamentos ilegais, grampos ilegais e diversas outras irregularidades pelas quais seus autores nunca responderam”, o assessor do ministro Paulo Pimenta (à direita na foto)vai muito além de seu papel como agente público ao pretender tutelar o trabalho dos jornalistas.
A Secom finaliza assim seu ataque: “Nos dez anos da Lava Jato, o procurador Carlos Fernando tem a oportunidade de fazer uma reflexão privada sobre como, ao invés de exercer suas funções com seriedade, sua camarilha de filhos de Januário promoveram danos para a economia, a democracia e ao próprio combate à corrupção e ao Ministério Público brasileiro, ao trocarem a investigação séria pela busca da fama e objetivos políticos. Ainda é tempo de finalmente reconhecer seus erros e a sorte de não terem sofrido punições à altura dos crimes que cometeram”.
Com a nota, o governo Lula expõe mais uma vez sua veia autoritária e, mais do que isso, deixa claro que, apesar de boa parte da Lava Jato ter sido desmontada pela cúpula do Judiciário brasileiro, o impacto moral da operação ainda dói, e não vai deixar de doer tão cedo.
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