Os EUA vão ignorar a guerra na Síria?
A política dos EUA em relação à Síria nos últimos dez anos tem sido alvo de críticas. Durante a administração de Barack Obama houve tentativas fracassadas de encerrar a guerra civil que começou em 2011
Nos últimos momentos de seu mandato, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, enfrenta a complexidade do conflito na Síria.
Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional de Biden, destacou, em entrevista à CNN, que não foi surpresa para Washington ver grupos rebeldes tentando explorar uma situação em que os principais apoiadores do governo sírio — Irã, Rússia e Hezbollah — estão distraídos por conflitos em outras regiões.
No entanto, a questão que persiste é se o governo americano está preparado e disposto a agir diante desse cenário.
Os EUA e a Síria
A política dos EUA em relação à Síria nos últimos dez anos tem sido alvo de críticas. Durante a administração de Barack Obama, da qual Biden foi vice-presidente, houve tentativas fracassadas de encerrar a guerra civil que começou em 2011.
Obama evitou uma intervenção militar direta na Síria, mesmo após o uso de armas químicas pelo regime de Bashar al-Assad em 2013. A resposta acabou ficando nas mãos da Rússia, que negociou a entrega das armas químicas de Assad à Organização para a Proibição de Armas Químicas.
Nos últimos anos, a Síria tornou-se um tema periférico para Washington até o recente avanço do grupo “Comitê para a Libertação do Levante” (HTS) no norte do país. O dilema para os EUA é duplo: enquanto veem o regime de Assad como ilegítimo, também classificam o HTS como organização terrorista.
Administração Biden
Steven Heydemann, da Brookings Institution, observa que os EUA têm desempenhado um papel secundário na Síria por anos e investido pouco diplomaticamente no conflito, deixando grande parte da mediação ao processo da ONU e ao processo de Astana liderado pela Turquia e Rússia.
Qutaiba Idlbi, especialista do Atlantic Council, explica que a administração Biden vinha trabalhando para aliviar sanções contra Assad em troca da redução das entregas ao Hezbollah via Síria. No entanto, há discordâncias internas sobre essa abordagem devido ao potencial fortalecimento do Irã na região.
Com Biden no cargo até janeiro de 2025 e enfrentando pressões de outros conflitos globais, como na Ucrânia e em Gaza, as expectativas sobre uma intervenção significativa na Síria são limitadas. Idlbi acredita que qualquer ação substancial será deixada para o próximo governo.
Ibrahim al Assil, do Middle East Institute, argumenta, porém, que Biden não pode deixar o problema para seu sucessor sem consequências significativas.
Al Assil defende que os EUA devem apoiar as Forças Democráticas Sírias lideradas pelos curdos para evitar o ressurgimento do Estado Islâmico e desempenhar um papel diplomático ativo nas negociações com Turquia e Rússia. No entanto, há um ceticismo quanto ao interesse real dos EUA em aumentar seu envolvimento na Síria.
Donald Trump
Enquanto isso, Donald Trump se prepara para assumir novamente a presidência. Durante seu primeiro mandato, ele considerou retirar as tropas americanas da Síria, mas enfrentou críticas por potencialmente abandonar aliados curdos. A postura futura da administração Trump permanece incerta, com opiniões divididas entre seus conselheiros.
A situação no terreno pode forçar uma reavaliação das estratégias americanas. Embora alguns membros da equipe de Trump defendam um endurecimento contra o retorno de grupos terroristas, a rapidez do colapso do regime Assad poderia influenciar as decisões futuras dos EUA sobre sua presença na região.
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