Josias Teófilo para Crusoé: Morre o último dos grandes Josias Teófilo para Crusoé: Morre o último dos grandes
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Josias Teófilo para Crusoé: Morre o último dos grandes

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4 minutos de leitura 08.12.2024 09:30 comentários
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Josias Teófilo para Crusoé: Morre o último dos grandes

Compositor pernambucano Marlos Nobre foi um dos brasileiros mais premiados internacionalmente

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Josias Teófilo para Crusoé: Morre o último dos grandes
Marlos Nobre. Foto: Josias Teófilo

Faleceu na última segunda-feira, dia 2 de dezembro, o compositor Marlos Nobre.

Nascido na Rua de São João no Bairro de São José, no Recife, numa terça-feira de Carnaval, em 1939, Marlos Nobre foi um dos compositores brasileiros mais premiados internacionalmente.

Ganhou, por exemplo, o VI Prêmio Tomás Luís de Victoria, na Espanha, um dos mais importantes do mundo da música clássica.

No ato da entrega da premiação, o júri destacou “a transcendência e projeção internacional de sua obra, assim como a originalidade do seu pensamento estético”.

Ele, aliás, preferia o termo música de concerto a música clássica, que é usado no mundo inteiro – no Brasil, entretanto, prevalece o termo música erudita (influência de Mário de Andrade).

Marlos Nobre não compôs nenhuma sinfonia ou poema sinfônico.

Ele tentava sempre expandir as formas musicais, por isso os nomes singulares de suas composições: Xingu para orquestra (1989), Desafio VII para piano e orquestra de cordas (1968), Kabbalah (2004).

Esta última é uma das peças mais famosas de sua autoria: foi tocada no BBC Proms, que é o maior festival de música clássica do mundo, e regida por Gustavo Dudamel.

Em 2013 tive a oportunidade de entrevistar o compositor para a Revista Continente.

A entrevista se deu no hotel Tivoli, em São Paulo. Com uma robusta cabeleira branca que lembrava os compositores do passado, Nobre sentou-se à mesa espalhada do hall do hotel, circulado por um exuberante jardim que remetia, significativamente, à primavera.

Pois foi para a comemoração dos 100 anos da Sagração da Primavera, de Igor Stravinski, que Marlos Nobre tinha vindo a São Paulo naquela ocasião. A Osesp encomendou uma peça de sua autoria, chamada Sacre du sacre opus 118.

A primeira pergunta que fiz foi, naturalmente, sobre sua relação com A sagração.

A descoberta de PetrushkaO pássaro de fogo e A Sagração da primavera foi o maior impacto musical que recebi e praticamente me fizeram decidir pela composição. Tenho certeza de que, ao descobrir Stravinski e sua música, descobri a mim mesmo”, respondeu.

O mais interessante foi o que ele falou sobre a relação da Sagração com a bagagem cultural que já tinha como pernambucano.

Ele disse: “Os dois principais elementos que tanto chocaram o público parisiense naquela época, a polirritmia, ou seja, a confluência de diferentes métricas no ritmo, e o uso tão saliente dos metais, eu já conhecia do maracatu e do frevo, desde criança”.

Inquirido sobre se o mito está no Sacre du sacre assim como na obra de Stravinski, que a compôs a partir da mitologia eslava, pagã, o compositor afirmou: “O mito existe, sim, também neste meu Sacre du sacre e esse mito pagão, popular, forte, essencial, que vem do maracatu, transformei em minha mente tal como Stravinski fez com a mitologia russo-eslava. As origens populares do Brasil e da Rússia são, a meu ver, muito similares. Tal como a Rússia, o Brasil é um país imenso, onde há diversas formas de manifestações populares. A riqueza da Rússia e do Brasil na música vem, portanto, da assimilação dessas formas profundas do povo russo, misturados com a lição da música do Ocidente”.

O concerto da estreia da sua obra, acontecido em 13 de março de 2013, fez a Sala São Paulo tremer: Marlos Nobre utilizou todos – ou quase todos – os instrumentos de percussão disponíveis a uma orquestra, inclusive o sino. Cita métricas, ritmos e o famoso solo de fagote d’A sagração.

Como não poderia deixar de ser, toma partido de dissonâncias e radicaliza a polirritmia usada por Stravinski.

Foi possível ouvir no Sacre du sacre a força rítmica do maracatu, não por qualquer referência musical direta, mas por algo que vem de dentro e cuja força perpassa toda a obra.

A escrita sinfônica do Sacre du sacre é admirável e chocante, capaz de produzir, como produziu, uma funda impressão no público – de fato, só uma obra visceral poderia homenagear dignamente A sagração da primavera.

Em 2019, Marlos Nobre escreveu uma nova encomenda para a…

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