OCDE, acordo de livre comércio e meio ambiente
Após um início conturbado em decorrência da prisão de um militar na Espanha, o Brasil saiu da reunião de cúpula com muito a comemorar. Nesta edição, O Comentarista explica como se deu a primeira participação de Jair Bolsonaro nos encontros do G20.
Pedras no caminho
Um sargento da aeronáutica foi preso com 39 quilos de cocaína na Espanha. Manoel Silva Rodrigues integrava a tripulação que assumiria o voo do avião reserva da comitiva na volta ao Brasil. O episódio repercutiu mal na imprensa de todo o mundo. Hamilton Mourão, que presidia o Brasil interinamente, definiu o traficante como “mula qualificada“.É óbvio que, pela quantidade de droga que o cara estava levando, ele não comprou na esquina, né? Ele estava trabalhando como mula. Uma mula qualificada, vamos colocar assim. Hamilton MourãoO general Heleno não escondeu o desconforto com as manchetes e classificou o incidente como “falta de sorte“.
Foi uma falta de sorte acontecer exatamente na hora de um evento mundial e acaba tendo repercussão que poderia não ter tido. Foi, realmente, um fato muito desagradável. General Augusto HelenoDiferente do que chegou a circular nas redes sociais, a segurança do voo do sargento não estava aos cuidados do Gabinete de Segurança Institucional comandado por Heleno, mas da própria Força Aérea Brasileira. Bolsonaro prometeu que a “mula qualificada” pagaria “um preço alto” pelo que fez. E lamentou que a prisão não tenha ocorrido na Indonésia, onde o tráfico de drogas recebe pena de morte.
Aquele elemento ali traiu a confiança dos demais. Traiu a confiança, sim. Olha, pena que não foi na Indonésia. Eu queria que tivesse sido na Indonésia, tá ok? Ele ia ter o destino que o Archer teve no passado. Jair Bolsonaro
Estados Unidos
Uma segunda “distração” nasceu de transmissão ao vivo feita por Bolsonaro direto de Osaka. No que voltou a enaltecer o nióbio, tema que ganhara contornos folclóricos ainda na pré-campanha presidencial, uma leva de piadas tomou a internet. O jogo começou a virar quando Donal Trump teceu elogios ao aliado brasileiro.Ele é um homem especial, está fazendo muito bem, é muito querido pelo povo brasileiro. Donald Trump
A entrada na OCDE foi a grande pauta do encontro. O presidente americano prometeu visitar o Brasil. Não há data confirmada, mas deve ocorrer ainda em 2019. Nas redes sociais, a Casa Branca registrou o apoio às reformas da gestão Bolsonaro, e à luta contra a ditadura venezuelana.President @realDonaldTrump meets with President Jair Bolsonaro of Brazil: pic.twitter.com/RtCP7iSHvo
— The White House (@WhiteHouse) June 28, 2019
– União Europeia Alemanha e França chegaram ao encontro com duras críticas à forma como o governo Bolsonaro trata o meio ambiente. Emmanuel Macron disse que não teria como a União Europeia assinar qualquer acordo comercial com o Mercosul caso o Brasil abandonasse o acordo climático de Paris.Earlier today, President @realDonaldTrump met with President @jairbolsonaro of Brazil. President Trump supports President Bolsonaro’s economic reform agenda, and they stand with the people of Venezuela as they reclaim their democracy and their freedom.
— The White House (@WhiteHouse) June 28, 2019
Se o Brasil deixar o Acordo de Paris, até onde nos diz respeito, não poderemos assinar o acordo comercial com eles. Emmanuel Macron, presidente da FrançaMas Bolsonaro não aceitou as críticas, rebatendo principalmente a postura alemã.
Nós temos exemplo para dar para a Alemanha sobre meio ambiente, a indústria deles continua sendo fóssil, em grande parte de carvão e a nossa não. Então eles têm a aprender muito conosco. Jair BolsonaroHeleno foi ainda mais duro com os críticos.
Vão procurar a sua turma! General Augusto HelenoApós uma trapalhada na agenda, Bolsonaro e Macron finalmente conversaram. Nos vinte minutos do encontro bilateral, discutiram o acordo multilateral entre Mercosul e União Europeia. A confirmação da permanência do Brasil no Acordo de Paris veio por nota oficial assinada pelos presidentes do BRICS. Horas depois, em Bruxelas, o acordo de livre comércio que vinha sendo discutido desde 1999 foi firmado. Segundo Macron, o apoio de Bolsonaro à luta pela biodiversidade foi crucial para a assinatura.
A verdadeira mudança na fase final de negociação foi a afirmação clara pela qual o Brasil se comprometeu com o Acordo de Paris e com a luta pela biodiversidade. Emmanuel Macron, presidente da FrançaConforme apontou O Antagonista, o sucesso da negociação desagradou agricultores da Europa e ONGs estrangeiras que defendem o meio ambiente. Segundo Bolsonaro, Angela Merkel “arregalou os olhos” quando o brasileiro reclamou de uma “psicose ambientalista” contra o Brasil.
Eu falei para ela da “psicose ambientalista” que existe para conosco. (…) Não é porque eles destruíram as matas deles que vamos destruir as nossas. Convidei a Merkel a explorar de forma sustentável nossa Amazônia, ela arregalou os olhos também. Jair BolsonaroNa última edição, O Comentarista delineou a importância do acordo para os signatários. A leitura pode ser feita clicando AQUI. – Oriente Médio e China A conversa de Bolsonaro com Mohammad bin Salman, Príncipe da Arábia Saudita, teve por objetivo atrair investimentos do Oriente Médio ao Brasil.
A China, contudo, vivia um momento conturbado. Manifestantes cobravam que o encontro do G20 discutisse protestos que, em Hong Kong, lutavam contra a extradição de dissidentes e críticos do regime. Mas o ministro assistente de Relações Exteriores chinês alertou que não permitiria o tema ser pautado. No último dia, um encontro bilateral agendado com Xi Jinping foi cancelado por Bolsonaro após vinte minutos de atraso do presidente da China. Com o cronograma apertado, o brasileiro precisou dar continuidade aos procedimentos para a longa viagem de retorno ao Brasil.Firme em minha determinação de trazer investimentos para nosso país, conversei com o Príncipe Mohammad bin Salman da Arábia Saudita, maior economia do mundo árabe, sobre oportunidades de investimento no Brasil. Estamos adotando uma posição muito mais equilibrada no Oriente Médio. pic.twitter.com/vEtWGRUFvp
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) June 29, 2019
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