“Se não podemos mais contar contos de fadas, negamos as verdades humanas mais profundas”

15.05.2025

logo-crusoe-new
O Antagonista

“Se não podemos mais contar contos de fadas, negamos as verdades humanas mais profundas”

avatar
Alexandre Borges
5 minutos de leitura 17.04.2025 05:49 comentários
Cultura

“Se não podemos mais contar contos de fadas, negamos as verdades humanas mais profundas”

O romancista americano Andrew Klavan defende que só a volta da arte pode salvar o Ocidente — e ataca a Disney, Hollywood, a imprensa tradicional e a “cultura da morte”.

avatar
Alexandre Borges
5 minutos de leitura 17.04.2025 05:49 comentários 3
“Se não podemos mais contar contos de fadas, negamos as verdades humanas mais profundas”
Foto: Reprodução

O escritor americano Andrew Klavan, autor de romances e apresentador no site Daily Wire, participou de uma extensa entrevista publicada nesta quarta, 16, no canal britânico Triggernometry.

O vídeo se chama Precisamos de uma ressurreição cultural”. Com seu estilo provocador e bem-humorado, Klavan fez um diagnóstico amplo da crise cultural, espiritual e política dos Estados Unidos, apontando a recuperação das artes como o caminho para a salvação do Ocidente.

Logo no início, ele critica a nova adaptação da Disney para Branca de Neve. “O primeiro anúncio foi: ‘Esta não será a velha Branca de Neve em que o príncipe encantado aparece’. Então não é Branca de Neve.”

Para Klavan, isso simboliza o abandono das verdades fundamentais sobre a condição humana em nome de uma agenda ideológica. “Se chegamos a um ponto em que não podemos fazer contos de fadas, estamos negando as verdades mais profundas sobre os seres humanos.”

Segundo ele, os contos dos irmãos Grimm são heranças da sabedoria feminina ancestral. “São histórias que as mulheres contavam a seus filhos, é a consciência artística coletiva das mulheres de uma época em que elas não podiam nem escrever.”

Para Klavan, ao censurar elementos clássicos dessas narrativas, o progressismo “nega a criação e o amor entre homens e mulheres”.

O escritor afirma que a cultura americana está dominada por uma “monopólio cultural da esquerda”, e que isso gerou uma arte estéril nos últimos anos. “Nos últimos cinco ou dez anos, não houve arte nos Estados Unidos.

As séries são ruins, os romances não são interessantes, a música está ruim.” Ele diz que “a arte virou fonte de ignorância” e que a estética só pode ser recuperada com a liberdade de expressão.

Crítico feroz da imprensa tradicional, Klavan diz que “as redes como NBC, ABC, CBS, New York Times e Washington Post são responsáveis por quase todo o ódio e divisão”. E completa: “Transformamos esses veículos em irrelevantes. Fizemos isso com o Daily Wire, com Joe Rogan, com Megyn Kelly.”

Klavan sustenta que o ressurgimento de uma cultura baseada na verdade precisa de concorrência direta com Hollywood e os grandes estúdios. “O que vai mudar tudo não é um arrependimento de dentro, mas sim concorrência. Quando eu e alguns amigos pudermos fazer um filme tão bom quanto o deles, eles estarão fritos.”

Sobre o futuro da mídia, ele acredita que o ambiente digital pode ser libertador: “A internet é como a imprensa de Gutenberg. É um divisor de águas em todos os sentidos.” Mas adverte que ainda há riscos, pois “há quem ganhe audiência sendo reacionário, dizendo coisas malucas só para atrair cliques”.

O escritor vê no presidente Donald Trump o catalisador de uma ruptura cultural com o establishment. “Trump não é um racista, ele é nova-iorquino. Fala como todos os nova-iorquinos.” Para ele, a eleição de Trump demonstrou que “a mídia perdeu seu poder de controle da narrativa”.

Sobre religião, Klavan prevê um renascimento espiritual nos Estados Unidos. “Estamos no início de um reavivamento religioso genuíno. E isso começa pelos intelectuais.”

Ele afirma que “a ciência moderna já não sustenta mais a ideia de que a Bíblia é incompatível com a realidade” e defende que a crença em Deus é tão real “quanto a gravidade”.

Embora critique os “fundamentalistas religiosos”, Klavan afirma que “o cristianismo é essencial para limitar os efeitos destrutivos do capitalismo” e defende uma sociedade que valorize “a maternidade e o lar”. “Mães não são apenas cuidadoras. São moldadoras da alma.”

Ele também vê uma aversão crescente ao feminino na cultura atual: “Temos um horror das mulheres porque elas nos lembram da responsabilidade, da realidade, das consequências.”

Segundo Klavan, o feminismo moderno deixou de valorizar a mulher como mãe e esposa. “Vivemos numa sociedade que basicamente despreza mães, que são o centro de toda sociedade livre.”

Ao abordar temas como aborto, identidade de gênero e liberdade religiosa, Klavan insiste na necessidade de debates abertos. “Mesmo nos casos extremos, como o aborto — que eu acredito ser uma atrocidade —, precisamos conversar. Ou isso, ou guerra civil.”

No encerramento da entrevista, Klavan volta à arte como solução: “Se Branca de Neve representa o fundo do poço, então já podemos começar a subir. Se a arte voltar, o Ocidente volta também.”

Quem é Andrew Klavan

Andrew Klavan é um escritor e roteirista americano nascido em 1954, autor de romances policiais e thrillers políticos.

Ganhador do prêmio Edgar Allan Poe de melhor romance policial, é conhecido por obras como True Crime (adaptado para o cinema por Clint Eastwood) e Empire of Lies. Também é colunista do Daily Wire e apresenta o The Andrew Klavan Show.

Klavan se converteu ao cristianismo na vida adulta e se tornou uma voz influente no debate cultural e religioso nos Estados Unidos.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

AGU dá 24h para Meta e Tiktok removerem conteúdos sobre Janja

Visualizar notícia
2

Lula passa recibo ao defender Janja na China

Visualizar notícia
3

Por unanimidade, STF condena Zambelli a 10 anos de prisão

Visualizar notícia
4

“Esquerda brigou”, “Bolsonaro sancionou”: entenda os fatos e acesse as provas

Visualizar notícia
5

Curtindo a Presidência adoidado

Visualizar notícia
6

Deputado pede convocação de chanceler para explicar fala de Lula sobre TikTok

Visualizar notícia
7

Dove insiste em agenda identitária e causa nova onda de rejeição

Visualizar notícia
8

Declaração de Bolsonaro sobre Janja incomoda Gleisi

Visualizar notícia
9

Boulos no governo Lula?

Visualizar notícia
10

Lula defende Janja após constrangimento por TikTok na China

Visualizar notícia
1

Lula defende Janja após constrangimento por TikTok na China

Visualizar notícia
2

Curtindo a Presidência adoidado

Visualizar notícia
3

Dove insiste em agenda identitária e causa nova onda de rejeição

Visualizar notícia
4

Crusoé: Lula assume que quer importar censura chinesa

Visualizar notícia
5

“Esquerda brigou”, “Bolsonaro sancionou”: entenda os fatos e acesse as provas

Visualizar notícia
6

Superiate de R$ 1 bilhão para o dono da Globo?

Visualizar notícia
7

Meio-Dia em Brasília: Um mico ambulante chamado Janja

Visualizar notícia
8

STF favorece clamor por anistia

Visualizar notícia
9

Novo aciona Justiça para impedir posse de Waguinho em boquinha na PortosRio

Visualizar notícia
10

Lula passa recibo ao defender Janja na China

Visualizar notícia
1

As falas de Mujica que a esquerda não curtiu

Visualizar notícia
2

CPI das Bets tem até tutorial do Jogo do Tigrinho

Visualizar notícia
3

Por unanimidade, STF condena Zambelli a 10 anos de prisão

Visualizar notícia
4

A sede das ONGs petistas

Visualizar notícia
5

Lula passa recibo ao defender Janja na China

Visualizar notícia
6

Janja ou Virgínia? Quem se sai melhor na política?

Visualizar notícia
7

Deputado pede convocação de chanceler para explicar fala de Lula sobre TikTok

Visualizar notícia
8

Boulos no governo Lula?

Visualizar notícia
9

Decisão do STF sobre Ramagem não fere separação de Poderes, diz Dino

Visualizar notícia
10

Brasil recorre na Espanha em processo sobre extradição de Eustáquio

Visualizar notícia

logo-oa
Assine nossa newsletter Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!
< Notícia Anterior

Dawkins celebra “vitória da ciência” após suprema corte britânica reconhecer sexo biológico

17.04.2025 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

“Farsa vazia para bilionário aplaudir”

17.04.2025 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Alexandre Borges

Analista Político em O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (3)

Fabio B

17.04.2025 12:20

O politicamente correto, o ativismo progressista, matou a criatividade.


Marcia Elizabeth Brunetti

17.04.2025 09:03

A grande midia aqui do Brasil também está ajudando a desconstruir a cultura. Se nos EUA o fisco veio do filme Branca de Neve, aqui temos a novela Vale Tudo.


Marian

17.04.2025 08:40

Boa matéria. O escritor fez uma análise precisa sobre as mudanças na sociedade americana. Mas essa mudança não se restringiu a ela, mas a todo ocidente e por isso o exame de Klavan foi limitado. Agora, a quem interessou separar, colocar uns contra os outros, atacar a base da sociedade, que é a família, enfim, ocasionar a falência de valores? 


Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Putin não deve ir à Turquia para negociação de paz com Ucrânia

Putin não deve ir à Turquia para negociação de paz com Ucrânia

Visualizar notícia
Quais são as palavras mais bonitas da língua portuguesa?

Quais são as palavras mais bonitas da língua portuguesa?

Visualizar notícia
O idioma inglês é o bandido ou o mocinho da história linguística?

O idioma inglês é o bandido ou o mocinho da história linguística?

Visualizar notícia
Ditadura de Ortega firmará acordo militar com Putin

Ditadura de Ortega firmará acordo militar com Putin

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.