Frederick Forsyth, mestre do suspense e espião, morre aos 86 anos
O britânico é autor de ‘O Dia do Chacal’ e de thrillers meticulosamente pesquisados, que venderam milhões de cópias em todo o mundo e definiram o suspense moderno

Faleceu nesta segunda-feira Frederick Forsyth, autor britânico que redefiniu o gênero de suspense moderno, famoso por O Dia do Chacal. Seu agente, Jonathan Lloyd, lamentou a perda de “um dos maiores escritores de suspense do mundo”.
A editora de Forsyth, Bill Scott-Kerr, destacou que os livros do autor “definem o gênero e ainda são a referência para a qual os escritores contemporâneos aspiram”, deixando um “legado incomparável”. Forsyth publicou mais de 25 livros, que venderam aproximadamente 75 milhões de cópias no mundo todo.
Sua obra, marcada por detalhes técnicos intrincados e trama ágil, frequentemente se baseava em sua própria – e nada trivial – vida: ele foi piloto de caça, jornalista e espião.
Uma vida que daria um livro. Ou muitos
Nascido em Kent, Inglaterra, em 1938, a trajetória de Frederick McCarthy Forsyth foi tão repleta de aventuras quanto as narrativas que criava. Desde cedo, encontrou refúgio em histórias de aventura, influenciado por autores como John Buchan e Ernest Hemingway. Aos 17 anos, sua fascinação pela tauromaquia (arte de tourear) o levou à Espanha. Pouco depois, mentiu sua idade para ingressar na Força Aérea Real (RAF) e realizar o sonho de voar jatos Vampire. Aproveitou a experiência para uma carreira de sucesso também no jornalismo.
Forsyth trabalhou como jornalista local no Eastern Daily Press, antes de se mudar para a agência de notícias Reuters, em 1961. Fluente em francês, alemão, espanhol e russo, acabou se tornando correspondente estrangeiro. Durante sua passagem por Paris, cobriu as tentativas de assassinato contra o então presidente francês Charles de Gaulle, por membros da Organização do Exército Secreto (OAS). Essa experiência seria fundamental para sua obra de estreia.
Mais tarde, juntou-se à BBC, e foi enviado para cobrir a Guerra Civil da Nigéria. Desiludido com o que julgou “gerenciamento de notícias”, deixou a prestigiosa emissora para cobrir o conflito como freelancer, resultando no livro The Biafra Story. Segundo seu relato, foi durante esse período na Nigéria que ele começou a colaborar com o serviço de inteligência britânico MI6, uma relação que perduraria por duas décadas. Suas interações com mercenários, que lhe ensinaram truques como obter passaportes falsos, também alimentariam seus futuros romances.
Mestre do suspense e legado literário
A transição para a ficção veio da mais prosaica necessidade, conforme ele mesmo confessou: estava “sem dinheiro, endividado, sem apartamento, sem carro, sem nada” e buscou uma saída escrevendo um romance.
O resultado foi The Day of the Jackal (O Dia do Chacal), publicado em 1971. Escrito em apenas 35 dias, em seu apartamento, a trama sobre um assassino profissional contratado para matar Charles de Gaulle foi inicialmente rejeitada por vários editores.
Seu realismo, que incluía métodos factíveis de falsificação de passaporte, e a forma como mesclava fatos e ficção, misturando nomes de indivíduos a eventos reais, conquistou os leitores. Descrito uma vez como um “manual de assassino”, o livro foi um sucesso estrondoso no Reino Unido e nos EUA, e foi adaptado para um filme premiado em 1973, do diretor Fred Zinnemann, e uma adaptação para televisão lançada no ano passado, com Eddie Redmayne como protagonista.
Forsyth seguiu com The Odessa File (Dossiê Odessa), em 1972, uma história sobre a caça a um criminoso de guerra nazista. Para sua pesquisa, Forsyth chegou a se infiltrar disfarçado de traficante de armas na Alemanha, uma experiência que quase o expôs. O livro foi adaptado para o cinema e levou à identificação do verdadeiro “Açougueiro de Riga”, que vivia na Argentina.
Sua terceira novela, The Dogs of War (Cães de Guerra), publicada em 1974, inspirou-se diretamente em sua própria tentativa de organizar um golpe na Guiné Equatorial em 1972, para a qual, segundo relatos, ele investiu uma quantia considerável.
Outros best-sellers incluem The Fourth Protocol (O Quarto Protocolo), que tratava de uma conspiração soviética para influenciar uma eleição britânica. A precisão e o nível de detalhe em sua pesquisa frequentemente constrangiam as autoridades, que se viam forçadas a admitir o uso de táticas obscuras que ele revelava em suas tramas.
O fim da maior aventura
Forsyth ignorou computadores e se manteve fiel à sua máquina de escrever até o fim. Consta que não usava a internet para pesquisas. Preferia confiar em suas fontes e em seu instinto jornalístico (que, segundo ele, “nunca morre”). Embora tenha reduzido o ritmo após os 70 anos, Forsyth saiu de uma “aposentadoria autoimposta” após a morte de sua segunda esposa, em 2024, anunciando que estava trabalhando em outra aventura. A vida e a obra de Frederick Forsyth demonstram uma rara fusão de experiência real e imaginação, consolidando seu lugar como um titã da literatura de suspense. Ele foi nomeado Comandante da Ordem do Império Britânico (CBE) em 1997 por seus serviços à literatura.
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Comentários (1)
GERALDO CARVALHO
09.06.2025 16:45O melhor contador de histórias do mundo, li todos os seus livros, alguns mais de uma vez, perda irreparável para quem gosta de uma boa história. Um monstro imortal de literatura, que descanse em paz.