Como blindar seu condomínio contra desvios e fraudes de síndicos
Tudo começa com o contrato firmado entre o síndico e o condomínio, para limitar a margem para práticas duvidosas

A gestão condominial movimenta, todos os meses, milhões de reais em todo o Brasil. E, infelizmente, onde há dinheiro, há também riscos de desvios. Casos de apropriação indébita, superfaturamentos e fraudes em condomínios vêm se tornando cada vez mais comuns — especialmente nos grandes centros urbanos.
Mas é possível proteger o condomínio e blindar a gestão com um conjunto de práticas simples, eficientes e preventivas. A seguir, mostramos os pilares que todo condomínio deve implementar para reduzir drasticamente o risco de golpes e má gestão por parte de síndicos e administradoras.
Contrato de gestão: a primeira barreira contra fraudes
Tudo começa com o contrato firmado entre o síndico e o condomínio. Um contrato bem estruturado não só define as regras do jogo, mas limita a margem para práticas duvidosas:
- Seguro de Responsabilidade Civil (RC) obrigatório: o contrato deve exigir a contratação de seguro específico para o síndico, cobrindo prejuízos decorrentes de má gestão, negligência ou dolo;
- Cláusula de Compliance e Limites de Alçada;
- Despesas acima de R$ 5.000 exigem no mínimo três cotações formais e aprovação prévia do Conselho Fiscal;
- Contratações acima de 20.000 reais devem ser aprovadas em Assembleia Geral, salvo emergências justificadas, que exigem posterior ratificação em assembleia;
- Relatório Mensal de Gastos: o síndico deve apresentar, todos os meses, um relatório detalhado de receitas e despesas, com documentos comprobatórios disponíveis para qualquer condômino interessado;
- Plano Diretor de Projetos: todos os projetos e obras precisam constar de um planejamento aprovado em assembleia, com cronograma, prioridades e estimativas de custos definidos antecipadamente.
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Transparência e fiscalização permanente
Além do contrato, a rotina de controle exige participação ativa dos próprios moradores:
- Gestão financeira aberta: disponibilização de balancetes, extratos bancários, contratos e notas fiscais de forma digital e acessível a todos;
- Conselho Fiscal ativo: seus membros devem auditar mensalmente os números, validar documentos e emitir pareceres para as assembleias;
- Participação em assembleias: o comparecimento dos moradores às assembleias é essencial para acompanhar e questionar a gestão;
- Auditoria externa periódica: auditorias preventivas, realizadas por empresas independentes, são excelentes ferramentas de fiscalização técnica e isenta;
- Uso de tecnologia: sistemas e plataformas de gestão condominial permitem acompanhamento online de todas as despesas, contratos e documentos;
- Administradora de confiança: quando o condomínio contrata uma administradora, a escolha deve recair sobre empresas com reputação consolidada e políticas rígidas de compliance.
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A visão de um gestor profissional
Rodrigo Lobo, síndico profissional da Advanced Síndicos Profissionais, faz um alerta direto para o mercado:
“Infelizmente, o condomínio ainda é, em muitos casos, tratado como uma extensão doméstica da vida dos moradores — mas ele é, na prática, uma empresa de prestação de serviços com orçamento robusto e múltiplos fornecedores. É justamente essa visão empresarial que falta na maioria dos casos onde ocorrem desvios.
Na Advanced, implantamos sistemas de governança similares aos de empresas multinacionais: processos auditáveis, compliance rígido, política formal de compras e fluxos de aprovação bem definidos. Quando o condomínio adota práticas empresariais e controles estruturados, o risco de desvios praticamente desaparece — não por sorte, mas por gestão profissional.”
O que fazer ao menor sinal de fraude
Se surgirem indícios concretos de irregularidades, o caminho é direto:
- Documente provas: reúna notas fiscais, extratos, registros e qualquer outro material comprobatório;
- Consulte outros condôminos: compartilhe a suspeita e verifique se há percepções similares;
- Comunique o Conselho Fiscal: leve os indícios ao órgão fiscalizador interno do condomínio;
- Convoque Assembleia Extraordinária: caso o problema persista, os condôminos podem deliberar sobre o afastamento do síndico e a contratação de auditoria;
- Aja judicialmente: confirmada a fraude, o condomínio deve acionar o Judiciário e, se necessário, fazer denúncia criminal.
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Fraudes são prevenidas com regras, não com sorte
Blindar um condomínio contra desvios não depende de “boa vontade”, mas de sistemas bem implantados de governança, fiscalização e participação ativa dos moradores.
Quanto mais profissional for a gestão, menor o risco de surpresas desagradáveis. E o custo da prevenção é sempre muito menor do que o da reparação.
Por Rafael Bernardes, CEO do Síndicolab, e Felipe Faustino, do Faustino & Teles Advogados
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