Dizem – não sei bem quem diz, mas vá, dizem – que aumentar a conscientização política do povo é uma coisa boa.

Que ele, povo, se beneficia muito disso. Que se torna mais ativo, mais esperto, mais participativo. Dizem, e quem sou eu para dizer que não?

Daí que – deduzo – o fato de eu saber os nomes dos presidentes novos da Câmara e do Senado seja muito auspicioso: é sinal de que minha conscientização política anda aumentando. Bom pra mim.

Mas, velhote que sou, recorro ao exemplo e à memória dos antigos, e me pego pensando no meu pai e na conscientização política dele.

Se estivesse vivo, meu velho faria 106 anos de idade neste 2025. Isto quer dizer que ele se tornou adulto em outubro de 1937, ou seja, um mês antes de começar o Estado Novo, quando o pai dos pobres da hora era o Getúlio Vargas.

Meu pai detestava o Getúlio. Gostava mais, muito mais, do Orlando Silva, do Chico Viola e do Carlos Galhardo, que eram os grandes cantores do seu tempo (meu pai era o rei das cantadas).

É verdade que a paternidade do Getúlio tinha um certo decoro.

Nunca o filmaram – por exemplo – num casebre de pau a pique sentado na cama de um pobre, abraçando o pobre, dando beijocas no pobre, cutucando o pobre com o cotovelo e falando “É nóis, parça!”, e fazendo de conta que come feijão aguado até hoje.

Eram outros tempos e outros costumes.

Mas o meu pai. Se eu perguntasse a ele (correndo um certo risco de retaliação física) quem era o presidente da Câmara em 1937, a resposta seria um irritado “Sei lá!”.

Se eu ignorasse os riscos e perguntasse quem era então o presidente do Senado, o “Sei lá!!” viria assim, com duas exclamações, sinal de perigo, de explosão à vista.

E não sei como é que eu explicaria a ele que eu, seu filho, sangue do seu sangue, decaí a nossa estirpe a ponto de hoje, fevereiro de 2025, saber que o Senado é presidido…

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