O ChatGPT vai nos deixar mais burros?
Como em tudo, há prós e contras que devem ser considerados, mas uma coisa não muda: tecnologias nos dão enquanto tiram

Uma pesquisa recente do Media Lab, do MIT, indica que o uso assíduo de chatbots de inteligência artificial generativa, como o ChatGPT, tende a prejudicar o pensamento crítico e o “engajamento” cerebral.
O estudo, ainda não revisado por pares, observou que usuários da ferramenta para escrita de redações demonstraram menor atividade neural e desempenho inferior em níveis linguísticos e comportamentais, desenvolvendo uma gostosa preguicinha cognitiva.
A investigação sugere que a dependência dessas ferramentas pode levar a uma diminuição da profundidade do processamento cognitivo ao longo do tempo.
Um pouco mais da pesquisa
A pesquisa envolveu 54 participantes, com idades entre 18 e 38 anos, divididos em grupos distintos. O grupo que utilizou o ChatGPT para elaborar redações exibiu menor conectividade cerebral, produzindo textos descritos como “sem alma” e carentes de originalidade por professores de inglês.
Quando solicitados a reescrever seus próprios textos sem o auxílio da IA, demonstraram fraca ativação de ondas cerebrais associadas ao processamento profundo da memória, lembrando muito pouco do conteúdo original.
Não é (ou não deveria ser) surpresa. Ferramentas nos dão alguma coisa quase na mesma proporção em que nos tiram outras. Se, a partir de agora, crianças e adolescentes recorrerem aos chatbots para escrita de textos, a tendência é que, com o tempo, ficará mais difícil pra gente mobilizar os bilhões de neurônios necessários para leitura e escrita.
Já na Grécia, houve quem lamentasse a substituição da palavra oral pela escrita. Socrates acreditava que perderíamos a capacidade de memorizar, organizar e defender argumentos, se abusássemos do recurso ao texto “estabilizado”.
E quem nunca (eu, por exemplo) percebeu que estava se esquecendo da ortografia de certas palavras, de tanto usar o processador de textos (e mal perceber quando ele nos corrige)? Ou que já não se vira sozinho pra fazer cálculos simples, ou desejos triviais, sem os softwares adequados?
Voltando aos resultados preliminares do estudo, em contraste, o grupo que trabalhou apenas com suas próprias capacidades mentais (“brain-only”) mostrou níveis mais altos de atividade neural, especialmente em bandas de ondas alfa, teta e delta, ligadas à criatividade, à memória e ao processamento semântico, além de maior satisfação com seus trabalhos. Um terceiro grupo, que utilizou o Google Search como apoio, também reportou alta satisfação e função cerebral ativa.
Implicações e alertas para o futuro
A principal autora do estudo, Nataliya Kosmyna, e sua equipe, ficaram preocupados com o impacto da inteligência artificial generativa no desenvolvimento cognitivo de jovens. Segundo Kosmyna, é fundamental educar sobre o uso correto dessas ferramentas, e promover o desenvolvimento cerebral de forma mais “analógica”. Ela reitera a urgência de uma legislação ativa (que mania de tudo ser transformado em lei!) e a necessidade de testar essas ferramentas antes de implementá-las amplamente.
Curiosamente, a pesquisa sugere um potencial positivo: o grupo “brain-only”, que posteriormente utilizou o ChatGPT para reescrever uma redação, demonstrou um aumento significativo na conectividade cerebral, indicando que, se usada corretamente, a IA pode aprimorar o aprendizado. A equipe de Kosmyna optou por divulgar os resultados antecipadamente, dada a urgência da questão e o longo processo de revisão por pares.
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