O drama do cocô de cachorro no corredor do prédio
Levantamento indica que 18% das reclamações em condomínios verticais estão relacionadas a animais de estimação, especialmente cocô no corredor

Para quem tem pet, ele é quase um filho. Mas para o vizinho que pisa no presentinho deixado no corredor, o sentimento costuma ser de indignação.
Em condomínios por todo o país, situações envolvendo fezes, urina, latidos excessivos e circulação inadequada de animais de estimação têm se tornado cada vez mais comuns — e são frequentemente motivo de atrito entre moradores.
A boa notícia? Esses conflitos podem ser evitados com uma atitude simples e gratuita: responsabilidade.
Escolhas pessoais e coletivas
Ter um pet é uma escolha pessoal. Viver em condomínio é uma escolha coletiva.
“Ter um pet é uma decisão íntima e afetiva, mas o impacto dela no coletivo precisa ser considerado”, alerta o advogado Felipe Faustino, especialista em direito condominial.
“Deixar sujeira nas áreas comuns, permitir que o cachorro ande sem guia ou incomodar com latidos constantes não é apenas uma questão de boa educação — pode gerar advertências, multas e até ações judiciais.”
Segundo levantamento da administradora paulista Predial Brasil, 18% das reclamações registradas em condomínios verticais estão relacionadas a animais de estimação — sendo o cocô no corredor, pasmem, a queixa mais comum.
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5 dicas para tutores de pets
A convivência entre pets e vizinhos é perfeitamente possível, desde que algumas regras básicas de convivência sejam respeitadas. Veja algumas atitudes essenciais:
- Saquinhos sempre à mão: sair com o cachorro sem um saquinho para recolher as fezes é o mesmo que sair sem chave. Está pedindo problema.
- Elevador com bom senso: prefira o elevador de serviço (se houver), mantenha o animal sempre na guia e evite situações que possam gerar desconforto a outros passageiros.
- Respeito às áreas proibidas: brinquedotecas, piscinas, salões de festa e gramados costumam ser áreas restritas. Leia o regimento interno.
- Limpeza imediata: acidentes acontecem, mas o que causa indignação nos vizinhos é o abandono da sujeira.
- Controle dos latidos: se o animal late continuamente, especialmente quando fica sozinho, o tutor deve buscar adestramento ou enriquecimento ambiental para aliviar a ansiedade do pet.
“O respeito às áreas comuns e aos demais condôminos começa com atitudes simples. É o tipo de comportamento que deveria ser automático para quem escolhe ter um animal em ambiente coletivo”, reforça Faustino.
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O papel do síndico: firmeza com empatia
Para os gestores do condomínio, lidar com esse tipo de situação exige equilíbrio entre bom senso e autoridade. O especialista lista algumas medidas eficazes:
- Comunique com leveza e clareza: cartazes com mensagens educativas (e até bem-humoradas) costumam surtir mais efeito que avisos ameaçadores.
- Atualize o regimento interno: o documento precisa estabelecer regras claras sobre a circulação de pets, uso de guias, acesso a áreas comuns e penalidades por infrações.
- Siga o caminho legal: primeiro vem a advertência, depois a multa. “É essencial que tudo seja documentado, respeitando o direito de defesa do morador”, orienta o advogado.
- Instale câmeras nas áreas comuns: além de aumentar a segurança, o monitoramento facilita a identificação de responsáveis, evitando injustiças.
- Invista em campanhas internas: murais informativos, mensagens em grupos de WhatsApp e até ações de conscientização com brindes pet-friendly ajudam a envolver a comunidade.
E o que diz a lei?
Embora o Brasil não tenha uma legislação específica sobre pets em condomínios, a Lei nº 4.591/64, que rege os condomínios, permite que o regimento interno determine normas de convivência — inclusive para animais.
Além disso, a jurisprudência já reconheceu o direito dos condomínios de aplicar penalidades por comportamento inadequado de tutores.
“A Justiça entende que a presença do pet é permitida, desde que não cause transtornos ao coletivo. Quando o tutor ultrapassa esse limite, o condomínio pode, sim, agir”, explica Faustino.
O cocô é só o sintoma
No fim das contas, o cocô no corredor é apenas um sintoma de um problema maior: a falta de consciência sobre a vida em comunidade. Ter um animal em condomínio é não só possível como saudável — mas exige cuidado, empatia e responsabilidade.
“A responsabilidade pelo pet vai além da porta do apartamento. A convivência começa onde termina a sua porta — e pode ser harmoniosa quando cada um faz sua parte”, finaliza Faustino.
Por Felipe Faustino – Escritório Faustino & Teles e Sindicolab
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Comentários (1)
Ita
11.06.2025 11:59O mundo mudou demais, hoje um pet, para alguns, tem mais valor do que