Crusoé: beneficiários de programa social na Argentina viajavam ao exterior
O governo nacional da Argentina reconheceu ontem, 31 de outubro, que pelo menos 1.000 beneficiários de um dos maiores programas...
O governo nacional da Argentina reconheceu ontem, 31 de outubro, que pelo menos 1.000 beneficiários de um dos maiores programas sociais do país viajaram ao exterior nos últimos três anos em indício de fraude do benefício.
Todos foram suspensos do programa, um bônus ligado a condições de emprego e chamado Potenciar Trabajo.
Trata-se de 1.129 pessoas que registraram viajem a países sem fronteira com a Argentina naquele período — há uma exceção para aqueles que visitaram o Peru, país de origem de muitos imigrantes daqui.
“A saída do país não merece suspensão nem presunção de irregularidade, uma vez que existem beneficiários que sejam parentes de imigrantes desses países ou sejam imigrantes desses países residentes na Argentina”, disse a ministra do Desenvolvimento Social, Victoria Tolosa Paz, na rede social X, anteriormente conhecido como Twitter.
Também foram suspensos os benefícios de 34 pessoas que estiveram em cruzeiros.
Con @SergioMassa hemos decidido suspender a titulares del Potenciar Trabajo que registraron salidas al exterior durante los últimos tres años, de acuerdo a los datos de la Dirección Nacional de Migraciones.
— Victoria Tolosa Paz (@vtolosapaz) November 1, 2023
O caso foi revelado em uma denúncia do fiscal federal Guillermo Marijuán na semana passada. Segundo ele, há quase 160.000 beneficiários que viajaram ao exterior em “circunstância manifestamente incompatível com o requisito de elevada vulnerabilidade económica exigido pelo referido Programa”.
Marijuán identificou 29.076 viagens de avião (sem especificar o destino) e 817, de cruzeiro. Ainda há centenas de milhares de registros de viagem por outros meios.
Potenciar Trabajo
O Potenciar Trabajo é um dos maiores programas sociais da Argentina. Ele atinge 1,3 milhões de pessoas e movimentou, no ano passado, 416 bilhões de pesos, ou 2,5% de todos os gastos públicos.
Batizado assim na gestão atual, do presidente Alberto Fernández, o Potenciar Trabajo segue uma tradição argentina de programas de transferência de renda ligados a condições de emprego que são terceirizados.
O governo libera o orçamento desses programas a sindicatos e a movimentos sociais, que, por sua vez, repassam a cooperativas de classes trabalhistas e aos beneficiários individuais.
Desde o colapso da economia argentina de 2001, e em especial após o governo de Nestor Kirchner, a partir de 2003, os movimentos sociais peronistas passaram a ser protagonistas na gestão desses programas — mesmo no governo do antiperonista Mauricio Macri, entre 2015 e 2019.
Um desses grupos, o Movimento Evita, sozinho, foi encarregado de 55% dos 416 bilhões de pesos do Potenciar Trabajo no ano passado.
Os principais movimentos sociais peronistas da Argentina nesse contexto estão unidos em um sindicato chamado União dos Trabalhadores da Economia Popular (Utep), tema de reportagem de Crusoé publicada na semana do primeiro turno.
Crusoé entrou em contato com as assessorias de imprensa do Movimento Evita e da Utep para comentar o episódio, mas não obteve posicionamento oficial até a publicação desta reportagem.
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