Filósofo alemão Habermas sai em defesa de Israel e judeus
Em carta aberta intitulada “Grundsätze der Solidarität. Eine Stellungnahme” (Princípios de solidariedade. Uma afirmação), o renomado filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas, nascido em 1929, defendeu como...
Em carta aberta intitulada “Grundsätze der Solidarität. Eine Stellungnahme” (Princípios de solidariedade. Uma afirmação), o renomado filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas, nascido em 1929, defendeu como “em princípio justificado” o “contra-ataque” de Israel, na Faixa de Gaza, ao massacre cometido pelo Hamas em 7 de outubro.
Os outros três signatários do texto, publicado em 13 de novembro no site de pesquisa Normative Orders, da Universidade Goethe de Frankfurt, são o cientista político Rainer Forst, o advogado Klaus Günter e a pesquisadora Nicole Deitelhoff.
Eles sublinham que a reação israelense não é comparável a um genocídio intencional e que quem afirma isso perdeu o parâmetro.
Também expressam preocupação com os civis em Gaza e com o crescimento do antissemitismo na Alemanha.
Eis a tradução da íntegra, seguida de uma breve análise do perfil de Habermas:
“Princípios de solidariedade. Uma afirmação
A situação atual, criada pelo ataque inigualável do Hamas e pela resposta de Israel ao mesmo, levou a uma série de declarações e manifestações morais e políticas.
Acreditamos que, apesar de todas as opiniões contraditórias expressas, existem alguns princípios que não devem ser contestados. Eles são subjacentes à solidariedade corretamente estendida aos judeus em Israel e na Alemanha.
O massacre do Hamas, com a sua intenção declarada de destruir a vida judaica em geral, levou Israel a retaliar. A forma como este contra-ataque, em princípio justificado, é realizado é discutida de modo controverso; os princípios da proporcionalidade, de evitar vítimas civis e de travar uma guerra com a perspectiva de uma paz futura, devem ser princípios orientadores.
Apesar de toda a preocupação com o destino da população palestina, perde-se completamente o parâmetro de julgamento quando são atribuídas intenções genocidas às ações israelenses.
Em particular, as ações de Israel não justificam de forma alguma reações antissemitas, especialmente na Alemanha.
É insuportável que os judeus na Alemanha sejam mais uma vez expostos a ameaças contra a vida e a integridade física e tenham de temer a violência física nas ruas.
A autoimagem democrática da República Federal, que se baseia na obrigação de respeitar a dignidade humana, está ligada a uma cultura política para a qual, à luz dos crimes em massa do período nazista, a vida judaica e o direito de Israel à existência são elementos centrais, particularmente dignos de proteção.
O compromisso com isso é fundamental para a nossa convivência política.
Os direitos fundamentais à liberdade e à integridade física, bem como à proteção contra a difamação racista, são indivisíveis e aplicam-se igualmente a todos.
Aqueles no nosso país que cultivaram sentimentos e crenças antissemitas por trás de todo o tipo de pretextos e que agora veem uma boa oportunidade para expressá-los sem inibição também devem aderir a isto.
Nicole Deitelhoff, Rainer Forst, Klaus Günther e Jürgen Habermas”.
Escola de Frankfurt
Habermas é considerado um dos continuadores da teoria crítica da Escola de Frankfurt, uma escola de tradição marxista à qual ele acrescentou suas visões originais no campo da filosofia analítica, do pragmatismo e do liberalismo norte-americano.
Trata-se, portanto, de uma figura à esquerda, embora não pertença à esquerda radical, violenta e revolucionária. É conhecido no meio acadêmico, por exemplo, o debate Habermas-Foucault, que se refere à disputa entre a teoria da racionalidade comunicativa de Habermas e a teoria do poder de Foucault.
A posição de Habermas, simpática a Israel, não é tão surpreendente. No ensaio “O idealismo alemão e os filósofos judeus”, que consta em seu livro “Israel ou Atenas. Ensaios sobre religião, teologia e racionalidade”, Habermas destacou a contribuição de pensadores judeus ou de ascendência judaica, entre eles Martin Buber, Franz Rosenzweig, Hermann Cohen, Ernest Cassirer, Walter Benjamin, Max Scheler, Hannah Arendt, Edmund Husserl e Ludwig Wittgenstein, e arrematou: “Se não houvesse existido uma tradição judaica, teríamos que inventá-la.”
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