Férias escolares: como preparar áreas comuns para os pequenos
Os meses de dezembro, janeiro e julho concentram mais de 60% das reclamações envolvendo o uso das áreas comuns por crianças

As férias escolares são sinônimo de energia, brincadeiras e movimentação nos condomínios. Para as crianças, esse é o momento de extravasar. Para os adultos — especialmente síndicos e pais — é hora de redobrar os cuidados com regras, segurança e bom senso. Afinal, quando o recreio acontece nas áreas comuns, o desafio é equilibrar diversão com convivência.
Segundo dados do IBGE, o Brasil possui mais de 47 milhões de crianças entre 0 e 14 anos — e uma parcela expressiva vive em ambientes coletivos como condomínios verticais. Não é raro, portanto, que nas férias escolares aumentem os conflitos por barulho, uso indevido de áreas comuns e até pequenos acidentes por falta de supervisão.
A importância de um planejamento para o período de férias
De acordo com a administradora Lello, os meses de dezembro, janeiro e julho concentram mais de 60% das reclamações envolvendo o uso das áreas comuns por crianças. Os principais motivos são:
- Brincadeiras em locais indevidos (garagem, escadas, academia)
- Barulho excessivo em horários de descanso
- Falta de regras claras para o uso da piscina ou salão de jogos
- Crianças desacompanhadas em áreas de risco
“As férias são uma oportunidade para o condomínio demonstrar que regras bem planejadas podem garantir segurança para os pequenos e paz para todos os moradores. O erro é tentar proibir, em vez de organizar”, afirma o advogado Felipe Faustino, especialista em direito condominial.
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O que diz a lei sobre crianças em áreas comuns?
A legislação brasileira não prevê restrições à presença de crianças em áreas coletivas do condomínio. Ao contrário: a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) garantem o direito à convivência, ao lazer e ao desenvolvimento físico e social.
“O condomínio pode — e deve — criar normas que disciplinem o uso dos espaços, mas jamais impor restrições que ferem o direito ao lazer, à livre circulação ou que prejudiquem o bem-estar infantil”, ressalta Faustino.
Como preparar o condomínio para as férias escolares
- Reforce a comunicação interna:
Envie comunicados lembrando as regras de uso das áreas comuns, horários permitidos e a necessidade de supervisão dos responsáveis. - Crie uma programação de férias (se possível):
Organizar atividades lúdicas ou recreativas com monitores, mesmo que simples, ajuda a entreter as crianças e manter ordem no condomínio. - Fiscalize com equilíbrio:
A presença de um zelador ou funcionário atento durante horários de maior movimento pode prevenir acidentes e orientar sem punir. - Revise os equipamentos de lazer:
Veja se os brinquedos estão seguros, as áreas limpas e se a piscina está com os cuidados atualizados. - Mantenha regras claras no regimento interno:
Proibições genéricas, como “crianças não podem correr” ou “é proibido barulho”, podem ser consideradas abusivas. Prefira termos objetivos e aplicáveis a todos.
Como aproveitar as férias sem conflitos
- Supervisione os pequenos:
Crianças até 10 anos devem estar sempre acompanhadas por um adulto em piscinas, quadras e outras áreas comuns. - Oriente sobre os limites:
Ensine seu filho a respeitar o espaço dos outros moradores, evitar brincadeiras em locais de risco e guardar brinquedos após o uso. - Evite horários extremos:
Brincadeiras entre 13h e 15h ou após 22h podem gerar desconforto em prédios com moradores idosos, trabalhadores noturnos ou bebês. - Participe da vida coletiva:
Se houver assembleia para revisar regras, participe. A convivência só melhora com engajamento real.
Convivência não é utopia – é gestão e empatia
As férias são um período de alegria para as crianças e um convite à tolerância para os adultos. Quando o condomínio se antecipa com organização, regras equilibradas e diálogo com os moradores, todos saem ganhando.
“Não se trata de escolher entre o silêncio absoluto e a liberdade total. Trata-se de criar uma cultura de respeito mútuo, onde brincar e descansar podem coexistir”, conclui Faustino.
Criança não é problema — desorganização é. Com um pouco de planejamento, comunicação e empatia, as férias no condomínio podem ser mais tranquilas, seguras e agradáveis para todos.
Por Rafael Bernardes, CEO do Síndicolab, e Felipe Faustino, do Faustino & Teles Advogados
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