Você faria terapia com um chatbot? Teste mostra resultados promissores
Testes com IA produzem resultados surpreendentes, mas especialistas alertam para riscos

Um ensaio clínico pioneiro sugere que a terapia baseada em inteligência artificial generativa pode ser tão eficaz quanto o tratamento humano para pessoas com depressão, ansiedade ou risco de transtornos alimentares.
O estudo, conduzido por pesquisadores da Geisel School of Medicine, no Dartmouth College, testou uma ferramenta de IA chamada Therabot. Os resultados foram publicados em março no periódico NEJM AI.
Embora os resultados sejam promissores, especialistas alertam que eles não endossam a vasta oferta de bots terapêuticos disponíveis no mercado, que operam frequentemente sem supervisão clínica ou base científica sólida.
Desenvolvimento baseado em evidências
A busca por ampliar o acesso à terapia é urgente, considerando que menos da metade das pessoas com transtornos mentais recebe tratamento. Tecnologias anteriores, como bots com respostas pré-definidas, mostraram-se pouco envolventes.
Com o surgimento de modelos de linguagem de grande escala, pesquisadores de Dartmouth viram a oportunidade de usar IA generativa para criar uma ferramenta mais interativa. Eles treinaram o Therabot especificamente com base em milhares de horas de transcrições de sessões reais e práticas terapêuticas fundamentadas em evidências.
Segundo Nick Jacobson, professor-associado em Dartmouth e autor sênior do estudo, usar modelos treinados genericamente pode levar a respostas inadequadas, como incentivar a perda de peso de alguém já abaixo do peso ideal.
Resultados clínicos, desafios e riscos para implementação em larga escala
O ensaio clínico de oito semanas envolveu 210 participantes com sintomas de depressão, ansiedade generalizada ou alto risco de distúrbios alimentares. Cerca de metade utilizou o Therabot, trocando uma média de 10 mensagens diárias com a IA.
Os resultados, baseados em questionários de autorrelato, foram significativos: uma redução de 51% nos sintomas de depressão, 31% na ansiedade e 19% nas preocupações com imagem corporal e peso para aqueles em risco de distúrbios alimentares.
Apesar do sucesso do Therabot, a sua ampla implementação clínica enfrenta obstáculos. Jean-Christophe Bélisle-Pipon, professor de ética em saúde, e não envolvido no estudo, considera os resultados impressionantes, mas ressalta que ensaios clínicos não replicam totalmente o mundo real.
Um desafio significativo é a necessidade de supervisão. Jacobson monitorou pessoalmente as mensagens dos participantes durante o ensaio para detectar problemas. A integração em sistemas de saúde e seguros também é crucial para o alcance da tecnologia.
Mais importante, o pesquisador adverte enfaticamente que os resultados do Therabot não validam a indústria emergente de sites de terapia com IA. A maioria dessas plataformas provavelmente não utiliza treinamento baseado em evidências e carece de equipes qualificadas para monitoramento, levantando sérias preocupações sobre a rapidez com que avançam sem avaliação adequada. Os riscos são reais.
James O’Donnell, da MIT Technology Review, pondera que a pesquisa demonstra o potencial da IA generativa quando desenvolvida de forma rigorosa, mas serve como um alerta crítico sobre os riscos de ferramentas não validadas, e a necessidade urgente de regulamentação e supervisão no setor de saúde mental digital.
O psicólogo e linguista canadense Steven Pinker, autor de sucessos como “Os anjos bons da nossa natureza” e “Como a mente funciona”, entre outros, considera que, na falta de terapeutas profissionais, “a terapia com IA é melhor do que nada”, mas ressalta que seria “antiético fazer uma pessoa falar com uma IA sem saber. É como uma nova medicação. A pessoa tem de ser informada”.
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