Jerônimo Teixeira na Crusoé: Manifesto do isentão melancólico
Quando esquerda e direita se convertem em pacotões de ideias feitas, a fuga da política é uma alternativa razoável

Já fui ferozmente de esquerda e já fui furiosamente de direita. Hoje, sou serenamente cético, desencantado com os grandes sistemas de ideias e desiludido com os arranjos miúdos da política.
Ou, se preferirem a simplicidade da gíria, me tornei um isentão.
Não há nada de original nessa minha trajetória da convicção à melancolia. Fui de esquerda porque jovem, e a um jovem, dizia Nelson Rodrigues, só se deve dar um conselho: envelheça!
Segui o conselho. Minha transição da sinistra para a destra veio com a idade.
É o que reza um manjado lugar comum: “quem não é de esquerda aos 20 não tem coração; quem permanece de esquerda aos 40 não tem cabeça”.
(Pesquisei a autoria da frase, apelando inclusive à inteligência artificial, sem sucesso. Posso garantir apenas que não foi Churchill quem disse isso.)
A maturidade que amansou a fera mais tarde esfriou a fúria. Enjoei da direita coisa de um ano ou ano e meio antes dela ter chegado ao poder. Sigo nauseado.
E é por isso tudo que não faço mais questão de me definir a partir de categorias estabelecidas pela posição que glúteos conservadores e radicais ocuparam em uma assembleia francesa do século 18.
Venho dizendo o que penso semanalmente nesta coluna e ocasionalmente em outros veículos de imprensa. O leitor, se quiser, pode calcular minha posição no Diagrama de Nolan.
Modestamente, espero apenas ser lido e apreciado – mesmo quando discordam do que digo.
Posições absolutas
Reconheço, claro, que esquerda e direita fazem parte do vocabulário político básico. São termos inescapáveis. Mas precisam ser tão antagônicos?
No período que sucedeu a Guerra Fria, com o império comunista desmantelado na Europa, parecia até que os dois polos seriam capazes de…
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