Abin paralela de Ramagem: tem como colocar o gênio de volta na garrafa?
Agora Flavio Bolsonaro nega que seu pai tivesse qualquer tipo de investigador paralelo da Abin enquanto estava na presidência...
Agora Flavio Bolsonaro nega que seu pai tivesse qualquer tipo de investigador paralelo da Abin enquanto estava na presidência da República. Tempos atrás, nem o próprio Jair Bolsonaro negava. Pelo contrário, parecia orgulhoso.
Em maio de 2020, logo depois do entrevero com o então ministro Sergio Moro, chegou a dizer que seu sistema próprio de inteligência era melhor que o do governo. Não há como saber se falava do mesmo que se investiga agora, mas admitia ter um sistema paralelo.
Antes disso, o falecido Gustavo Bebianno chegou a falar da intenção de se montar um sistema assim. Contou, no Roda Viva, que Carlos Bolsonaro tinha poder e ascendência sobre o pai. Teria montado dois aparatos extraoficiais dentro do palácio, o Gabinete do Ódio e a Abin Paralela.
É uma investigação que precisa ir até o final, punir os culpados – todos eles, não apenas os políticos – e também revelar quem são as vítimas. Ser perseguido por um aparato de Estado é uma experiência terrível e surreal. Caso a pessoa resolva colocar a boca no trombone, provavelmente será tratada como louca. Muitas situações podem ser finalmente esclarecidas com a divulgação, que ainda não foi feita.
Olhando apenas pela lente política, é possível imaginar que saindo Bolsonaro e entrando Lula tudo mude dentro da máquina pública. Mas aqui nós temos também uma questão mais complexa, a dos pequenos poderes que persistem apesar da troca de presidentes.
Quem faz parte de uma agência de inteligência e toca a tarefa de espionagem ilegal ganha muito poder, muito mais do que o cargo confere. Estamos falando de quantas pessoas? Houve um escândalo recente falando em dois funcionários, já afastados e punidos. São só eles?
A Polícia Federal aponta que 30 mil pessoas tinham sua geolocalização monitorada pelo aparelho First Mile. As informações serviriam para que fossem montados dossiês sobre elas. Quantas pessoas são necessárias para viabilizar essa tarefa?
Temos ainda a questão da interferência em produção de provas para blindar dois filhos de Bolsonaro, Flavio e Jair Renan. Quantas pessoas estiveram envolvidas nisso?
Além da punição necessária, temos algo importantíssimo no caso, a preservação institucional. Uma vez que ganharam esse poder, esses servidores simplesmente abriram mão dele? Precisamos saber se o gênio foi realmente colocado de novo dentro da garrafa.
Há alguns, como a presidente Dilma, que defendiam ser impossível colocar a pasta de dente para dentro do tubo de volta depois de ter apertado. Esperamos que, neste caso, não seja.
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