Irã conseguiu esconder urânio enriquecido antes de sofrer ataque?
Tal material poderia ser rapidamente enriquecido até 90%, grau necessário para a fabricação de ogivas nucleares

Após os recentes e significativos ataques a instalações nucleares no Irã, o presidente dos Estados Unidos descreveu a operação como um grande sucesso. Entretanto, permanece a incerteza se o regime iraniano conseguiu desviar quantidades de urânio altamente enriquecido antes das ofensivas.
Em um discurso à nação, o presidente Donald Trump não deixou espaço para dúvidas ao afirmar que as principais instalações nucleares do Irã foram “completamente e totalmente destruídas”.
Se essa afirmação for verdadeira, o impacto sobre o regime em Teerã pode ser substancial. Contudo, à medida que o tempo avança desde os ataques, a administração americana começou a moderar suas declarações sobre o que foi rotulado por Trump como um “espetacular sucesso”.
No final de semana, os EUA lançaram uma ofensiva denominada “Operação Martelo da Meia-Noite”, utilizando bombas projetadas para penetrar bunkers nas instalações subterrâneas de enriquecimento de urânio em Fordo. Outras áreas nucleares em Natanz e Isfahan também foram alvo de ataques aéreos americanos.
Pentágono: otimismo inicial seguido de cautela
Em uma coletiva de imprensa realizada no domingo, 23 de junho, pela manhã, logo após o pronunciamento de Trump, tanto o secretário de Defesa Pete Hegseth quanto o chefe do Estado-Maior Conjunto, Dan Caine, mostraram-se mais cautelosos.
Hegseth inicialmente declarou que as “ambições nucleares iranianas” estavam “extintas”, mas quando questionado, ele esclareceu: “Acreditamos que conseguimos destruir as capacidades operacionais”.
O general Dan Caine adotou uma postura ainda mais cautelosa. Embora tenha mencionado “danos extremamente severos”, evitou fazer declarações definitivas.
Ao ser indagado sobre a possibilidade de partes da infraestrutura nuclear terem permanecido intactas, Caine respondeu que ainda era “muito cedo” para avaliar o que poderia ter sobrevivido.
Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)
A mesma incerteza foi expressa por Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em suas declarações na segunda-feira, 23.
Ele comentou que, dada a natureza das bombas utilizadas e a alta sensibilidade das centrífugas a vibrações, é provável que os ataques tenham causado “danos muito significativos” às instalações subterrâneas em Fordo, embora ninguém possa afirmar com certeza o alcance desses danos neste momento.
Possibilidade de desvio de urânio
Uma questão crítica gira em torno da possibilidade de o Irã ter conseguido transferir 400 quilos de urânio enriquecido a 60% para locais menores antes dos ataques.
Tal material poderia ser rapidamente enriquecido até 90%, grau necessário para a fabricação de ogivas nucleares.
Relatórios da mídia, incluindo uma matéria do jornal “New York Times”, sugerem que o regime pode ter conseguido realizar essa transferência.
O secretário de Estado Marco Rubio expressou ceticismo em relação às alegações sobre o transporte do urânio iraniano durante entrevista ao canal CBS: “Ninguém poderá afirmar com certeza nos próximos dias. Mas eu duvido que eles tenham conseguido mover”, afirmou ele, ressaltando as dificuldades logísticas no Irã sob vigilância constante.
No entanto, Grossi também indicou acreditar que algum material foi retirado antes dos ataques.
Mídia estatais e autoridades iranianas minimizam ataque
Enquanto isso, veículos de mídia estatais e autoridades iranianas tentam minimizar a percepção de que os ataques americanos causaram danos irreparáveis ao programa nuclear do país.
O almirante Ali Shamkhani, secretário do Conselho de Segurança Nacional, declarou em sua conta no X que mesmo se as instalações forem completamente destruídas, os materiais enriquecidos e o conhecimento técnico local ainda permanecerão.
A agência estatal Mehr News também adotou uma narrativa semelhante no fim de semana, afirmando que embora o ataque dos EUA seja sério, não é devastador.
Em resposta ao crescente debate público sobre os danos causados, Trump recorreu à sua plataforma Truth Social para reafirmar que as destruições nas instalações nucleares iranianas são “monumentais”, corroboradas por imagens de satélite.
Ele utilizou o termo “aniquilação” como “absolutamente adequado”, insistindo que os maiores danos ocorreram nas profundezas subterrâneas das instalações nucleares iranianas.
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