Por que estimular a curiosidade faz bem para o cérebro?

13.06.2025

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Por que estimular a curiosidade faz bem para o cérebro?

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Gustavo Nogy
5 minutos de leitura 16.05.2025 19:42 comentários
Cultura

Por que estimular a curiosidade faz bem para o cérebro?

Pesquisas indicam que a curiosidade pode e deve ser cultivada, e funciona como antídoto ao enrijecimento cognitivo

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Gustavo Nogy
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Por que estimular a curiosidade faz bem para o cérebro?

Longe de ser um traço de personalidade infantil ou de pessoas excêntricas, a curiosidade é um mecanismo neurológico capaz de reconfigurar o cérebro e aumentar sua resistência, especialmente em momentos de incerteza e transição.

Pesquisas recentes em neurociência revelam que cultivar essa habilidade cognitiva – e sim, a curiosidade deve ser estimulada – pode transformar a maneira como encaramos desafios, convertendo a ameaça percebida em convite à exploração e ao crescimento.

Compreender e aplicar os princípios subjacentes à curiosidade ativa sistemas de recompensa cerebrais, aprimora a aprendizagem e impulsiona a capacidade inata do cérebro de se adaptar.

O cérebro e a curiosidade em tempos sombrios

Mudanças são inerentemente acompanhadas de incerteza, um estado que tipicamente ativa a amígdala no cérebro, desencadeando respostas de estresse semelhantes às de um perigo físico real. No entanto, a curiosidade, quando usada, é um mecanismo capaz de reestruturar essa resposta, mudando a incerteza de um estado ameaçador para uma oportunidade de aprendizado.

Esse processo envolve o sistema dopaminérgico – o mesmo associado à antecipação de recompensas – que é ativado pela curiosidade, gerando uma sensação positiva ao prospectar novas descobertas. Além disso, a curiosidade aprimora a atividade do hipocampo, crucial para a formação e retenção de novas memórias, tornando a aprendizagem mais eficiente.

Estudos indicam que ser curioso sobre um tópico não só ajuda a reter essa informação específica, mas também melhora a memória para material não relacionado.

Talvez o impacto mais significativo da curiosidade seja sua promoção da neuroplasticidade, a notável habilidade do cérebro de se reorganizar em resposta a novas experiências.

Isso a torna um estado cognitivo ideal para períodos de mudança, quando é necessário romper padrões neurais estabelecidos e formar novas conexões. A curiosidade também aumenta nossa tolerância ao “erro de predição” – a diferença entre o esperado e o vivenciado –, o que nos torna mais flexíveis intelectualmente (sabe aquela história de viés de confirmação?), menos reativos e mais eficazes em atualizar nossos modelos mentais sobre como “atuar” no mundo.

Há um delicado equilíbrio entre redes cerebrais, como a rede de modo padrão (associada à imaginação) e a rede de controle executivo (orientada a objetivos); a curiosidade ajuda a sincronizá-las, permitindo visualizar possibilidades e agir simultaneamente, um balanço essencial para navegar transições.

Emocionalmente, adotar uma lente curiosa (“o que posso aprender com isso?”) em situações inesperadas funciona como um amortecedor, reduzindo a propensão à ansiedade ou evitação.

Cinco dicas para estimular a curiosidade

Segundo a neurocientista Anne-Laure Le Cunff, a curiosidade não é um atributo fixo, mas uma habilidade que pode ser desenvolvida, especialmente útil em momentos de mudança. Ela propõe cinco estratégias práticas:

Primeiro: substitua “o que fazer agora?” por “e se…?”. Em vez de perguntas baseadas no medo, formule indagações que convidem à exploração, como tratar um novo desafio como uma oportunidade de aprendizado. Essa mudança direciona a atividade para o córtex pré-frontal em vez da amígdala, minimizando o estresse.

Segundo: crie um “diário de campo” da sua vida. Documente o que o surpreendeu, o que ainda não compreende ou o que o fez parar para pensar durante o dia. Registrar observações específicas (“Hoje notei X e me perguntei por quê…”) transforma isso em um hábito e cria um registro da sua jornada de aprendizado.

Terceiro: conduza “experimentos” em pequena escala. Interesses em novas carreiras podem ser explorados entrevistando uma pessoa da área. Curiosidade sobre escrever? Comece com uma newsletter semanal em vez de um livro. Esses pequenos passos se oferecem dados valiosos e restauram a sensação de controle em caminhos incertos.

Quarto: abrace o “não saber”. Permita-se perguntar sem pressa de encontrar respostas. Pesquisas sugerem que isso aprimora a flexibilidade cognitiva e a resolução criativa de problemas, funções neurais vitais para a adaptação.

Por último, mas não menos importante: trate falhas como dados. Em vez de rotular resultados inesperados como fracassos pessoais, veja-os como informações valiosas para aprender. Essa perspectiva transforma reveses em oportunidades de crescimento.

É importante notar que a capacidade de ser curioso pode variar, diminuindo sob estresse intenso devido à atividade aumentada da amígdala. Por isso, a prática regular de pequenas mudanças de perspectiva é fundamental para treinar o cérebro a reativar o córtex pré-frontal e acessar a curiosidade.

A mudança, que muitas vezes ,e para muitas pessoas, pode ser difícil de suportar, é uma oportunidade para o crescimento pessoal. E a curiosidade é uma aliada nesse percurso.

Quer saber mais? Uma outra abordagem sobre a “curiosidade” como disposição intelectual e meio cultural adaptativo pode ser conhecida no livro Uma História Natural da Curiosidade, do escritor argentino Alberto Manguel.

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