O que é ‘ordo amoris’, conceito agostiniano defendido por JD Vance?
Vice-presidente dos EUA recorre ao amor ordenado de Santo Agostinho em debate sobre imigração, provocando críticas da esquerda radical

JD Vance, vice-presidente dos Estados Unidos, trouxe ao centro do debate público americano o conceito católico de ordo amoris — ou “amor ordenado” — em uma entrevista à Fox News, provocando reações extremadas da esquerda.
A citação foi feita no contexto da política de imigração, quando Vance defendeu a ideia de que líderes americanos têm a obrigação moral de priorizar seus concidadãos antes de direcionar compaixão e recursos a estrangeiros.
“Há uma hierarquia natural no amor, e isso não é apenas uma questão cristã, é uma questão de bom senso”, afirmou Vance. O ordo amoris, desenvolvido por Santo Agostinho no século V e posteriormente expandido por São Tomás de Aquino, propõe que o amor deve ser direcionado de forma ordenada, começando por Deus, seguido da família, da comunidade e, então, do restante da sociedade.
A ideia central é que o amor desordenado — quando se coloca coisas materiais, prazeres ou causas acima do que é essencial — é a raiz dos vícios e da decadência moral.
Na prática, Vance argumentou que muitas políticas progressistas dos Estados Unidos estão invertendo essa ordem ao dar mais atenção e recursos a imigrantes ilegais, incluindo aqueles envolvidos em crimes, do que aos próprios cidadãos americanos.
“Isso não significa odiar estrangeiros”, esclareceu o vice-presidente. “Mas ignorar as necessidades daqueles que compartilham nossa terra, cultura e obrigações mútuas é uma falha moral e prática.”
A visão agostiniana do amor e suas implicações
Para Santo Agostinho, o amor desordenado afasta o homem de Deus e o conduz a um estado de alienação e sofrimento.
Ele ensinava que é necessário discernir entre aquilo que deve ser amado como um fim último e o que deve ser apenas usado como meio. Agostinho alertava que a inversão dessa lógica — quando se ama o que deveria ser utilizado e se usa o que deveria ser amado — é o que gera o caos moral.
A crítica de Vance ecoa essa preocupação, mas com um enfoque político e social. Ele destacou que, sem uma hierarquia clara de prioridades, a sociedade perde a noção de deveres básicos, como a proteção da família e da comunidade local.
É uma crítica que encontrou ressonância entre intelectuais públicos como o filósofo Edward Feser, que afirmou: “O conceito de ordo amoris é a própria base do senso comum. Não se pode amar todos igualmente sem destruir o significado das obrigações mais próximas, como cuidar da família e do próprio país.”
A esquerda radical reagiu duramente às declarações de Vance. Rory Stewart, político britânico, criticou a fala de Vance, classificando-a como “menos cristã e mais tribal”.
O que deveria ser uma discussão teológica saudável revelou um problema político mais amplo: a crescente rejeição, por parte da esquerda radical, de princípios morais e culturais enraizados no senso comum, como a prioridade à família e à comunidade. Essa postura tem alienado eleitores moderados e centristas, que veem na moralidade cristã um ponto de equilíbrio na sociedade.
Pesquisas recentes indicam que, ao rejeitar ideias básicas como a ordem natural dos afetos e o dever de proteger os laços familiares, a esquerda está perdendo terreno em setores tradicionalmente mais equilibrados do eleitorado.
Eleitores que antes oscilavam entre partidos progressistas e conservadores estão agora se afastando das plataformas da esquerda por considerá-las desconectadas da realidade prática e das tradições culturais.
Especialistas sugerem que a insistência na rejeição a ideias como o ordo amoris é uma aposta arriscada, especialmente em tempos de polarização. Ao se opor a conceitos como a hierarquia de responsabilidades familiares e sociais, a esquerda não só se distancia de princípios religiosos, mas também do que muitos consideram valores universais.
Para Vance e outros conservadores, o debate não é apenas teológico, mas profundamente prático. “Cuidar primeiro de quem está ao seu lado não é um ato de exclusão, mas de responsabilidade”, disse ele. “Negar isso é negar a base da convivência humana.”
Ao trazer o ordo amoris para o centro da discussão, Vance coloca em evidência uma questão fundamental: a necessidade de restaurar o equilíbrio moral e político em uma sociedade onde o radicalismo ameaça sufocar o consenso.
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