Dino, uma escolha indefensável
Lula indicou Flávio Dino ao STF. Digo sem medo de errar que essa escolha causou menos satisfação na esquerda do que entre os políticos de direita...
Lula indicou Flávio Dino ao STF. Digo sem medo de errar que essa escolha causou menos satisfação na esquerda do que entre os políticos de direita.
No governo e no lulismo, o atual ministro da Justiça e da Segurança Pública tem muitos colegas que passaram os últimos meses tentando minar o seu nome e afastá-lo do STF. Preferiam o petista raiz Jorge Messias.
A direita, por sua vez, ganhou o cavalo de batalha dos sonhos. Combater a indicação de Dino lhes dará assunto infinito. Se conseguirem bloquear o nome no Senado, terão uma vitória extraordinária – só houve duas rejeições em toda a história do Supremo, ambas em 1894. Se Dino for confirmado, poderão denunciar, com razão, o aparelhamento da corte pela esquerda.
A imagem do STF como instituição de Estado, alheia às rinhas políticas, será ainda mais dilapidada.
Neste domingo, 26, eu me escondi atrás de uma árvore no Parque Trianon, na Avenida Paulista, e acompanhei uma parte da manifestação de direita realizada em São Paulo. Tanto quanto Lula, o STF é o inimigo a ser derrotado aos olhos daqueles que compareceram, com suas camisas amarelas e cartazes de repúdio a Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.
O próprio mote da manifestação foi a morte de Cleriston Pereira da Cunha, o réu do 8 de Janeiro que teve alertas sobre sua saúde e um parecer da PGR favorável à sua liberação ignorados pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. A ideia de que o tribunal agora tem “sangue nas mãos” foi repetida várias vezes.
E em meio às acusações de que foi o STF quem tirou Lula da cadeia, de que foram ministros do STF que impediram a adoção do voto impresso, que influíram no resultado das eleições do ano passado, que articularam a inelegibilidade de Bolsonaro e a punição “injusta” aos invasores da praça dos Três Poderes, lá estava o alerta sobre Flávio Dino.
Na boca do senador Magno Malta (PL-ES), soou quase como uma torcida: “O Lula vai indicar o Flávio Dino, vocês vão ver! E nós vamos barrar o nome dele no Senado!” Não foram exatamente essas as palavras, mas o sentido era esse.
Dino, que já foi juiz, preenche os requisitos constitucionais para ocupar uma cadeira no Supremo. Ainda assim, a escolha de Lula é indefensável.
De todos os ministros deste primeiro ano de governo, foi Dino quem mais bateu de frente com a direita, quem mais se afastou do perfil técnico para rolar na lama com a oposição, trocando ofensas com parlamentares e sugerindo que alguns deles poderiam agredi-lo a tiros, caso ele comparecesse à comissão de Segurança e Combate ao Crime Organizado da Câmara.
Se Lula pensasse por um instante na imagem do STF, se quisesse contribuir com o apaziguamento dos ânimos políticos, não teria optado por um nome que vai soar como uma afronta a uma grande parcela do eleitorado, e que fará com que a desconfiança em relação à corte cresça.
Mas prevaleceu o espírito tribal e o desejo de ter um companheiro que ele julga fiel – e, por certo, manipulável – na Corte Suprema.
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