O que a inteligência artificial pode fazer pelas ciências humanas?

08.07.2025

logo-crusoe-new
O Antagonista

O que a inteligência artificial pode fazer pelas ciências humanas?

avatar
Gustavo Nogy
4 minutos de leitura 17.06.2025 18:22 comentários
Cultura

O que a inteligência artificial pode fazer pelas ciências humanas?

Se a “produção de conhecimento” quantitativa ou factual puder ser automatizada, as humanidades reencontrarão sua vocação?

avatar
Gustavo Nogy
4 minutos de leitura 17.06.2025 18:22 comentários 0
O que a inteligência artificial pode fazer pelas ciências humanas?

Aos poucos, a cada atualização ou produto lançado, constatamos que a Inteligência Artificial Generativa não é mais uma ferramenta tecnológica como as outras, uma espécie de “extensão” de um dos sentidos ou de certos procedimentos computáveis da inteligência, mas uma potência de fato transformadora, que está remodelando o ensino superior, mesmo as chamadas “humanidades”.

Graham Burnett, historiador de ciência e tecnologia na Universidade de Princeton, acredita que essa revolução provocará uma reavaliação urgente do papel das disciplinas culturais e humanísticas, que em tese se ocupam do entendimento profundo (e não exatamente quantificável) da experiência humana.

O impacto disruptivo da IA e a resistência acadêmica

O ambiente universitário, conforme observado por Burnett, inicialmente reagiu à ascensão da IA com hesitação, ceticismo e interdições. Muitos estudantes evitavam ferramentas como o ChatGPT, por medo de sanções, e a própria academia mostrava resistência em integrar a tecnologia em suas práticas de ensino e pesquisa. Até agora.

Burnett compartilha algumas de suas experiências.

Ele relata já ter treinado um chatbot com material de suas próprias aulas, obtendo respostas de nível satisfatório, que chamaram sua atenção.

Em outra ocasião, ao acompanhar uma palestra acadêmica complexa, o autor recorreu ao ChatGPT e obteve um intercâmbio de informações mais claro e aprofundado do que a própria apresentação, superando-a “por uma margem considerável”.

Noutro momento, descarregou cerca de 900 páginas de material de curso, fruto de uma década de pesquisa aprofundada, no Google NotebookLM. A ferramenta gerou um podcast de 32 minutos com insights “notavelmente bons”, chegando a conectar teorias kantianas do sublime com anúncios contemporâneos, uma demonstração, segundo ele, que valeria “nota máxima”.

O historiador observa que, embora baseadas em matemática e previsão probabilística, e sem “inteligir” ou “sentir” nos sentidos humanos dos termos, as IAs são capazes de simular interações e análises complexas, processando a totalidade das realizações humanas acessíveis, gerando um produto suficientemente bom.

Redefinindo o propósito das humanidades na era dos algoritmos

Apesar da aparente ameaça, Graham Burnett argumenta que a inteligência artificial oferece uma oportunidade singular para que as ciências humanas reencontrem sua essência. A capacidade dos sistemas de gerar “infinitamente” livros e artigos de pesquisa tradicionais, a partir de comandos bem elaborados, sugere que a “produção de conhecimento” factual será em grande parte automatizada. Isso, segundo o autor, liberta as humanidades da necessidade de “mimetizar a investigação científica”, focando na acumulação de fatos.

A verdadeira vocação das letras, das disciplinas culturais e humanas, em tese, nunca foi – ou não era para ter se tornado – a exaustiva compilação de informações, mas sim a busca pelo “entendimento”, por aquela palavrinha quase esquecida entre um corredor universitário e outro: “sabedoria”.

Foi por meio da sabedoria, de seu questionamento, e da investigação das questões fundamentais da existência humana – “como viver?” “o que fazer?” “como enfrentar a morte?” – que chegamos aonde chegamos. Essas, não são perguntas a serem respondidas por “conhecimento produzido”, mas sim pelo “ser”, uma dimensão que a IA não pode acessar.

De repente, se artigos puderem ser produzidos sem muito esforço humano, o famigerado “publish or perish” (publique ou pereça) universitário, mecanismo que se retroalimenta mais de política que de conhecimento, perderá sua razão de ser. A educação poderá (assim esperamos) voltar às origens, e a produção filosófica, literária ou mesmo científica, desde que criativa, terá mais tempo e mais espaço para encontrar seus caminhos, seus objetos, seus sentidos.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

A origem de 7 expressões populares

Visualizar notícia
2

Professor que sugeriu “guilhotina” contra Justus alega “metáfora”, mas já tinha atacado antes

Visualizar notícia
3

Professor que sugeriu “guilhotina” contra Justus defende censura contra “barbárie”

Visualizar notícia
4

R$ 3,4 mi em penduricalhos para juízes do CNJ

Visualizar notícia
5

A diferença entre Érika Hilton e a filha de Roberto Justus

Visualizar notícia
6

Coordenador do Prerrogativas deixou rombo nos Correios

Visualizar notícia
7

Rússia lançou 1.270 drones contra a Ucrânia em uma semana, diz Zelensky

Visualizar notícia
8

“Ricos x pobres” dá nisso aí

Visualizar notícia
9

Crusoé: UFRJ tenta se distanciar de professor que sugeriu “guilhotina” à família de Justus

Visualizar notícia
10

O clube dos “super-ricos” de Lula

Visualizar notícia
1

Professor que sugeriu “guilhotina” contra Justus alega “metáfora”, mas já tinha atacado antes

Visualizar notícia
2

"Trump ecoa o que milhões de brasileiros já perceberam", diz líder da oposição

Visualizar notícia
3

A hipocrisia de Lula após visita à condenada Cristina

Visualizar notícia
4

O clube dos “super-ricos” de Lula

Visualizar notícia
5

"Tarcísio entende que a lei não deve ser igual para todos", diz Amoedo

Visualizar notícia
6

"Bolsonaro deve ser julgado somente pelo povo", diz Tarcísio após post de Trump

Visualizar notícia
7

A diferença entre Érika Hilton e a filha de Roberto Justus

Visualizar notícia
8

Professor que sugeriu “guilhotina” contra Justus defende censura contra “barbárie”

Visualizar notícia
9

Quando a "guilhotina" corta a riqueza, aprisiona o país na miséria

Visualizar notícia
10

Após mensagem de Trump, Eduardo promete ‘outras ações’ dos EUA

Visualizar notícia
1

Deputado é alvo da PF por desvios em fraudes em licitações; R$ 54,6 mi são bloqueados

Visualizar notícia
2

Produção na China cairá a menos de 10%, diz Nike

Visualizar notícia
3

Sidônio Palmeira envolvido no ‘gabinete do ódio’ do PT?

Visualizar notícia
4

12 nomes de personagens de livros para gatos

Visualizar notícia
5

Hamas cometeu crimes sexuais em série no 7 de outubro, diz relatório

Visualizar notícia
6

Conselho de Ética instaura nesta terça processo sobre Gilvan da Federal

Visualizar notícia
7

Horóscopo do dia: previsão para os 12 signos em 08/07/2025

Visualizar notícia
8

Nova era nos prédios: carro elétrico só com sprinkler e exaustão na garagem

Visualizar notícia
9

A revolução imobiliária que ninguém está vendo

Visualizar notícia
10

Professor que sugeriu “guilhotina” contra Justus alega “metáfora”, mas já tinha atacado antes

Visualizar notícia

logo-oa
Assine nossa newsletter Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Inteligência Artificial
< Notícia Anterior

Gerente da Caixa é acusado de desviar R$1,1 milhão de reais no RS

17.06.2025 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Alerta do Inmet para chuvas intensas entre os dias 17 e 19, veja as regiões

17.06.2025 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Gustavo Nogy

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

A origem de 7 expressões populares

A origem de 7 expressões populares

José Inácio Pilar Visualizar notícia
Crusoé: Estudo revela 6 traços do que é ser &#039;cool&#039; - e não é só carisma

Crusoé: Estudo revela 6 traços do que é ser 'cool' - e não é só carisma

José Inácio Pilar Visualizar notícia
O realismo ambiental e tecnológico de Vaclav Smil

O realismo ambiental e tecnológico de Vaclav Smil

Gustavo Nogy Visualizar notícia
OpenAI quer reintegrar os “bad bots” à sociedade

OpenAI quer reintegrar os “bad bots” à sociedade

Gustavo Nogy Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.