Até onde vai o poder do condômino sobre a garagem
Segundo levantamento do SíndicoNet, 43% dos conflitos relatados por síndicos envolvem questões ligadas à garagem

Se existe um tema que causa discussões acaloradas nos condomínios, é a garagem. De quem é a vaga? Pode emprestar? Pode alugar? E se o vizinho estaciona torto? O local pode ser usado como depósito? Em meio a tantas dúvidas e conflitos, é importante lembrar: a garagem é um direito do condômino, sim — mas com limites muito claros.
Segundo levantamento do SíndicoNet (2023), 43% dos conflitos relatados por síndicos envolvem questões ligadas à garagem. Já uma pesquisa da Gábor RH aponta que 62% dos síndicos brasileiros consideram a mobilidade interna e o uso indevido das vagas como uma das maiores fontes de estresse entre vizinhos.
“As vagas de garagem estão no centro de muitos conflitos porque mexem com a ideia de posse e com o cotidiano das pessoas. Mas é preciso entender que, mesmo sendo um espaço do condômino, existem regras que precisam ser respeitadas para garantir o bem-estar coletivo”, explica o advogado Felipe Faustino, especialista em direito condominial.
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Tipos de vagas e os direitos do condômino
Nem toda vaga é igual — e o direito sobre ela depende da forma como o condomínio foi constituído:
- Vaga autônoma: Tem matrícula própria no cartório. É um bem independente do apartamento. O proprietário pode vender, alugar ou emprestar, desde que respeite a convenção.
- Vaga vinculada: Está atrelada à unidade e só pode ser usada pelo morador daquela unidade. Geralmente não pode ser vendida separadamente.
- Vaga rotativa ou comum: Pertence ao condomínio e é usada de forma coletiva ou sorteada entre os condôminos.
“É fundamental que o síndico conheça o tipo de vaga que o condomínio possui e oriente os moradores. Isso evita conflitos desnecessários e decisões ilegais”, alerta Faustino.
Principais conflitos sobre garagens
- Estacionamento fora da vaga – ocupando parte da vaga vizinha ou áreas de circulação.
- Uso como depósito – bicicletas, pneus, móveis velhos e até ferramentas.
- Vagas emprestadas ou alugadas a terceiros – sem autorização do condomínio.
- Brigas por manobras, batidas e arranhões – muitas vezes sem seguro ou acordo.
- Obstrução de acesso – condôminos que estacionam em frente a rampas, saídas ou vagas alheias.
Dados que mostram o aumento do problema
- Em 2023, o Tribunal de Justiça de São Paulo registrou aumento de 12% nas ações judiciais envolvendo disputas por vagas de garagem em condomínios.
- Segundo o DataSecovi-SP, mais de 20% dos condomínios paulistas já sofreram alteração na convenção para tentar disciplinar melhor o uso da garagem.
- 37% dos síndicos afirmaram já ter mediado desentendimentos envolvendo batidas e avarias em veículos dentro da garagem.
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O que pode e o que não pode na garagem
Situação | Pode? | Observações |
Usar como depósito | ❌ | Proibido pela maioria dos regimentos. Risco de incêndio. |
Emprestar a vaga a terceiros | ⚠️ | Só com autorização, se a convenção permitir. |
Alugar a vaga | ⚠️ | Só em vagas autônomas, e mesmo assim com regras. |
Estacionar veículos grandes demais | ❌ | Proibido se comprometer a circulação. |
Instalar carregador de carro elétrico | ✅ | Desde que aprovado em assembleia e com adequação elétrica. |
Dicas aos síndicos para evitar (e resolver) conflitos
- Reforce as regras no regimento interno
Registre com clareza o que é permitido e o que não é. Atualize a convenção se necessário. - Sinalize bem os espaços
Pintura, placas e demarcações ajudam a evitar confusões. - Instale câmeras e crie um canal para denúncias
Isso inibe abusos e ajuda a resolver situações de forma imparcial. - Eduque constantemente os condôminos
Informativos e circulares explicando as regras reforçam a consciência coletiva. - Evite confrontos diretos
Aplique notificações por escrito, sempre baseando-se nas normas do condomínio e no Código Civil.
Dicas aos moradores
- Estacione corretamente: respeite os limites da sua vaga.
- Não use a garagem como quarto de entulho: isso gera incômodo e riscos.
- Converse antes de denunciar: muitos conflitos se resolvem com diálogo respeitoso.
- Cobre melhorias, mas também respeite o espaço coletivo: lembre-se de que a garagem é um ambiente compartilhado.
“A garagem é parte importante da convivência em condomínio. Mais do que um direito individual, ela precisa ser tratada com responsabilidade coletiva. O que parece um pequeno abuso para um morador pode representar uma grande dor de cabeça para o condomínio inteiro”, finaliza Faustino.
A garagem é sim um direito do condômino, mas não é um território soberano sem regras. O bom senso, o respeito à convenção e o compromisso com a coletividade são indispensáveis para que esse espaço cumpra sua função: ser um local de mobilidade, não de conflito.
Por Rafael Bernardes, CEO do Síndicolab, e Felipe Faustino, do Faustino & Teles Advogados
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