Esse escândalo absurdo no INSS mostra uma realidade muito triste: não vale a pena ser honesto no Brasil. A gente é honesto por profissão de fé. O pessoal tira quem é honesto de otário, de trouxa. Como se você estivesse perdendo oportunidades da vida. Mas as “oportunidades” são essas: delinquir, tungar dinheiro dos outros. O honesto é tratado como quem não soube aproveitar.

Estamos falando de um escândalo de R$ 6,3 bilhões. Dinheiro desviado da aposentadoria. É o tipo de covardia que ainda encontra quem defenda. Aparece sempre alguém pra contar uma história triste, dizer que é perseguição, que é inveja. E tem quem compre.

Você, que é honesto, sabe do que estou falando. Já teve gente ao seu redor dizendo que você é trouxa por não delinquir.

O presidente do INSS afastado, Alessandro Stefanutto, não era um estranho no meio político. Era funcionário de carreira. Procurador do INSS. Dedicado. Ganhava bem. Com estabilidade, com salário garantido pra sempre. Mesmo assim, topou delinquir. Ou, no mínimo, deixar acontecer.

Uma operação desse tamanho teve setecentos agentes da Polícia Federal. Gente da CGU. Era um esquema com muitos envolvidos. E para cada envolvido tem pelo menos dez que fingiram não ver. Não dá pra desviar dinheiro sem ajuda. E essa ajuda, na maioria das vezes, é omissão. Por covardia ou por medo. Porque quando alguém decide não se omitir, geralmente se dá mal.

Lembra da Jorgina de Freitas? Um dos crimes mais famosos dos anos noventa. Ela tungou R$ 2 bilhões do INSS. Foi presa, claro. Mas depois foi solta, ainda reclamando que o caso dela foi “espetacularizado”. Morreu após complicações de um acidente de carro. Mas o mais chocante é que poucos lembram dela. E muitos outros casos de corrupção seguiram impunes.

O Brasil virou o país onde não se pergunta mais se o crime compensa. A pergunta agora é: ser honesto compensa? Porque para muitos, não. Eles nunca acham que vão ser pegos. Estão fazendo isso no INSS desde 2019. Passaram por dois governos. O esquema não parou. E por quê? Porque eles confiam na impunidade.

E quem está perto pode até não participar, mas também não fala. Esse é o país que a gente está construindo, um país de paquita de político, idólatra de político. Enquanto existir uma multidão disposta a atravessar a rua para defender um pilantra, vai ter pilantra agindo. O caso do INSS mostra isso: estamos virando um país onde ser honesto virou quase um sacerdócio. Porque confessar que é honesto virou piada.