Voltaremos ao crédito para exportar corrupção?
No Egito, Lula foi recebido pelo ministro do Turismo, Ahmed Issa, enquanto o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, foi recepcionado pelo ditador egípcio Abdel Fattah Al-Sisi
Independentemente do discurso aloprado que comparou a ofensiva israelense em Gaza ao Holocausto, a viagem de Lula à África deu mais sinais de como o Brasil perdeu crédito internacional nos últimos anos.
Como informou o Valor, ao desembarcar no Egito, em 14 de fevereiro, o petista foi recebido no aeroporto do Cairo pelo ministro do Turismo e Antiguidades do Egito, Ahmed Issa. Quatro horas depois, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, foi recepcionado pelo ditador egípcio Abdel Fattah Al-Sisi, em uma chegada que foi transmitida ao vivo pelos canais oficiais do Egito na internet.
Embora o Egito seja o segundo maior parceiro comercial do Brasil na África e as exportações brasileiras de produtos egípcios registrem 489 milhões de dólares, o volume negociado entre o país africano e a Turquia é maior.
A balança comercial entre esses países atingiu 5,875 bilhões de dólares em 2023, com um aumento de 28% das exportações do Egito para a Turquia no ano passado, somando 2,9 bilhões de dólares.
Expansionismo comercial sem corrupção?
Alvo das “retaliações injustas” do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, por apontar o papel do Poder Judiciário na piora do Brasil no ranking de percepção da corrupção, a Transparência Internacional disse que é legítimo que o Brasil invista na cooperação Sul-Sul, desde que seja sem a corrupção que marcou seu projeto expansionista no passado.
Em seu perfil na rede social X, antigo Twitter, a ONG anticorrupção relembrou que, no passado, 80% do crédito de exportação de serviços do BNDES foi para a Odebrecht, atual Novonor.
“É legítimo e desejável que o Brasil invista na cooperação Sul-Sul, em prol do progresso econômico e social. Mas sem a corrupção que marcou seu projeto expansionista no passado. Naquele período, 80% do crédito de exportação de serviços do BNDES foi para uma só empresa: Odebrecht.
Com crédito subsidiado, a Odebrecht exportou corrupção para África e América Latina, gerando pobreza, instabilidade política e destruição ambiental. Ainda vigora a impunidade nesses países, agravada pela recente decisão do min. Toffoli que anulou todas as provas e confissões dos crimes.
Recentemente, o BNDES anunciou que reabrirá sua linha de crédito de exportação de serviços. Não é um problema em si, muitos países fazem o mesmo, com bons resultados. O problema é que isso vire novamente crédito para exportação de corrupção.
Em 2023, a Controladoria-Geral da União assinou acordo de cooperação com o BNDES para, entre outras ações, fomentar o compliance nas empresas beneficiárias do crédito. Na viagem de Lula à África, firmaram acordo anticorrupção com Cabo Verde. São passos ainda muito tímidos, mas na direção correta.
É fundamental que as instituições e a sociedade brasileira estejam atentas e atuantes para evitar que a macro corrupção não contamine, uma vez mais, a liderança que o Brasil pode e deve ter no mundo em desenvolvimento.”
Leia também:
A história da fake news contra a Transparência Internacional
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)