Como um deserto virou o centro do mercado de luxo mundial
O caso de Dubai deveria ser leitura obrigatória para qualquer autoridade que tenha pretensões de transformar o Brasil num hub internacional de capital

Enquanto Brasília tenta criar narrativas para atrair investidores com discursos de “nova indústria verde”, o mundo real continua girando — e rápido.
O caso de Dubai deveria ser leitura obrigatória para qualquer autoridade que tenha pretensões de transformar o Brasil num hub internacional de capital.
Porque, enquanto o Brasil empaca na sua eterna burocracia, Dubai ultrapassou Nova York no mercado imobiliário de luxo e virou o grande “oásis de investimento” do planeta.
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Números que humilham o Brasil
Em 2024, Dubai movimentou nada menos que 180,9 mil negócios imobiliários.
Só para colocar em perspectiva: isso representa três vezes e meia o número de transações da região metropolitana de Nova York, a maior economia urbana do mundo, com seus quase 20 milhões de habitantes.
Dubai, com 2,6 milhões de pessoas — o tamanho de Salvador —, alcançou um nível de transações que espanta até os grandes analistas de Wall Street.
O valor total movimentado em 2024: 143 bilhões de dólares. Mais do que o PIB inteiro de países como Uruguai ou Equador.
E o mais interessante: 91 bilhões vieram de vendas iniciais, ou seja, de lançamentos imobiliários, com crescimento de 51% em apenas um ano.
Não é apenas compra e venda de imóveis prontos: é construção em ritmo frenético, baseada numa engenharia jurídica, econômica e política que faz o investidor global dormir tranquilo.
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Investidores globais buscam estabilidade, não discursos bonitos
Por que investidores de todo o mundo estão despejando bilhões em Dubai? Simples: estabilidade, segurança jurídica, baixa tributação e um governo pragmático que entende o conceito de “liberdade econômica” — algo ainda exótico para Brasília.
Enquanto o Brasil oscila entre crises fiscais, insegurança jurídica e debates sobre aumentar ainda mais a carga tributária, Dubai faz o óbvio: cria um ambiente favorável ao dinheiro global.
Em tempos de guerras tarifárias entre EUA e China, de tensões geopolíticas e de sanções internacionais, Dubai se apresenta como um “porto seguro” blindado dessas turbulências.
O investidor quer previsibilidade, não promessas eleitorais ou planos econômicos cheios de “projetos sociais” custeados por déficits eternos.
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Quando o corretor vira trader
Outro ponto fascinante da revolução de Dubai é a sofisticação do próprio mercado. Ali, o corretor tradicional virou praticamente um operador de mercado financeiro.
Usa indicadores, estatísticas, projeções de retorno e fecha negócios 100% online, sem o cliente sequer pisar na cidade.
É o futuro do mercado imobiliário global: tokenização de ativos, plataformas digitais, smart contracts e investidores globais comprando frações de imóveis via blockchain.
No Brasil? Mal começamos a discutir registro eletrônico de imóveis. Boa sorte.
O luxo brasileiro ainda é um esboço
O Brasil tem potencial de luxo? Claro que tem. Temos paisagens, cidades com público-alvo (como São Paulo, Rio, litoral norte, sul da Bahia, etc.). Mas o que falta?
Tudo aquilo que Dubai construiu: previsibilidade fiscal, segurança jurídica real (não apenas no papel), simplificação tributária, agilidade regulatória e — principalmente — estabilidade política.
Com um Congresso que legisla por casuísmo e um Executivo que joga para as plateias ideológicas, o capital estrangeiro segue desconfiado.
O resultado? Investidores brasileiros e latino-americanos cada vez mais compram em Dubai. Levam o dinheiro que poderia ser aplicado no Brasil para o golfo Pérsico.
Brasil e a chance de perder o bonde digital
Se o Brasil já tropeça na infraestrutura física e institucional, o risco de perder também a revolução digital é real.
Dubai já opera na nova era de tokenização imobiliária, algo que permite transformar apartamentos de luxo em ativos fracionados, negociáveis em bolsas digitais.
A tokenização pode ser a nova fronteira do mercado global de real estate — e o Brasil ainda engatinha até na regulamentação básica disso.
O problema brasileiro não é falta de oportunidade. É excesso de burocracia e amadorismo institucional.
Enquanto isso, Dubai segue mostrando ao mundo como um pedaço de deserto virou o maior polo de luxo do planeta.
Por Felipe Faustino – Escritório Faustino & Teles e Sindicolab
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