O papa que enfrentou o kirchnerismo

14.05.2025

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O papa que enfrentou o kirchnerismo

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Alexandre Borges
4 minutos de leitura 21.04.2025 06:52 comentários
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O papa que enfrentou o kirchnerismo

O jornalista Horacio Verbitsky, ligado ao kirchnerismo, acusou Francisco, de maneira infundada, de ter colaborado com os militares na ditadura

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Alexandre Borges
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O papa que enfrentou o kirchnerismo
Foto: Reprodução

A relação entre Jorge Mario Bergoglio, que se tornou o papa Francisco em 2013, e o casal Néstor e Cristina Kirchner, ex-presidentes da Argentina, foi marcada por confrontos públicos, acusações políticas e alguns raros gestos de conciliação.

O embate, que atravessou temas sociais, morais e institucionais, se desenrolou entre 2003 e 2015, refletindo tensões profundas entre a Igreja Católica argentina e o kirchnerismo.

O distanciamento começou ainda no primeiro ano do governo Néstor Kirchner.

Em 2004, Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires, criticou em homilia o “exibicionismo” de governantes.

No ano seguinte, o governo suspendeu sua presença na tradicional missa de 25 de maio na catedral metropolitana, e o arcebispado cancelou a celebração.

A crise se intensificou quando Kirchner passou a se referir ao arcebispo como “chefe espiritual da oposição”.

Durante o governo de Cristina Kirchner (2007–2015), as divergências se acentuaram.

Em 2008, no auge do conflito entre o Executivo e o setor agropecuário, Bergoglio manifestou apoio aos produtores e pediu “gesto de grandeza” da presidente. O então vice, Julio Cobos, que rompeu com Cristina durante a votação no Senado, também foi recebido pelo cardeal.

Em 2009, Bergoglio afirmou que a pobreza na Argentina violava os direitos humanos. Cristina respondeu dizendo que preferia ações concretas a declarações.

A crise atingiu seu auge em 2010, durante o debate sobre o casamento homossexual. Bergoglio liderou a oposição à proposta, classificando-a como “mentira que pretende confundir os filhos de Deus”.

Cristina, em viagem oficial, acusou o discurso da Igreja de remeter “aos tempos das cruzadas”.

Outro ponto de tensão foi o papel de Bergoglio durante a ditadura militar.

O jornalista Horacio Verbitsky, ligado ao kirchnerismo, acusou Francisco, de maneira infundada, de ter colaborado com os militares na ditadura.

Em 2010, Bergoglio depôs por quatro horas no caso ESMA. Em 2023, já como papa, afirmou que o governo Cristina tentou condená-lo e ordenou a três juízes que buscassem meios para isso.

Apesar das divergências, houve momentos de trégua. Após a morte de Néstor Kirchner, em 2010, Bergoglio celebrou missa e pediu que o país superasse antagonismos.

Quando o papa perdeu familiares em acidente em 2014, Cristina expressou condolências. Em sua eleição ao pontificado, a presidente enviou felicitações, ainda que com tom protocolar.

Em 2014, um encontro promovido pelo papa com sindicalistas, empresários e ministros argentinos no Vaticano reacendeu a tensão com o governo. O chefe da Casa Civil acusou a imprensa de manipular o evento, atribuindo-lhe intenções políticas inexistentes.

Um papa comunista?

Na edição nº 96 de Crusoé, o chileno Axel Kaiser afirmou que o Papa Francisco mantinha “um histórico de aproximação com os líderes populistas de esquerda da América Latina”. Citou os encontros com Cristina Kirchner, Evo Morales, Raúl Castro e Lula, e disse que “eles têm as mesmas ideias”.

Kaiser, defensor do pensamento libertário e crítico do intervencionismo estatal, associou o papa à Teologia do Povo, vertente argentina da Teologia da Libertação. “A sociedade fica dividida em dois campos: o povo puro e a elite corrupta”, declarou.

As críticas, segundo defensores do papa, contrastam com a atuação pastoral de Francisco, marcada pelo diálogo com interlocutores de diferentes posições. O Papa também recebeu figuras de centro e de direita, como Mauricio Macri, JD Vance e Donald Trump.

Embora associado a causas sociais, Francisco sempre rejeitou o marxismo. “Nunca compartilhei a ideologia marxista, porque ela é falsa”, disse em entrevista. Em outro momento, afirmou que a opção pelos pobres “é uma categoria teológica, não ideológica”.

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Alexandre Borges

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Comentários (3)

Marian

21.04.2025 16:09

Em 2013 Kirchner foi recebida pelo Papa Francisco no Vaticano e até almoçaram juntos ... Águas passadas né?


Marcelo Tolaine Paffetti

21.04.2025 12:58

Papa Francisco dava sinais de ingenuidade qdo reverberava as mentiras que Lula e seu bando cuspia em seus ouvidos. Mas ser ingênuo não é pecado. Vá com Deus, Papa Francisco, acima de tudo, um bom homem.


Amaury G Feitosa

21.04.2025 10:28

Enquanto a Argentina sai do lixo e da merda o Brasil refém de uma DITADURA ASSASSINA e LADRAVAZ importa uma criminosa cúmplice do ladrão "descondenado" obrigando aos manés pagar o avião e sabe Zeus mais o que ... mas esta escória e seus asseclas estão com os dias contados a reação do povo já freou estes criminosos que serão implodidos nas urnas como deve ser ... e quem sobreviver sorrirá !!!


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