Deneen: “Uma nova era se inicia”

11.02.2025

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Deneen: “Uma nova era se inicia”

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Alexandre Borges
3 minutos de leitura 23.01.2025 06:04 comentários
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Deneen: “Uma nova era se inicia”

O intelectual destacou como a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos simboliza uma rejeição à ordem liberal internacionalista, liderada pelo país desde a Segunda Guerra Mundial

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Alexandre Borges
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Deneen: “Uma nova era se inicia”
Foto: GPO/ Fotos Públicas

O liberalismo, que moldou o mundo ocidental a partir do Iluminismo e se consolidou como a ideologia dominante no pós-Segunda Guerra Mundial, enfrenta um questionamento cada vez mais comum entre intelectuais de direita e não apenas da esquerda.

O modelo que prometia liberdade individual e igualdade de oportunidades agora é acusado por críticos conservadores de gerar instabilidade social e perda de coesão comunitária, especialmente em sua vertente hegemônica e mais progressista.

Patrick Deneen, intelectual público, professor de ciência política na Universidade de Notre Dame e autor do influente livro Por que o Liberalismo Fracassou, emerge como uma das vozes mais relevantes no debate sobre os limites e as contradições do liberalismo.

Deneen, cujas ideias têm ecoado tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, defende que o liberalismo não apenas falhou em cumprir suas promessas, mas que sua própria lógica interna levou ao colapso de suas bases.

Para ele, o liberalismo buscou emancipar o indivíduo das tradições e estruturas sociais — como a religião, a família e a comunidade —, mas acabou desmantelando os alicerces que garantiam estabilidade e pertencimento, deixando os cidadãos à mercê de um estado cada vez mais centralizador e de um mercado impessoal.

Recentemente, durante uma conferência internacional realizada na Alemanha sobre pensamento pós-liberal, Deneen abordou as implicações dessa crise para a política global. Em entrevista ao jornal alemão Die Zeit, ele destacou como a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos simboliza uma rejeição à ordem liberal internacionalista, liderada pelo país desde a Segunda Guerra Mundial.

Trump, segundo Deneen, atraiu principalmente a classe trabalhadora, um grupo que historicamente sustentava o Partido Democrata, mas que se sentiu traído pelas políticas neoliberais e identitárias que ignoraram suas necessidades econômicas mais básicas.

Deneen explicou que muitos desses eleitores, em vez de se sentirem representados pelo progressismo liberal, migraram para o Partido Republicano, que vem se reposicionando como um partido socialmente conservador e economicamente mais igualitário — algo que lembra o antigo Partido Democrata de décadas atrás.

Para ele, isso reflete uma profunda transformação política, onde a classe trabalhadora busca alternativas a um sistema que considera ter rompido o “contrato social” implícito no sonho americano.

O professor também apontou que o Partido Democrata enfrenta uma crise de identidade. Ele relembrou a declaração de Hillary Clinton em 2016, quando chamou eleitores da classe trabalhadora de “deploráveis”, um momento que expôs o distanciamento das elites democratas em relação às demandas populares. Esse erro estratégico, segundo Deneen, mostrou os limites de uma política baseada em identidades e agravou o afastamento de eleitores tradicionais do partido.

Para Deneen, o colapso do liberalismo como ideologia dominante não é apenas uma realidade norte-americana, mas um fenômeno que pode ser observado globalmente. Ele defende que a solução não está em reformar o liberalismo, mas em substituí-lo por formas de governança local e comunitária, que restauram laços sociais e enfrentam os efeitos da globalização e da centralização do poder.

As ideias de Deneen têm ganhado relevância em um momento de transição política global, em que as promessas do liberalismo progressista são questionadas e novas alternativas começam a emergir. Esse debate, embora ainda em construção, pode moldar os próximos capítulos da história política do Ocidente.

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