Orlando Tosetto na Crusoé: Treze acepções de “golpe”
O canto da araponga, uma batida de carros e a Proclamação da República remetem à mesma palavra
Desde que, em 31 de agosto de 2016, após mais de oito meses de conversas e vaivéns, com relatórios dos deputados, relatórios dos senadores, abertura de processo, infindáveis discursos de defesa e votação aberta do Parlamento em sessão presidida por Ministro do STF (ministro que, aliás, hoje ministra aquilo que o país se habituou a chamar de “Justiça”), a então presidente da República sofreu impeachment, temos convivido diuturnamente com a palavra golpe.
E eis que o termo entrou na moda.
Foi golpe, teve golpe, deram um golpe, quiseram dar um golpe, querem ainda o golpe, medidas excepcionais e temporárias foram adotadas para evitar o golpe, heroicamente impediu-se o golpe — e vamos seguindo assim, golpeados o tempo todo pela palavra, usada a troco de tudo e de nada.
Tanto é assim que nem duvido mais que golpista, tal como fascista ou nazista, já seja ofensa comum em discussões de trabalho e em mesas de família pelo país afora.
É que somos um povo cordial, ou seja, guiado pelo coração; e o nosso coração às vezes se apaixona por uma palavra. Ou a transforma em mania (também chamada, hoje em dia, de “hiperfoco”).
Mas o que quer dizer essa palavra que virou mania?
Segundo ensina, em seu dicionário, o senhor Aurélio Buarque de Holanda (sobrenome aliás quase hagiográfico hoje em dia), golpe é um substantivo masculino que tem mais de uma acepção, isto é, mais de um significado.
Na verdade, ele nos dá nada mais, nada menos do que treze acepções diferentes; nem todas, é claro, nos interessam.
Uma delas, por exemplo, é o canto da araponga (do pássaro, não daquele cara da Abin que fica andando atrás de você na rua).
Outro é a batida, a trombada: colisão de trens ou de veículos, ou aquela topada com o dedão na quina da mesa.
Outro ainda é o choque inesperado, que causa algum tipo de abalo emocional (esse poderia ser o nosso, mas ainda não é).
E até um grande número de pessoas que entram…
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