Quando muito ainda é pouco: a era dos “hiperprazeres”

14.07.2025

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Quando muito ainda é pouco: a era dos “hiperprazeres”

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Gustavo Nogy
3 minutos de leitura 20.06.2025 19:23 comentários
Cultura

Quando muito ainda é pouco: a era dos “hiperprazeres”

Aos poucos, o conteúdo ultraprocessado nos vicia e muda nossa percepção do prazer, e a escala com que o sentimos

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Quando muito ainda é pouco: a era dos “hiperprazeres”
Tom Cruise salta com a moto de um penhasco em Missão Impossível

A capacidade humana de desfrutar de prazeres simples está em xeque, diante da proliferação dos chamados “hiperprazeres”, experiências intensas e isentas de desconforto, massivamente amplificadas pela tecnologia moderna.

O fenômeno levanta questões sobre nossa capacidade de escolha e a dificuldade de encontrar satisfação em atividades comuns, uma vez acostumados (viciados) a estímulos extremos. A discussão sobre o tema é aprofundada por Samuel C. Heard, autor do ensaio “The Rise of Hyperpleasures”.

Hiperprazeres: além da escala tradicional

Segundo Samuel C. Heard, o conceito de prazer pode ser metaforicamente compreendido em uma escala de 1 a 10, onde o topo representa as grandes alegrias da vida, como uma excelente refeição, sexo, ou uma conversa significativa (pais e filhos em momentos de intensa conexão, por exemplo).

No entanto, Heard argumenta que mesmo essas experiências intrinsecamente prazerosas exigem certo nível de esforço ou vulnerabilidade, o que as torna menos do que “maximamente prazerosas” (preparar a refeição ou encontrar um lugar no restaurante, fazer sexo ou se entender com os filhos adolescentes… nem sempre é fácil).

A tecnologia alterou esse paradigma. Heard descreve os hiperprazeres como atividades que nos levam “para fora da escala” humanamente razoável, oferecendo sensações equivalentes a 20, 30, ou até 1.000, ao removerem o desconforto inerente aos prazeres ordinários. É injeçãozinha de dopamina direto no cérebro. Todos os dias. Minuto a minuto.

Exemplos incluem pornografia online (que elimina as complicações do sexo), videogames (que substituem o esforço físico do brincar) e redes sociais (que oferecem conteúdo ultraprocessado, pulando aquela parte chata da concentração exigida pela leitura de um livro).

Os hiperprazeres, que no tempo dos nossos pais e avós, consistiam mais ou menos em cigarro, drogas e álcool, tornaram-se onipresentes e acessíveis, remodelando nosso jeito de buscar satisfação. Somos bichinhos hedonistas.

As implicações para a experiência humana

A tentação dos hiperprazeres é natural, dado que buscamos conforto e economia de esforços. Mas tem um problema nisso. Mais de um. Samuel C. Heard diz que a exposição constante a esses estímulos muda nosso “limiar de prazer”. Isso significa que, ao nos acostumarmos com experiências ultraintensas, atividades que antes seriam um 8 ou 9 na escala de prazer, agora parecem menos gratificantes, ou até tediosas, em comparação com um 20, 30 ou 100.

O autor questiona se somos vítimas passivas dessa “cultura da dopamina”, ou se existe uma cumplicidade em nossa busca por prazeres máximos. Segundo Heard, a reorientação da vontade humana é crucial para romper essa dependência. Para ele, é fundamental reaprender a apreciar a beleza e a dignidade do desconforto inerente aos prazeres “normais”, palavrinha que psicólogos e sociólogos detestam, mas que o senso comum sabe onde usar.

Como dizia o Aristóteles, na Ética a Nicômaco, entre os extremos do excesso e da falta, fiquemos no meio. Nem deuses, nem bestas.

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