Fazer corpo mole não é digno das Forças Armadas Fazer corpo mole não é digno das Forças Armadas
O Antagonista

Fazer corpo mole não é digno das Forças Armadas

avatar
Carlos Graieb
3 minutos de leitura 14.02.2024 17:18 comentários
Análise

Fazer corpo mole não é digno das Forças Armadas

Quem participou da intentona bolsonarista pode ter cometido crimes militares cuja apuração não depende do inquérito do STF nem deve aguardar o seu término

avatar
Carlos Graieb
3 minutos de leitura 14.02.2024 17:18 comentários 0
Fazer corpo mole não é digno das Forças Armadas
Foto Lula Marques/ Agência Brasil

Antes de iniciar qualquer procedimento interno contra militares envolvidos na intentona que pretendia manter Jair Bolsonaro no poder, as Forças Armadas querem aguardar o término das investigações e do processo criminal em curso no STF. 

Esse não é um caminho aceitável.

Segundo reportagem publicada pela Folha de S. Paulo na segunda-feira, 12, a decisão é justificada internamente “pela necessidade de entender se as suspeitas levantadas pela Polícia Federal serão confirmadas no término do inquérito”.

Generais ouvidos pelo jornal teriam dito que abrir processos internos sem ter acesso às provas já coletadas “poderia resultar em procedimentos vazios”.

Crimes militares

Nenhuma dessas razões para de pé. Já existem sinais abundantes de que os militares dispostos a participar de um golpe podem ter atentado não apenas contra o Estado de Direito, mas também contra os princípios da disciplina e da hierarquia, essenciais para as Forças Armadas. A primeira investigação cabe à Justiça comum. A segunda, à Justiça Militar.

Entre os crimes elencados no Código Penal Militar encontram-se, por exemplo, os de omissão de lealdade militar (art. 151), conspiração (art. 152) e aliciação para motim e revolta (art. 154 e 155). Cabe à Justiça Militar decidir se eles aconteceram durante o longo período de gestação do golpe bolsonarista. 

Há uma velha discussão no Direito sobre a coexistência de processos administrativos e processos criminais. Muitos juristas defendem que os primeiros devem ser suspensos (ou “sobrestados”, no jargão processual) até a conclusão dos segundos. Os militares parecem defender uma solução análoga neste momento. Mas suspender um processo em andamento não é a mesma coisa que adiar indefinidamente o seu início. 

Além disso, os tipos penais militares são bem específicos. As provas sobre a sua existência não virão necessariamente das diligências da Polícia Federal. Muitas delas podem estar em documentos só disponíveis para as Forças Armadas. Uma investigação autônoma é incontornável. 

Consequências

Uma das consequências de jogar para as calendas a abertura de processos na Justiça Militar é permitir que os possíveis envolvidos continuem recebendo promoções. Mauro Cid (foto), por exemplo, está na fila para obter a patente de coronel, que aumentaria bastante o seu soldo. A escolha deve começar em abril. 

Mas evitar que essa injustiça aconteça nem é o mais importante. Verdadeiramente extraordinário seria ver a Justiça Militar agir de maneira contundente, e nas exatas quatro linhas da sua competência, contra soldados que tramaram para tirar as Forças Armadas dos trilhos da legalidade.

Os militares escolhem um caminho confortável ao esperar que o STF diga quem cometeu crimes. Talvez por corporativismo, talvez por razões “políticas”, furtam-se ao dever de demonstrar, desde já, que não toleram mais traições às leis e ao espírito das Forças Armadas. Sem enfrentar esse mal diretamente, não vão exorcizá-lo de uma vez por todas. 

Leia mais:

Exército aguarda a hora da verdade


  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

PF indicia Bolsonaro e mais 36 por tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
2

Cid implica Braga Netto para salvar delação premiada

Visualizar notícia
3

Moraes mantém delação premiada de Mauro Cid

Visualizar notícia
4

Putin comenta lançamento de míssil e ameaça o Ocidente

Visualizar notícia
5

O papel dos indiciados em suposta tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
6

Gonet foi contra prisão de Cid após depoimento a Moraes; militar foi liberado

Visualizar notícia
7

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
8

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
9

Crusoé: Thomas Sowell está vivo, Elon

Visualizar notícia
10

Para Bolsonaro, Moraes age contra lei e usa "criatividade" em denúncias

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Mandado contra Netanyahu não tem base, diz André Lajst

Visualizar notícia
2

Bolsonaro deixou aloprados aloprarem?

Visualizar notícia
3

Trump nomeia ex-procuradora da Flórida após desistência de Gaetz

Visualizar notícia
4

PGR vai denunciar Jair Bolsonaro?

Visualizar notícia
5

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
6

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
7

"Não faz sentido falar em anistia", diz Gilmar

Visualizar notícia
8

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Visualizar notícia
9

Líder da Minoria sobre indiciamentos: "Narrativa fantasiosa de golpe"

Visualizar notícia
10

Fernández vai depor na Argentina sobre suposto episódio de violência doméstica

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

8 de janeiro Forças Armadas Justiça Militar Mauro Cid STF tentativa de golpe
< Notícia Anterior

Microsoft denuncia que hackers de governos estão usando IA para espionagem

14.02.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Toffoli sem pressa sobre multa suspensa da J&F

14.02.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

Ricardo Kertzman Visualizar notícia
Crusoé: E agora, Amorim? Sete países reconhecem González como presidente eleito

Crusoé: E agora, Amorim? Sete países reconhecem González como presidente eleito

Duda Teixeira Visualizar notícia
Crusoé: Por que Trump escolheu ex-diretora do WWE para comandar a Educação

Crusoé: Por que Trump escolheu ex-diretora do WWE para comandar a Educação

Duda Teixeira Visualizar notícia
Crusoé: Só não pode chamar de Nova Rota da Seda

Crusoé: Só não pode chamar de Nova Rota da Seda

Duda Teixeira Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.