“Se não podemos mais contar contos de fadas, negamos as verdades humanas mais profundas”
O romancista americano Andrew Klavan defende que só a volta da arte pode salvar o Ocidente — e ataca a Disney, Hollywood, a imprensa tradicional e a “cultura da morte”.

O escritor americano Andrew Klavan, autor de romances e apresentador no site Daily Wire, participou de uma extensa entrevista publicada nesta quarta, 16, no canal britânico Triggernometry.
O vídeo se chama “Precisamos de uma ressurreição cultural”. Com seu estilo provocador e bem-humorado, Klavan fez um diagnóstico amplo da crise cultural, espiritual e política dos Estados Unidos, apontando a recuperação das artes como o caminho para a salvação do Ocidente.
Logo no início, ele critica a nova adaptação da Disney para Branca de Neve. “O primeiro anúncio foi: ‘Esta não será a velha Branca de Neve em que o príncipe encantado aparece’. Então não é Branca de Neve.”
Para Klavan, isso simboliza o abandono das verdades fundamentais sobre a condição humana em nome de uma agenda ideológica. “Se chegamos a um ponto em que não podemos fazer contos de fadas, estamos negando as verdades mais profundas sobre os seres humanos.”
Segundo ele, os contos dos irmãos Grimm são heranças da sabedoria feminina ancestral. “São histórias que as mulheres contavam a seus filhos, é a consciência artística coletiva das mulheres de uma época em que elas não podiam nem escrever.”
Para Klavan, ao censurar elementos clássicos dessas narrativas, o progressismo “nega a criação e o amor entre homens e mulheres”.
O escritor afirma que a cultura americana está dominada por uma “monopólio cultural da esquerda”, e que isso gerou uma arte estéril nos últimos anos. “Nos últimos cinco ou dez anos, não houve arte nos Estados Unidos.
As séries são ruins, os romances não são interessantes, a música está ruim.” Ele diz que “a arte virou fonte de ignorância” e que a estética só pode ser recuperada com a liberdade de expressão.
Crítico feroz da imprensa tradicional, Klavan diz que “as redes como NBC, ABC, CBS, New York Times e Washington Post são responsáveis por quase todo o ódio e divisão”. E completa: “Transformamos esses veículos em irrelevantes. Fizemos isso com o Daily Wire, com Joe Rogan, com Megyn Kelly.”
Klavan sustenta que o ressurgimento de uma cultura baseada na verdade precisa de concorrência direta com Hollywood e os grandes estúdios. “O que vai mudar tudo não é um arrependimento de dentro, mas sim concorrência. Quando eu e alguns amigos pudermos fazer um filme tão bom quanto o deles, eles estarão fritos.”
Sobre o futuro da mídia, ele acredita que o ambiente digital pode ser libertador: “A internet é como a imprensa de Gutenberg. É um divisor de águas em todos os sentidos.” Mas adverte que ainda há riscos, pois “há quem ganhe audiência sendo reacionário, dizendo coisas malucas só para atrair cliques”.
O escritor vê no presidente Donald Trump o catalisador de uma ruptura cultural com o establishment. “Trump não é um racista, ele é nova-iorquino. Fala como todos os nova-iorquinos.” Para ele, a eleição de Trump demonstrou que “a mídia perdeu seu poder de controle da narrativa”.
Sobre religião, Klavan prevê um renascimento espiritual nos Estados Unidos. “Estamos no início de um reavivamento religioso genuíno. E isso começa pelos intelectuais.”
Ele afirma que “a ciência moderna já não sustenta mais a ideia de que a Bíblia é incompatível com a realidade” e defende que a crença em Deus é tão real “quanto a gravidade”.
Embora critique os “fundamentalistas religiosos”, Klavan afirma que “o cristianismo é essencial para limitar os efeitos destrutivos do capitalismo” e defende uma sociedade que valorize “a maternidade e o lar”. “Mães não são apenas cuidadoras. São moldadoras da alma.”
Ele também vê uma aversão crescente ao feminino na cultura atual: “Temos um horror das mulheres porque elas nos lembram da responsabilidade, da realidade, das consequências.”
Segundo Klavan, o feminismo moderno deixou de valorizar a mulher como mãe e esposa. “Vivemos numa sociedade que basicamente despreza mães, que são o centro de toda sociedade livre.”
Ao abordar temas como aborto, identidade de gênero e liberdade religiosa, Klavan insiste na necessidade de debates abertos. “Mesmo nos casos extremos, como o aborto — que eu acredito ser uma atrocidade —, precisamos conversar. Ou isso, ou guerra civil.”
No encerramento da entrevista, Klavan volta à arte como solução: “Se Branca de Neve representa o fundo do poço, então já podemos começar a subir. Se a arte voltar, o Ocidente volta também.”
Quem é Andrew Klavan
Andrew Klavan é um escritor e roteirista americano nascido em 1954, autor de romances policiais e thrillers políticos.
Ganhador do prêmio Edgar Allan Poe de melhor romance policial, é conhecido por obras como True Crime (adaptado para o cinema por Clint Eastwood) e Empire of Lies. Também é colunista do Daily Wire e apresenta o The Andrew Klavan Show.
Klavan se converteu ao cristianismo na vida adulta e se tornou uma voz influente no debate cultural e religioso nos Estados Unidos.
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Comentários (3)
Fabio B
17.04.2025 12:20O politicamente correto, o ativismo progressista, matou a criatividade.
Marcia Elizabeth Brunetti
17.04.2025 09:03A grande midia aqui do Brasil também está ajudando a desconstruir a cultura. Se nos EUA o fisco veio do filme Branca de Neve, aqui temos a novela Vale Tudo.
Marian
17.04.2025 08:40Boa matéria. O escritor fez uma análise precisa sobre as mudanças na sociedade americana. Mas essa mudança não se restringiu a ela, mas a todo ocidente e por isso o exame de Klavan foi limitado. Agora, a quem interessou separar, colocar uns contra os outros, atacar a base da sociedade, que é a família, enfim, ocasionar a falência de valores?