Como distinguir fato e ficção nas informações sobre saúde?
A profusão de recomendações, listas e "especialistas" mais confunde que educa; mas alguns critérios podem ser úteis

Como é possível, se é que é possível, separar o trigo da ciência do joio das fake news (ou das news pela metade) em matéria de informações sobre saúde? Acesse qualquer rede social (sim, eu sei, você já está com todas elas acessadas aí…) e uma profusão de conselhos aparentemente muito razoáveis lhe são dados de graça. Ou quase.
Por isso, alguma coisa acontece no meu coração, quando cruza a Ipiranga e a avenida São João, ou quando como muito ou pouca proteína, ou quando misturo suplementos com banana e um pouquinho de desinformação, tudo temperado por uma boa dose de marketing e uma pitada de fé, porque ninguém é de ferro (alguém já te falou dos benefícios do ferro?) – mas se eu nunca sei direito se estou fazendo direito, a quem recorrer? Como decidir?
A capacidade de distinguir informações críveis de especulações se tornou uma habilidade vital (literalmente, às vezes). A complexidade intrínseca do corpo e da mente exige, de cada um de nós, um elevado grau de conhecimento e, sobretudo, de pensamento crítico, para escapar do lero-lero e tomar decisões mais razoáveis sobre a própria saúde.
Entre especialistas e espertões
Mary McNaughton-Cassill, professora de Psicologia Clínica na Universidade do Texas, em San Antonio, defende que, embora a manutenção da saúde seja um interesse comum, muitos de nós carecem de uma compreensão formal sobre o funcionamento do nosso corpo ou do cérebro. Somos bombardeados por conselhos de diversas fontes e, muitas vezes, não temos os critérios para avaliar a veracidade dessas informações. Então, o que nos sobra é tentativa-e-erro.
Ela ainda enfatiza que, para realmente se beneficiar dos tratamentos e conhecimentos disponíveis, é importante que as pessoas compreendam o que lhes é apresentado, analisem criticamente sua origem e confiabilidade, e assumam a responsabilidade por suas escolhas em saúde. Ainda que nem sempre os especialistas acertem, não adianta nada desconfiar de determinadas fontes “tradicionais” de informação (universidades, centros de pesquisa) e confiar em outras (redes sociais, publicações alternativas).
Critérios mínimos para a validação da informação
Para avaliar as informaçõe de saúde de maneira mais lógica e eficaz, Mary McNaughton-Cassill sugere prestar atenção tanto no conteúdo quanto em sua autoria. É prudente questionar quem conduziu a pesquisa, e se há interesses financeiros ou vieses nos resultados. Quem já assistiu à série Mad Men sabe do que a professora está falando.
Outras armadilhas cognitivas são comuns. Não se deve confundir correlação com causalidade. Uma coisa é algo ser causa da outra; outra coisa é que eventos aconteçam simultaneamente – por exemplo, não é curioso o fato de que guarda-chuvas e chuvas sempre acontecem juntos? Será que guarda-chuvas provocam chuvas? Ou será que chuvas produzem guarda-chuvas? Pois é.
Em matéria de doenças, estatísticas valem pouco. As pessoas tendem a superestimar o risco de doenças dramáticas como o Ebola, ao mesmo tempo em que ignoram os perigos de vírus mais comuns como a gripe, ou se preocupam mais com o câncer do que com doenças cardiovasculares, que são mais letais.
É igualmente importante não culpar os indivíduos por suas enfermidades, nem buscar “curas para tudo” que se baseiam mais no desejo do que na evidência científica. Pensamento crítico, bom senso e canja de galinha (desde que não contaminada!) nunca fizeram nem farão mal a ninguém.
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