Jerônimo Teixeira na Crusoé: Não acredite em ninguém
Este deveria ser o lema fundamental da imprensa, mas muitos jornalistas se perdem porque têm demasiada fé em si mesmos
Não dá para acreditar em bilionários.
Desta vez, não estou falando do ricaço que cometeu a incomensurável besteira de aceitar um cargo no próximo governo Trump, mas de um concorrente seu no negócio das viagens especiais: Jeff Bezos, o homem da Amazon.
A distinta meia dúzia de leitores que acompanham esta coluna lembrarão que na edição de 1º de novembro elogiei a decisão do The Washington Post – jornal que pertence ao vasto império empresarial de Bezos – de não apoiar um candidato à eleição presidencial americana, quebrando uma tradição de alguns anos.
No texto em que justificava sua decisão, Bezos reconhecia a crise de credibilidade que vem abalando a imprensa americana (e não só americana). Foi por isso que eu o aplaudi.
A apóstrofe de Biden
Ocorre que dormi no ponto: na mesma semana em que saudei a lucidez de Bezos, seu jornal tentou salvar Joe Biden de um vexame (justo Biden, que já era pródigo em vexames antes da senilidade).
O atual presidente americano, como se sabe, chamou os apoiadores de Trump de “lixo”, o que deve ter prejudicado a já claudicante campanha de Kamala Harris.
Os redatores da Casa Branca se esforçaram para corrigir a gafe. Acrescentaram uma apóstrofe à fala desastrada.
Na língua inglesa, esse sinal gráfico indica o genitivo. Serve para criar uma relação de posse ou pertencimento entre diferentes termos da frase.
Biden, portanto, não teria dito que os trumpistas são lixo: ele estaria falando sobre o lixo dos trumpistas.
Longe de ofender milhões de eleitores, Biden apenas pediu que eles não joguem bituca de cigarro ou copo plástico no chão…
O Post passa o pano
Um jornalista do The Washington Post comprou essa versão.
Produziu um caudaloso artigo para dizer que era não só plausível…
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