"O Irã só tem opções ruins agora"

18.07.2025

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“O Irã só tem opções ruins agora”

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Alexandre Borges
5 minutos de leitura 20.06.2025 06:09 comentários
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“O Irã só tem opções ruins agora”

Jornalistas britânicos analisam como a estratégia de sobrevivência do regime iraniano desmoronou após o ataque do Hamas a Israel

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Alexandre Borges
5 minutos de leitura 20.06.2025 06:09 comentários 1
“O Irã só tem opções ruins agora”
Reprodução

Os repórteres Mehul Srivastava e Andrew England, ambos do Financial Times, publicaram nesta quinta, 20, artigo intitulado “O colapso da estratégia iraniana de ‘nem guerra, nem paz’”, em que descrevem como o Irã entrou em uma guerra que passou décadas tentando evitar e por que essa guerra pode ser o começo do fim da sua estratégia militar.

A análise parte do assassinato de Qassem Soleimani em janeiro de 2020. “O cálculo de Khamenei atingiu dois objetivos: mostrar aos apoiadores que o regime podia enfrentar a superpotência mundial e evitar uma guerra total que ameaçaria sua sobrevivência.”

Era a aplicação prática da estratégia defendida há anos pelo líder supremo: agir por meio de aliados, fazer ameaças graduais, mas manter o conflito longe das fronteiras do Irã.

Esse equilíbrio acabou após o massacre do Hamas em 7 de outubro de 2023. “O Irã hoje se vê lutando pela própria sobrevivência, forçado a travar a guerra total que sempre tentou evitar.”

A resposta de Israel foi inédita: ataques coordenados, destruição de defesas aéreas iranianas e assassinatos seletivos, como o do líder do Hamas em Teerã, em julho de 2024.

“Agora o Irã enfrenta uma guerra que não pode vencer — e terá de aceitar um acordo nuclear em termos piores que os anteriores”, diz a pesquisadora Ellie Geranmayeh, do Conselho Europeu de Relações Exteriores.

O regime subestimou a disposição de Israel para retaliar, como afirmou Emile Hokayem, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos: “O Irã avaliou mal o apetite de risco de Israel depois de 7 de outubro, refletindo miopia estratégica e arrogância.”

Hokayem resumiu a ofensiva: “Em setembro, matou Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, e outros comandantes seniores, enquanto invadia o sul do Líbano e bombardeava o país.”

A supremacia aérea e a inteligência israelense surpreenderam o Irã. Em outubro, mísseis destruíram as baterias S-300, principais sistemas antiaéreos russos operados por Teerã.

“Israel conseguiu impedir qualquer resposta do outro lado, eliminando estrategistas e centros de comando e controle.” Isso, segundo Hokayem, foi um fracasso monumental para o Irã.

Na prática, a guerra assimétrica construída por Soleimani com redes de milícias se mostrou ineficaz contra um estado com poder aéreo absoluto.

Mesmo após perder posições e sofrer ataques dentro de suas fronteiras, o Irã tentou manter a narrativa de que não buscava escalada: “Teerã apoiou seus aliados, mas sinalizou que queria evitar conflito direto com Israel e pediu cessar-fogo em Gaza.”

Israel, por sua vez, aproveitou o espaço: “A surpresa não foi o ataque – foi o fato de que Israel escolheu atacar.”

O Hezbollah, peça central da estratégia iraniana, foi derrotado em guerra de atrito no sul do Líbano. “Em novembro, o grupo foi forçado a aceitar um cessar-fogo, nos termos de Netanyahu, enquanto continuava a sofrer ataques israelenses.”

Mesmo com barragens de mísseis, o Irã não conseguiu reverter a vantagem militar de Israel. “A capacidade do Irã de usar seus arsenais foi significativamente reduzida por uma ofensiva israelense muito eficaz para dominar o espaço aéreo e desorganizar o comando e controle“, diz Sidharth Kaushal, do instituto britânico RUSI.

O pior cenário ainda está no horizonte.

Se os EUA entrarem diretamente na guerra, o Irã pode reagir contra bases americanas e alvos energéticos no Golfo: “Mas seria outra grande aposta para Khamenei, com risco de uma resposta ainda mais feroz de Trump.”

Enquanto isso, os aliados regionais do Irã mostram hesitação: o Hezbollah está praticamente inativo, os Houthis continuam com ataques pontuais e o Hamas está cada vez mais isolado. “O eixo parece cada vez mais fraco”, diz Kaushal.

Para Hokayem, isso revela os erros do passado: “Soleimani terminou como o arquiteto de uma estratégia falha, primeiro ao sobrecarregar o Irã com investimentos no Iraque e na Síria, e depois ao superestimar o poder da rede.” O Irã priorizou mísseis e milícias, mas negligenciou sua defesa interna, sobretudo a aérea.

O artigo mostra por que, ao tentar evitar uma guerra convencional direta, o Irã acabou encurralado em uma. E ao insistir por décadas na doutrina de Soleimani, Khamenei não percebeu que o cenário geopolítico e a disposição de Israel haviam mudado radicalmente.

Quem é Mehul Srivastava

Mehul Srivastava é jornalista indiano e correspondente internacional do Financial Times, com passagens pelo Bloomberg e pela Associated Press. Especialista em Oriente Médio, cobriu conflitos em Gaza, Irã, Ucrânia e Síria. É autor de reportagens premiadas sobre segurança e espionagem.

Quem é Andrew England

Andrew England é jornalista britânico e editor do Financial Times para Oriente Médio. Tem mais de duas décadas de experiência cobrindo política e economia em países árabes, com destaque para Irã, Egito e os países do Golfo. Já atuou como correspondente no Cairo e em Dubai.

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Alexandre Borges

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Comentários (1)

Rosa

20.06.2025 10:47

O chefe da Eurasia disse o mesmo no programa William wac ontem a noite....


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