A história do mais comovente discurso de Steve Jobs
Materiais revelam como uma palestra que seria como outra qualquer aos formandos de Stanford se transformou em um manifesto inesquecível

Em 12 de junho de 2005, o então CEO da Apple, Steve Jobs, subiu ao púlpito da Universidade de Stanford para proferir um discurso de formatura que seu autor descreveria como “constrangedor”, mas que se tornaria um dos mais impactantes e assistidos de todos os tempos.
Aclamado por mais de 120 milhões de espectadores e citado até hoje, o célebre apelo “Mantenham-se famintos, mantenham-se tolos” (“Stay hungry, stay foolish”), cristalizou a mensagem de vida radicalmente autêntica e perseverante que hoje associamos, para o bem e para o mal, ao fundador da Apple.
O curioso é que a trajetória para essa palestra foi feita com relutância, muita ansiedade e alguma ajudinha (não devidamente reconhecida). Coisas de Jobs.
Os bastidores de uma obra-prima acidental
Segundo Steven Levy, autor do artigo “How Steve Jobs Wrote the Greatest Commencement Speech Ever”, o visionário da tecnologia passou meses em 2005 debatendo o conteúdo de sua fala. Sua hesitação era palpável; em um e-mail para seu amigo Michael Hawley, ele descreveu o rascunho inicial como “embaraçoso”, afirmando que não era “bom nesse tipo de discurso”.
Jobs, que não costumava falar da própria vida, menos ainda sobre temas sensíveis como sua adoção, sua demissão da Apple em 1985 e os detalhes de sua batalha contra o câncer, relutava em abordar esses assuntos publicamente. Ele já tinha recusado inúmeros convites para discursar, aceitando o de Stanford em parte por sua proximidade com sua casa e uma breve fase de otimismo sobre sua recuperação de saúde, em parte pela (frustrada) crença de que receberia um título honorário.
Apesar de seu domínio quase matemático em apresentações de produtos, Jobs dizia-se “perdido” na hora de fazer um discurso de formatura. Ele chegou a considerar (e, graças a Deus!, desistiu) a ideia de dar conselhos nutricionais ou doar uma bolsa de estudos, e procurou a ajuda do roteirista Aaron Sorkin – sem sucesso.
A ajuda veio mesmo de seu amigo Michael Hawley, polímata associado ao MIT Media Lab, que o incentivou a tornar a fala pessoal. Hawley, uma figura não mencionada em biografias importantes, foi fundamental para moldar o encerramento com a icônica frase do Whole earth catalog, enfatizando a necessidade de um gancho impactante.
A colaboração culminou em uma intensa sessão de escrita com sua esposa, Laurene, e ensaios exaustivos. A (quase insuportável) a nsiedade de Jobs persistiu até o dia do evento. A minutos de sua chegada, ele ainda ponderava desistir, dizendo aos co-presidentes de sua turma que não tinha “piadas” para contar e que as coisas não iam funcionar direito. Mas funcionaram.
Do ceticismo à imortalidade
No dia do discurso, em meio ao calor escaldante e a uma audiência animada, mas um tanto dispersa, Jobs, vestido com jeans e calçando sandálias – incomum para a formalidade da ocasião, comum para a frugalidade sua estética –, leu sua fala a partir de folhas impressas, uma postura diferente de suas palestras habituais sem anotações.
A recepção começou modesta. Steven Levy comenta que a plateia “escutava educadamente”, mas muitos estavam distraídos pelo calor ou pela ressaca da festa na noite anterior. O próprio Jobs não estava convencido do sucesso, aliviado apenas por ter terminado.
O verdadeiro impacto do discurso, porém, se manifestou aos poucos. Publicado no site de Stanford, antes ainda da era das redes sociais, a fala “viralizou em câmera lenta”, ganhando reconhecimento por sua honestidade.
Seis anos depois, em 2011, a morte de Steve Jobs deu uma nova e profunda camada de significado às suas palavras, especialmente as que abordavam sua doença e a finitude da vida. Sua mensagem sobre viver com propósito e paixão ecoou no mundo todo, transcendendo o universo da tecnologia. O discurso que seria constrangedor se tornou memorável. Quase sem querer.
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Comentários (1)
ANDRE MAGRISSO
20.06.2025 19:15Discurso inspirador. Fantástico. Eu queria ter estado em Stanford para ser testemunha da história