O autoconceito moral em crianças e a sociabilidade

16.07.2025

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O autoconceito moral em crianças e a sociabilidade

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Gustavo Nogy
4 minutos de leitura 17.06.2025 18:15 comentários
Cultura

O autoconceito moral em crianças e a sociabilidade

Pesquisa longitudinal revela conexão entre a autoimagem moral e as competências socioemocionais na transição para a escola primária

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Gustavo Nogy
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O autoconceito moral em crianças e a sociabilidade

Uma pesquisa longitudinal (que acompanha grupos de indivíduos ao longo do tempo) publicada na revista Cognition & Emotion indica que a forma como as crianças se percebem em termos morais tem um impacto significativo em suas habilidades sociais e emocionais, e essa influência opera em mão dupla.

O estudo, que acompanhou 500 crianças no sul da Alemanha, destaca a sinergia de desenvolvimento entre o autoconceito moral (ACM) e as competências socioemocionais (CSE), especialmente durante o período crítico de transição do jardim de infância para o ensino fundamental.

As descobertas são importantes para entender como esses aspectos se fortalecem mutuamente na primeira infância, e como podem ser positivamente reforçados ou corrigidos, já que sugere uma correlação importante entre o modo como o indivíduo se vê e o modo como vê a sociedade em torno, ou seja, o equilíbrio entre a autoestima moral e a estima moral pelo próximo.

A dinâmica da moralidade e da emoção na infância

As competências socioemocionais, que englobam a regulação emocional, a empatia e o comportamento pró-social, são essenciais para o funcionamento social e o desenvolvimento psicológico bem-sucedido das crianças. Paralelamente, o autoconceito moral refere-se à visão que as crianças têm de si mesmas quanto a traços e ações consideradas morais.

Segundo Tina Schiele e seus colegas, autores do estudo, investigações anteriores já apontavam uma associação entre um ACM robusto e maior comportamento pró-social e regulação emocional. Contudo, a dinâmica de como esses dois construtos se influenciam ao longo do tempo era menos compreendida.

A pesquisa abordou essa lacuna, testando modelos teóricos que divergem sobre a origem e a influência do ACM. O estudo revelou que, embora o ACM e as CSE demonstrem considerável estabilidade ao longo de dois anos, uma correlação mais forte e significativa entre eles surgiu após a entrada das crianças na escola primária.

Notavelmente, os achados sustentaram um modelo bidirecional: um autoconceito moral forte no último ano do jardim de infância previu maior competência socioemocional nos primeiros meses do primeiro ano escolar. Reciprocamente, crianças que exibiram habilidades socioemocionais mais desenvolvidas no primeiro ano foram mais propensas a relatar um autoconceito moral elevado até o final daquele ano letivo. Esse padrão reforça a ideia de que a identidade moral e as capacidades socioemocionais se retroalimentam com o tempo.

Metodologia e nuances dos resultados

Para a realização do estudo, os pesquisadores acompanharam as crianças por dois anos, do penúltimo ano do jardim de infância ao fim do primeiro ano do ensino fundamental. A avaliação do autoconceito moral dos indivíduos foi feita por meio de autoavaliações baseadas em imagens, que evoluíram para escalas do tipo Likert conforme elas cresciam. As competências socioemocionais foram avaliadas por meio de listas de verificação comportamentais preenchidas pelos professores. Os dados também incluíram informações sobre o status socioeconômico familiar.

Em relação às nuances dos resultados, observou-se que as meninas consistentemente obtiveram classificações mais altas de CSE por parte dos professores e relataram um ACM mais elevado em alguns momentos. Curiosamente, crianças de contextos socioeconômicos mais baixos ocasionalmente reportaram autoconceitos morais mais altos do que seus pares de status mais elevado, embora fossem avaliadas menos favoravelmente em CSE pelos professores.

Essas diferenças, contudo, não foram uniformes ao longo de todo o período do estudo e devem ser interpretadas com cautela, conforme ressalta o artigo. O estudo enfrentou um desafio significativo devido a uma alta proporção de dados de professores ausentes, cerca de 46%, o que pode limitar a precisão dos resultados, apesar do uso de técnicas robustas para imputação de dados.

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