Janja ou Virgínia? Quem se sai melhor na política?
Virgínia estrutura a presença pública para colher resultado. Janja faz sinalização de virtude e espera admiração pela intenção

Não é porque são mulheres. Nem porque atuam na mesma área. Comparei Janja e Virgínia porque as duas se revezaram nas performances públicas mais comentadas do dia. E ambas lidam com imagem pública em larga escala.
A diferença entre elas revela um contraste fundamental. Uma entrega presença pública com foco em resultado. A outra faz sinalização de virtude esperando ser admirada pela boa intenção.
Janja continua sendo a kriptonita de Lula. Minha teoria da conspiração preferida é que ela foi a primeira aluna do Olavo de Carvalho e se infiltrou na esquerda para implodir o PT por dentro. Brincadeira, claro. Mas explicaria muita coisa.
Desta vez, o vexame foi internacional. Durante missão oficial na China, em uma reunião que envolvia primeiras-damas e onde não havia previsão de falas, Janja pediu a palavra. Fez uma cobrança direta ao presidente Xi Jinping sobre o TikTok, insinuando que a plataforma estaria favorecendo a extrema direita.
O problema não é só a quebra de protocolo. É o conteúdo do pedido. A cobrança parte de uma visão precária sobre o funcionamento de algoritmos e desconsidera completamente o contexto político e econômico envolvido. É pensamento mágico com roupagem progressista. Um ato simbólico que mistura sinalização de virtude com total desconhecimento técnico e geopolítico.
Pior: ela foi pedir que o presidente de um país comunista interferisse numa empresa privada. A confusão conceitual é profunda. Não ficou claro se Janja acredita que a China é uma democracia ou se acha que o Brasil é uma ditadura. A única certeza é a tentativa de se afirmar como protagonista de um gesto nobre, mesmo que à custa da institucionalidade. Ficou claro que o principal problema de Janja não é com diplomacia nem com algoritmos, é com a democracia.
O desdobramento veio com o chilique de Lula. Incomodado com a repercussão, disse que se tratava de uma reunião privada e alguém “vazou” para a imprensa. Não era. Era missão oficial. Estavam ali representando o Brasil. A fala, ainda que constrangedora, foi feita em ambiente institucional e sua divulgação é de interesse público.
O surto presidencial não revela preocupação com a comunicação, mas com o controle. Quem se desespera porque a imprensa divulga falas feitas durante missão oficial revela não compreender o papel da democracia nem o da imprensa. Ou compreender muito bem as duas coisas e ter repulsa de ambas.
Enquanto isso, Virgínia estava na CPI. Ela não é da política, mas trabalha imagem pública com sofisticação. Tem 53 milhões de seguidores, um império de patrocínios e presença marcante em redes. Durante a aparição na CPI das bets, perdeu cem mil seguidores. Para qualquer um, seria um desastre. Para ela, é oscilação estatística.
Foi convocada e apareceu com imagem cuidadosamente composta: carinha lavada, moletom com a foto da filha, copo Stanley gigante rosa, óculosl. A infantilização estratégica muda a percepção do confronto. Quem a questiona parece agressivo. Quem a interpela parece opressor. Nenhum senador consegue vencê-la na disputa simbólica.
Ela não entregou respostas coerentes, bem treinadas. Saiu da audiência com selfie ao lado de parlamentar. No mesmo dia, ativou o engajamento. Promoção nos produtos, sequência de stories, capitalização de audiência. Quando a onda passou, apagou tudo. Vida que segue.
Essa é a diferença.
Virgínia estrutura a presença pública para colher resultado. Janja faz sinalização de virtude e espera admiração pela intenção. Uma atua com estratégia. A outra com voluntarismo. Uma se baseia em entrega. A outra, em suposto esforço.
E a gente não precisa nem dizer qual das duas dá certo. A árvore se conhece pelos frutos.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (1)
Marcilio Monteiro De Souza
15.05.2025 10:18Exatamente, aprender a ficar calado na hora certa é uma virtude.