Turquia pretende ampliar sua influência na ‘nova Síria’, diz Economist
Reportagem da revista britânica aponta interesses turcos na região agora administrada pelos rebeldes do Tahrir al-Sham (HTS)

A revista britânica The Economist publicou uma reportagem na qual aponta a intenção da Turquia, comandada pelo presidente Recepp Tayip Erdogan, em ampliar sua influência sobre ‘a nova Síria’ após a queda do ditador Bashar Assad.
De acordo com a reportagem, os turcos são os que “mais tem a ganhar com uma Síria estável”, agora liderada pelos rebeldes do Tahrir al-Sham (HTS), principalmente em relação ao retorno de refugiados sírios ao seu país de origem.
“A Turquia abriga mais de 3 milhões de refugiados sírios e quer que a Síria seja segura o suficiente para que muitos retornem“, diz trecho.
Para a Economist, a Turquia também tem o objetivo de sufocar a autonomia curda no norte da Síria, a partir da criação de um novo exército legítimo e, desta maneira, recuperar a influência sobre o país vizinho.
Influência sobre o HTS
Segundo a revista britânica, as autoridades turcas ignoraram as alegações divulgadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que o país auxiliou a ofensiva do HTS sobre o regime de Assad.
Por outro lado, os recentes movimentos do governo turco em oferecer ajuda para a Síria elaborar uma nova constituição e a visita de funcionários do alto escalão à capital Damasco representam “sinais difíceis de ignorar” na tentativa de estabelecer influência política na região.
Até mesmo as empresas privadas turcas aproximaram-se dos sírios.
“Empresários turcos correram atrás deles. Um dia após os rebeldes entrarem em Damasco, as principais empresas de construção e cimento da Turquia viram suas ações subirem. A transportadora nacional do país, a Turkish Airlines, retomará os voos para a Síria em 23 de janeiro“, destaca a revista.
O líder do novo governo, Ahmed Al-Shaara, porém, descarta ser um vassalo dos turcos.
A Economist destacou as recentes ajudas da Arábia Saudita, sobretudo na substituição do fornecimento de petróleo à Síria, que anteriormente era entregue pelo Irã.
“O Sr. Sharaa está interessado em obter apoio de todos os lados. A Arábia Saudita já está enviando ajuda humanitária e se ofereceu para substituir o Irã como principal fornecedor de petróleo da Síria. Ela pode gastar muito mais que a Turquia na reconstrução da Síria e espera usar isso a seu favor. A Turquia quer treinar e equipar o novo exército da Síria, mas outro país do Oriente Médio fez uma oferta mais atraente, de acordo com um oficial do HTS . “Somos gratos”, ele diz, referindo-se à Turquia, “mas não precisamos nos colocar em nenhum campo único”, afirma a revista.
Idlib
A Economist retrata a antiga influência turca na economia da província de Idlib, uma das mais importantes do país:
“Se não fosse pela destruição de mais de 13 anos de guerra, você quase poderia confundir partes da província de Idlib, no nordeste, com a Turquia. Lojas oferecem produtos turcos. Muitas empresas aceitam apenas lira turca. Linhas de energia da Turquia fornecem eletricidade 24 horas por dia; em Damasco, as pessoas se contentam com apenas quatro horas por dia“, diz a reportagem.
Obstáculos
Segundo a revista, a Turquia vê Israel como o grande obstáculo para exercer sua influência sobre a região.
Recentemente, o governo turco condenou o ataque das Forças de Defesa de Israel às instalações militares deixadas pelo regime de Assad, além da aprovação dos novos assentamentos nas Colinas de Golã.
A Economist destaca ainda o temor da Turquia em Israel apoiar as milícias curdas:
“Os apelos do ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, por mais cooperação com os curdos da Síria aumentaram os temores em Ancara de que Israel esteja apoiando o YPG contra a Turquia“, diz a revista.
Alguns países árabes também estão desconfortáveis com a influência exercida pelos turcos.
Para a revista, a Arábia Saudita vê a Turquia como um rival “pela liderança do mundo sunita”
“Os Emirados Árabes Unidos e o Egito se ressentem do apoio do Sr. Erdogan a grupos islâmicos. Como isso causou um impasse doloroso com o mundo árabe há uma década, o presidente turco terá cuidado para não atiçar as chamas do islamismo político mais uma vez. O regime de Assad abraçou publicamente o pan-arabismo, mas, no final das contas, serviu como um ponto de apoio iraniano no mundo árabe. Os vizinhos da Síria não querem que ela se liberte da influência do Irã apenas para ficar sob a da Turquia“.
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