As concepções de ‘honra’ podem influenciar a… vacinação?
Pesquisa mostra alguns aspectos de como o conceito de “honra” muda conforme as culturas e influencia as decisões sobre tomar vacinas

Uma pesquisa publicada na revista Current Research in Ecological and Social Psychology, capta um inesperado fator cultural na decisão de se vacinar contra a gripe: a “cultura da honra”.
Liderado por Stephen Foster e Pelin Gül, o estudo demonstra que, enquanto nos Estados Unidos a identificação com valores de honra pode levar à diminuição da procura pela vacina, na Turquia o efeito é o inverso, incentivando a vacinação.
Essa diferença crucial reside na forma como a honra é interpretada e expressa em cada sociedade, seja como força individual ou como responsabilidade coletiva. A vacinação contra a gripe é amplamente recomendada e fundamental para prevenir doenças graves e mortes, especialmente em populações vulneráveis.
A percepção de invulnerabilidade nos EUA
Nos Estados Unidos, onde a cultura da honra frequentemente se manifesta através da autossuficiência e da exibição de força e resiliência, a pesquisa identificou uma ligação entre a adesão a esses valores e uma menor propensão a se vacinar contra a gripe.
Indivíduos que se identificam fortemente com a ideia de honra tendem a acreditar que são invulneráveis a doenças, o que por sua vez, está associado a taxas mais baixas de vacinação. Essa crença de invencibilidade pessoal, muitas vezes enraizada na crença de ter um sistema imunológico forte ou um estilo de vida saudável, pode levar à percepção de que a vacina é desnecessária (quando não prejudicial).
O estudo, que incluiu 965 estudantes universitários de uma região do sul dos EUA, historicamente associada a valores de honra, confirmou que a endosso de tais valores levava a uma menor vacinação, mediada pela percepção de invulnerabilidade. Além disso, uma análise de dados estaduais nos EUA, referentes a 2021-2022, revelou que regiões com maior endosso à cultura da honra (tipicamente estados do sul e oeste) apresentavam taxas de vacinação significativamente mais baixas e uma taxa moderadamente mais alta de mortalidade relacionada à gripe. De acordo com Stephen Foster, professor associado da Penn State York, o vínculo entre a hesitação em se vacinar e os resultados de mortalidade foi um achado que o surpreendeu.
A honra como proteção familiar na Turquia
Em contraste marcante com os Estados Unidos, a pesquisa revelou um padrão oposto na Turquia. No país, onde a honra está mais conectada a obrigações de grupo e à proteção familiar, tais valores foram associados a uma maior probabilidade de vacinação contra a gripe.
Ainda que os participantes turcos, assim como os americanos, também apresentassem uma ligação entre o endosso da honra e a sensação de invulnerabilidade à gripe, essa percepção não resultou em menor adesão à vacina. Pelo contrário, a vacinação pode ser vista como uma ação responsável e honrosa para salvaguardar a família e o bem-estar coletivo.
Essa distinção cultural tem implicações significativas para as estratégias de saúde pública. Em regiões onde a honra é ligada à autossuficiência individual, as mensagens de saúde poderiam ser mais eficazes se focassem na vacinação como uma forma de proteger os outros ou como um ato de responsabilidade comunitária e lealdade familiar, em vez de focar apenas na saúde pessoal. Muitas vezes, a maneira de comunicar é tão importante quanto o que se comunica.
Os autores ressaltam, no entanto, que o estudo é transversal e não estabelece causalidade direta, e que a percepção de invulnerabilidade pode ser tanto uma crença genuína quanto um desejo de autopresentação. O objetivo final da pesquisa é usar essas informações para desenvolver programas de intervenção direcionados às crenças relacionadas à honra, visando aumentar a adesão à vacinação globalmente.
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