Montadora chinesa em colapso aposta no Brasil para sobreviver
Neta Auto é acusada de calote bilionário, fecha fábrica na China e usa mercado brasileiro como tábua de salvação

A montadora chinesa Neta Auto, especializada em veículos elétricos, mergulhou numa crise financeira que ameaça sua sobrevivência. Com a produção interrompida, revendedores em revolta e dívidas bilionárias, a empresa mira o Brasil como última chance de escapar da falência.
Desde sua chegada ao país em agosto de 2024, a marca tenta se firmar no mercado, enquanto sua operação original na China se desfaz diante de um cenário dramático de calotes e abandono.
A crise na China atingiu proporções devastadoras.
Representantes de concessionárias da Neta organizaram protestos em frente à fábrica da empresa em Tongxiang, na província de Zhejiang, cobrando compensações imediatas e o pagamento de veículos que jamais foram entregues.
Mesmo diante do colapso, os lojistas afirmam que continuaram operando, pagando salários e impostos, na esperança de que a montadora honrasse seus compromissos. Foram ignorados.
As acusações são pesadas. Concessionários relatam que pagaram adiantado centenas de milhões de yuans por carros inexistentes.
Muitos recorreram a empréstimos bancários para financiar os estoques fantasmas e agora enfrentam processos de bancos e clientes.
Desde setembro de 2024, a empresa não dá qualquer resposta formal às revendas. Em vez disso, distribuiu promessas vagas e rumores sobre retomada de produção. Um representante resumiu a situação: “Só nos afundamos ainda mais em dívidas”.
Diante do impasse, os revendedores exigem compensações pelas perdas acumuladas, reembolso imediato de todos os valores pagos por veículos não entregues e a reativação dos serviços de pós-venda para cerca de 400 mil clientes da marca.
O clima é de revolta. Em um dos episódios mais tensos, donos de fornecedoras menores montaram acampamento no escritório da Neta para tentar cobrar dívidas.
Os números refletem o colapso: em janeiro de 2025, as vendas da Neta na China caíram 98% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Apenas 487 carros foram vendidos nos dois primeiros meses do ano, contra 18 mil unidades mensais em 2022. A fábrica foi paralisada, todo o departamento de Pesquisa & Desenvolvimento foi demitido e os salários dos funcionários restantes foram cortados em até 75%.
Mesmo nesse cenário, a Neta Auto reafirmou seu compromisso com o Brasil.
Os modelos elétricos Aya e Neta X começaram a ser vendidos no país em 2024, com preços entre R$ 133,9 mil e R$ 209,9 mil. A montadora, porém, emplacou apenas 27 veículos nos dois primeiros meses de 2025. Apesar disso, planeja abrir 30 concessionárias ainda neste ano e montar uma fábrica com kits desmontados importados da China.
O fundador da empresa, Fang Yunzhou, reassumiu o cargo de CEO e anunciou um plano de “auto-resgate”, que inclui a conversão de dívidas em ações, corte de custos e expansão para outros mercados.
O Brasil foi declarado “prioridade máxima” nas operações internacionais da empresa. Na Tailândia, onde a Neta também tenta se estabelecer, a empresa conseguiu um financiamento de US$ 215 milhões.
Com a matriz em colapso e os sinais de insolvência se acumulando, o futuro da Neta Auto depende de sua capacidade de reconquistar a confiança de consumidores, investidores e parceiros.
No Brasil, a estratégia de crescimento esbarra na realidade de uma operação incipiente e nas incertezas sobre a viabilidade de uma marca que tenta sobreviver em solo estrangeiro após fracassar em casa.
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Comentários (1)
Fabio B
17.04.2025 17:09No Brasil, só se tiver algum esquema com o governo, porque é impossível prosperar empreendendo de outra forma.