Economia em risco
O próprio presidente reconhece que a situação não está boa.
Mesmo após a criação de 32 mil empregos com carteira assinada, Jair Bolsonaro reconheceu que a economia do Brasil não vai bem. O presidente até celebrou o saldo positivo, mas o mercado esperava pelo menos 70 mil novos postos formais.
É necessário driblar algumas armadilhas para se chegar à mesma constatação de Bolsonaro. Porque há o que se comemorar nas manchetes.
Para o mês de maio, por exemplo, a inflação atingiu o menor índice em treze anos. No mesmo período, a produção de veículos cresceu 30% em relação ao ano anterior, e a Receita Federal atingiu a melhor arrecadação em cinco anos.
No segundo bimestre de 2019, a produção industrial registrou alta em dois terços das regiões pesquisadas pelo IBGE. E a cotação do dólar, que superou os R$ 4,00 com algum folga, tem em R$ 3,80 um novo patamar, com o Ibovespa rotineiramente acima dos cem mil pontos.
– Devagar com o andor
Mas o santo é de barro. Alguns dados recentes eram falso-positivos decorrentes da greve dos caminhoneiros de 2018 – é o caso do aumento da produção de veículos.
Em abril, a produção industrial como um todo caiu 3,9% em relação ao ano anterior. A produção de petróleo e gás da Petrobras caiu 0,6% também em relação a abril de 2018, queda idêntica à das vendas do comércio varejista, o pior resultado em 5 anos.
O setor de serviços encolheu 0,7% no mesmo período. E as contas do governo tiveram o pior resultado em 21 anos.
De janeiro a maio de 2018, a caderneta de poupança havia acumulado um saldo positivo de R$ 1,71 bilhão. Um ano depois, o mesmo período observou um saldo negativo de R$ 16,9 bilhões.
Só em maio, o deficit do “governo central”, cálculo que inclui Tesouro, Banco Central e Previdência, atingiu R$ 14,7 bilhões, uma piora de 27% em relação a maio de 2018.
Completando o quadro que demanda preocupação, por volta de 3,3 milhões de brasileiros estão desempregados há mais de dois anos. De 2015 para cá, esse grupo cresceu 42%.
– Pibinho
O Boletim Focus, que abriu o ano antevendo o crescimento de 2,53% do PIB brasileiro, após 17 semanas seguidas de revisões negativas, reduziu a expectativa a 0,87%.
Revisões para baixo também foram feitas pelo Banco Mundial (de 2,2% para 1,5%), FGV (0,57%), Bradesco (de 2,5% para 0,8%) e o próprio Banco Central (de 2% para 0,8%).
Em comparação com 2018, a atividade econômica recuou 0,62% em abril. No primeiro trimestre de 2019, o PIB brasileiro encolheu 0,2%.
– Questão de sobrevivência
Bolsonaro compreende que a saúde econômica é vital para o governo.
Não existe governo bom com economia ruim. Pode botar um santo como presidente, governador ou prefeito. Se a economia for mal, ele vai ser defenestrado de lá. Jair Bolsonaro, em 29 de maio de 2019Dias antes, uma pesquisa encomendada pela XP alertava que crescia de 3% para 10% a fatia da população que responsabiliza o governo Bolsonaro pela atual situação econômica. E essa visão tende a crescer à medida em que o mandato amadurece. Contudo, o primeiro ano, conforme constatou O Antagonista após tantas revisões negativas do PIB, já foi desperdiçado. A aprovação da reforma da Previdência há de ser um primeiro passo para reverter a situação. Mas o clima favorável das últimas semanas deu vez a uma série de conflitos entre legislativo e executivo. O Brasil não pode se dar ao luxo de esperar. Mas Brasília não pensa assim.
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