MS-13: A gangue que degola e recruta crianças nos EUA
Criada por imigrantes em Los Angeles, a Mara Salvatrucha se espalhou pelas Américas com brutalidade extrema, rituais de sangue e um modelo descentralizado que desafia governos

O MS-13 não é uma gangue comum. Conhecido pelo nome completo Mara Salvatrucha, nasceu nos anos 1980 em Los Angeles, entre imigrantes salvadorenhos que fugiam da guerra civil em seu país.
Hoje, é uma organização criminosa transnacional com dezenas de milhares de membros espalhados por pelo menos quatro países e uma reputação que causa pavor onde quer que atue.
Com rituais de iniciação sangrentos, execuções com facões, tatuagens que marcam seus integrantes até a morte e uma estrutura que opera como franquia do crime, a MS-13 se consolidou como uma das organizações mais perigosas do mundo — e agora é formalmente tratada pelos Estados Unidos como um grupo terrorista.
O nome da gangue é carregado de símbolos. “Mara” é gíria para gangue, “Salva” remete a El Salvador, e “trucha” significa “esperto” ou “malandro”. O número 13 refere-se à posição da letra M no alfabeto, homenagem à “La Eme”, a máfia mexicana. Mas a origem aparentemente caótica dessa quadrilha se transformou em um sistema de terror disciplinado.
Um de seus primeiros chefes, Ernesto Deras, era um ex-militar treinado por Boinas Verdes americanos. Ele aplicou táticas de guerra no cotidiano da gangue, que logo passou de grupo de jovens delinquentes a organização letal com tentáculos nos Estados Unidos, América Central e, mais recentemente, na Europa.
A expansão da MS-13 aconteceu com apoio involuntário do governo americano. Políticas de deportação enviaram milhares de criminosos de volta a El Salvador, Guatemala e Honduras. Lá, longe das autoridades americanas e em meio à fragilidade institucional desses países, os criminosos se reagruparam e fundaram novas células.
O ciclo era perverso: deportados criavam novas unidades, que depois voltavam ilegalmente para os EUA, levando consigo a marca de violência e os códigos da gangue.
A MS-13 é descentralizada, sem comando único, e opera por “cliques” — pequenas células locais que têm autonomia para agir, matar, extorquir e recrutar conforme as circunstâncias do território onde estão.
Nos Estados Unidos, há mais de 60 células espalhadas por 46 estados. Em El Salvador, são cerca de 250. Cada célula adota os princípios do grupo, mas adapta suas ações de acordo com a realidade local. Essa estrutura pulverizada dificulta o combate policial e impede o desmantelamento completo.
A brutalidade da MS-13 é deliberada. Seus crimes são marcados por excesso de violência: facões substituem armas de fogo, mutilações são comuns, e execuções públicas funcionam como demonstrações de força.
Em 2017, membros da gangue mataram um homem com cem facadas, o decapitaram e arrancaram seu coração em um parque nos arredores de Washington. O crime foi coordenado por walkie-talkies e planejado por semanas. É esse tipo de ação que inspira o lema não oficial da gangue, registrado pelo FBI: “matar, estuprar, controlar”.
Ingressar na MS-13 exige ritual de sangue. Um espancamento de 13 segundos é o rito mais brando. Em muitos casos, o candidato precisa cometer um homicídio. Abandonar a gangue é quase impossível: tatuagens enormes no peito e no rosto identificam o integrante para sempre. A deserção costuma ser punida com morte.
A MS-13 não controla rotas do tráfico de drogas como os cartéis mexicanos, mas presta serviços a eles.
Executa rivais, protege cargas, transporta pessoas. Seu portfólio criminoso é extenso: tráfico de drogas e armas, contrabando de pessoas, extorsão, estupro, homicídio, sequestro, prostituição, roubo de carros, furto, falsificação de documentos. Mas seu diferencial é o terror.
O grupo foca no recrutamento de adolescentes pobres, filhos de imigrantes, jovens de periferias urbanas. Com promessas de pertencimento, dinheiro e poder, a gangue perpetua sua existência e renova seus quadros com eficiência assustadora.
Em 2025, o governo dos Estados Unidos classificou formalmente a MS-13 como Organização Terrorista Estrangeira (FTO).
Foi a primeira gangue de rua a receber esse status, o que amplia os mecanismos legais para combatê-la. A medida veio após décadas de fracasso em estratégias anteriores — sobretudo as deportações em massa sem controle dos criminosos no país de destino.
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